segunda-feira, junho 23, 2008

OSKAR KOKOSCHKA / ANA TERESA PEREIRA



Os quadros que Oskar Kokoschka pintou em Polperro. Um mundo em movimento, nuvens, mar, rochas, casas, barcos de pesca e uma ou duas gaivotas em primeiro plano. O meu pai tinha um álbum de Kokoschka e eu já conhecia os quadros muito antes de os descobrir nas galerias.

Os invernos eram longos e eu passava-os a folhear álbuns de pintura, a ler livros policiais, a desenhar, a ouvir os pescadores contarem histórias de piratas. E a pensar em Lizzie.

(imagem de Oskar Kokoschka, Polperro II; texto de Ana Teresa Pereira, do seu último livro, O Fim de Lizzie, ed. Biblioteca de Editores Independentes, nº 34, 2008, p. 133)

quarta-feira, junho 18, 2008

E NÃO SE PODE DISSOLVER O POVO?



Os irlandeses, em referendo, na passada sexta-feira, votaram contra o Tratado de Lisboa. O referendo ao Tratado de Lisboa apenas se realizou na Irlanda porque a constituição irlandesa assim o obriga: nos restantes 26 países da União Europeia o Tratado tem sido – e deverá continuar a ser – rectificado pelos parlamentos de cada país. A questão que este não dos irlandeses coloca perante a “construção europeia” relaciona-se com a democraticidade dessa mesma construção. Senão vejamos: toda a construção do que é hoje a União Europeia tem sido feita à revelia dos cidadãos (o caso português é um bom exemplo: desde a adesão à então CEE, até este Tratado, aprovado pelo parlamento português, passando pela entrada no euro, nunca os portugueses foram ouvidos em referendo). Os políticos europeus e os eurocratas de Bruxelas desprezam e/ou temem o povo da Europa. No fundo desprezam a democracia, acham-se uma oligarquia de iluminados. Mas, paradoxo, a Europa não é um resultado da democracia e do fim da segunda guerra mundial? Não é, embora imperfeita, a democracia o melhor dos regimes? Para os políticos europeus, eleitos democraticamente, e perante as reacções ao resultado do referendo irlandês – como perante as atitudes anteriores do processo de construção europeia –, parece que eles desdenham da democracia. E, continuação do paradoxo, não foram eles eleitos democraticamente? Talvez por isso se achem no poder de um mandato que os faz ignorar a vontade popular – e de facto faz, durante os quatro anos de duração desse mandato.