quarta-feira, agosto 31, 2011

JOÃO URBANO





Introduziu, no regresso a Lisboa, uma cassete no rádio-gravador a ver se punha no ar um som de jeito. A cassete nem ia para a frente nem para trás. Parou numa estação de serviço para reabastecer. Aquele era um lugar de passagem, um não-lugar quase desolado, apesar do brilho dos néones. Quando se fez de novo à estrada o gravador pôs-se a funcionar sem porquê e derramou tons crus de guitarra, um baixo rápido a saturar, uma batida quase desconexa e uma fina cobertura de vozes andróginas e vaporosas. Pouco depois percutia um dos temas de Closer dos Joy Division. A precipitação das batidas, um tamborilar em pequenas quedas de água, a guitarra plangente de caos e This is the way, step inside a sair das goelas ternas de Ian Curtis, tudo num estrugido demorado, em câmara lenta, o que o transportou para um estado raro de turbulência. Porra, vivia no melhor dos mundos.

João Urbano, Romance Sujo, UR, 2010, pp. 103-104

quarta-feira, agosto 10, 2011

A POLÍTICA FAZ-SE NA RUA

















Aquando das manifestações no Norte de África (Praça Tharir e outras) o Ocidente aplaudiu. Mas agora a revolta chegou a Londres e outras cidades inglesas e o PM inglês, como vários dos comentadores que apoiaram as revoltas àrabes não gostam desta revolta de "vandalos". Pode ser até que alguns sejam vandalos, mas ao ponto em que as democracias ocidentais chegaram, dominadas pela pulhice financeira, estes "Punks" (punk is not dead, pode-se dizer por estes dias) manifestam o seu nojo pelo estado em que as democracias definham. Fazer política também é isto. Ameaçar com a prisão estes "vandalos", utilizando mecanismos de vigilância dignos de um Big Brother (o de Orwell), como Cameron fez é uma atitude muito próxima de um ditador encurralado.