quinta-feira, novembro 08, 2007

ROBERT WALSER


O URSO


Quão diferente é o urso. Em rigor, bonito não é. É antes um pouco estranho nos seus movimentos bamboleantes, ágil e encorpado, e não se sabe ao certo como o interpertar. Se ele pretende estender a pata, dás, involuntáriamente, um passo atrás. Não te apercebes de que, com a tua demonstração de medo, poderias tê-lo ofendido. Um urso tem o seu amor-próprio. Esta noite sonhei com um urso. Essa visão patusca fez que me sentisse também todo peludo. Senti compaixão, quando ele estendeu o braço para uma rapariga, ela a personificação da delicadeza e ele assim tosco, nem sequer penteado - bem podia ter esse cuidado... «Deixa-me em paz!», disse ela, e ele foi-se embora empertigado e, como se fosse uma pessoa que tivesse percebido bem o recado, enfiou-se na cama e puxou o cobertor para se tapar.


Robert Walser, A Rosa, Relógio d' Água, Trad. Leopoldina Almeida, 2004, p.29.

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