quarta-feira, janeiro 04, 2006

TELHADOS DE VIDRO

A revista Atlântico (porque será que só a direita consegue publicar revistas minimamente interessantes? - porque tem dinheiro para as financiar e a esquerda não?) publicou no último número (10) uma reportagem de Leonardo Ralha, que fez capa, sobre astrologia. Entre as chamadas personalidades ouvidas pelo repórter - Maya e Paulo Cardoso, entre os astrólogos, e uns anónimos - estava o psiquiatra e psicanalista Carlos Amaral Dias como representante da Razão e da Ciência. Não pretendo defender "astrólogos e trabalhadores similares" (assim são considerados como categoria profissional), mas tenho que registar a indignação de Amaral Dias. O psicanalista afirma que "na religião existia a excomunhão para quem não a praticava de acordo com as leis da Igreja. Em Ciência também devia haver uma excomunhão para todos aqueles que compactuam com tudo aquilo que não é científico. Excomunhão, já! Não se pode continuar a compactuar com a deficiência de saber". Destas afirmações do psicanalista infere-se que Carlos Amaral Dias coloca os astrólogos e trabalhadores similares no seu grupo profissional, o dos "psis". Senão porque razão excomungá-los em nome da Ciência? Porque lhes roubam clientela? É necessário puxar pela memória para lembrar que Amaral Dias, o psicanalista português com mais obra publicada, participou na TSF em programas onde respondia, na qualidade de psicanalista, às questões dos ouvintes tal como o faz (ou fazia) a bruxa do computador, Cristina Candeias, na Praça da Alegria da RTP 1. A existência de consultórios em programas de televisão ou rádio sobre assuntos psi, médicos ou júridicos é habitual em todo o mundo, mas não deixa de ser questionável. Será uma prática científica - sendo que, apesar de tudo, Amaral Dias considera o seu trabalho como psicanalista científico - fazer em 3 ou 4 minutos aconselhamento num meio de comunicação social? Não se trata antes de um "show" onde quem se mostra como estrela (especialista) do zodíaco ou do divã ganha os seus x minutos de fama?

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