domingo, novembro 07, 2010

GASTÃO CRUZ


JOVENS À PORTA DO CHIADO


Vêem-se ao telemóvel como ao espelho
nos nomes e nos números buscando
o lodo morno dum profundo poço

O seu mundo está preso àquele fio
de presente irreal que não explica
o facto de ser a pele a pele ainda

Tudo fica no raio do olhar
brevemente fictício a vida reduzindo
ao enredo menor das chamas perdidas

das mensagens que vindas ou não vindas
fazem tremer do dia o edifício
Disso vivem fingindo que se vêem

a si somente enquanto o mundo escorre
com a rapidez do dia para o poço

Gastão Cruz, Escarpas, Assírio & Alvim, 2010, p.39.

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