segunda-feira, abril 28, 2008

MERIDITH MONK


Meridith Monk esteve no passado sábado em Lisboa, onde deu um concerto. Aqui fica um excerto do seu "grito" e outro excerto da crítica de João Bonifácio no Público de hoje.
O trabalho de Meredith Monk centra-se essencialmente no significado primordial da linguagem. Se antes de os homens "aprenderem" uma linguagem falada comunicavam por sons (que serviam de aviso, chamada, etc.), Monk faz numa "canção" o caminho oposto: parte de uma palavra para chegar a um som. Pega numa palavra, divide-a silabicamente, repete um fonema e torce-o e retorce-o em termos de amplitude vocal e extensão, tornando-a dúctil, como se se tratasse de uma criança a experimentar palavras, ainda antes de perceber que uma palavra é uma representação e que por baixo de uma palavra há uma emoção.

quarta-feira, abril 16, 2008

AS MULHERES E O PODER


Aristófanes, dramaturgo grego, escreveu uma comédia intitulada Lisístrata (411 a. C.) onde as mulheres fazem greve de sexo para que os maridos ponham fim à Guerra do Peloponeso. Quase dois mil e quinhentos anos depois as mulheres têm acesso à instituição militar; podem servir a pátria em combate, lado a lado com os homens. Para muitas (os) trata-se de algo de bom: o reconhecimento de uma igualdade de género. Mas a guerra é algo de mau.
Em Espanha, o novo governo de Zapatero tem como ministra da defesa uma mulher, Carme Chacón, professora de direito constitucional. Por cá, Sócrates nunca pensaria em dar a pasta da defesa a uma mulher, e no entanto o PS tem uma especialista em defesa, Maria Carrilho.
A questão pode ser colocada nestes termos: é possível que ao conquistar o poder as mulheres o transformem em algo diferente, para melhor, em relação ao que é o poder exercido pelos homens? Creio que a resposta é negativa, não só pelos exemplos – Margareth Thatcher, Condoleezza Rice – mas porque o poder (político, económico) é em si algo de negativo, algo que visa submeter o outro.

quinta-feira, abril 03, 2008

Ana Paula Inácio


Este poema tem como hipotexto
o Florbela Espanca espanca de Adília Lopes
e o Livro de Mágoas da Florbela
não me interessa quanto valem
na cotação da bolsa literária -
ainda não gozei nenhuma e
bolsa que me interesse
só mesmo a do canguru
mas tu não és minha mãe
nem meu pai, ou tia, ou
irmão, pseudo-Electra -
nem do seu mainstream.
Este poema é dedicado
à minha amiga Mónica
que faz ioga aos sábados de manhã,
cabeleireiro e depilação 2 vezes por mês
(cf. poema anterior)
luta contra uma auto-estima precária
mas sabe o que quer
quando lourifica o cabelo
como 43, 33 % das mulheres
com idade > 40 anos,
licenciadas,
em Portugal,
no ano de 2004:

«falar, falar, falar
a este àquele
a toda a gente
e não falar a ninguém»

«Bom dia, meu amor» ou
«Bonjour, tristesse»
como dizia Françoise Sagan
ao seu amante
trocado
por falsos versos.


Ana Paula Inácio nasceu no Porto em 1966. Publicou dois livros de poesia, As Vinhas do Meu Pai (Quasi, 2000) e Vago Pressentimento Azul por Cima (Ilhas, 2000), e um de contos, Os Invisíveis (Quasi, 2002). O poema aqui publicado faz parte do número 9 da revista Telhados de Vidro (Novembro de 2007).

terça-feira, abril 01, 2008

A MÁ EDUCAÇÃO (TECNOLÓGICA)


O episódio do telemóvel na Escola Carolina Michaelis demonstra que para que algo exista, tenha relevância mediática, são necessárias imagens. As palavras, a palavra que acompanhava a honra de um homem (ou mulher), a palavra como narrativa, perdeu todo o seu valor. Se aquela disputa por um telemóvel ente professora e aluna não fosse filmada por outro telemóvel e depois colocada no you tube, este acto de violência seria um dos muitos calados nas escolas portuguesas. Desta situação, com a sua consequente cobertura mediática, podemos tirar uma lição sobre a importância que as novas tecnologias desempenham na sociedade actual, uma sociedade em permanente conexão, onde os meios tecnológicos acabam por ser extensões do corpo dos indivíduos. Nesse sentido, este caso parece ser um case study não tanto sobre a violência escolar mas sobre a forma como funcionam hoje os média e a sua relação com a sociedade.
Quanto à situação em si, a “agressão” da aluna à professora, ela demonstra, para além da inversão de papéis, num local extremamente violento como uma escola, uma total incapacidade por parte da docente de lidar com a situação. A aluna devia ter sido expulsa da aula.