sábado, fevereiro 11, 2012

A PORCA ALEMANHA


1.Essa língua em que pensou Hegel e Kant, Marx, Nietzsche e Freud, Heidegger e Wittgenstein, Benjamin e Arendt, Adorno e Marcuse, Max Stirner e Fuerbach, essa língua é a mesma língua do Holocausto. Essa mesma língua em que escreveu Goethe e Holderlin, Novalis, E. T. A. Hoffmann, Musil, Herman Hesse, Thomas Mann é a língua que ordenou o extermínio, a língua que se falou no inferno sobre a terra. Essa língua dos grandes pensadores, dos grandes escritores, dos grandes compositores, língua de gramática complexa, declinações, palavras compostas, palavras intraduzíveis – heimat, stimmung, etc. Essa língua com cujos curtos sintagmas se ordenaram os mais atrozes actos por humanos praticados desde sempre é a língua alemã.

2.O mais que o cidadão comum sabe da Alemanha são os nomes das suas principais marcas comerciais: Mercedes, BMW, Volkswagem, Deutsch Bank. Mas o que ignora é o papel que estas grandes empresas tiveram no Holocausto. Ignora que durante o período nazi estas marcas de tanto prestígio utilizaram o mais aviltante e despudorado trabalho escravo: judeus que serviram de trabalho escravo e depois foram executados pelos nazis. Talvez nunca na História da humanidade algo tão atroz tenha sido feito. Mas foi precisamente na Alemanha de há cerca de 70 anos que isso foi feito. Que essas marcas comerciais, do pós-guerra até hoje, beneficiem de um estatuto de prestígio é algo incompreensível. Por muitos elogios que se façam à mecânica dos motores Mercedes ou BMW, eles estão cobertos por um manto de sangue negro. E esse sangue perpetua-se na memória das vítimas de tão ignóbeis crimes.

Por muito que elogiem a produtividade e eficácia dos trabalhadores alemães, em contraposição com os “malandros” do sul da Europa, é aos alemães actuais que corresponde a vergonha de serem os herdeiros de um povo que legitimou, democraticamente, o mais atroz regime político que se conheceu. Essa vergonha deveria ser sentida e manifestada numa altura em que a Alemanha, através da sua chanceler Angela Merkl, nada faz para salvar a Europa dos ataques de agiotagem que vem sofrendo. Antes pelo contrário: Merkl, liderando a União Europeia, sem que para isso lhe corresponda nenhum mandato dos cidadãos europeus, comporta-se como uma pequena ditadora em pacto com os obscuros interesses económicos que querem aniquilar países como a Grécia e Portugal.

Perante o que se está a passar em alguns países da Europa, é altura que os povos europeus se manifestem, que exijam de quem tem poder para tal uma solução política. Ora, no actual quadro político e económico essa solução depende da Alemanha. É pois altura do povo alemão mostrar-se digno de um Bach, um Kant ou um Goethe e exigir do seu poder político e económico que seja solidário com países como a Grécia e Portugal. Sem essa solidariedade é toda a Europa e o seu futuro que está em causa – incluindo o da Alemanha. Sem essa solidariedade poderemos repetir a História naquilo que de mais negro ela nos deu.
Die NUT DEUTSCHLAND



1.Die Sprache des Denkens Hegel und Kant, Marx, Freud und Nietzsche, Heidegger und Wittgenstein, Benjamin und Hannah Arendt, Adorno und Marcuse, Max Stirner und Fuerbach, wird diese Sprache die gleiche Sprache des Holocaust. Das gleiche Sprache schrieb er Goethe und Hölderlin, Novalis, E. T. A. Hoffmann, Musil, Hermann Hesse, Thomas Mann ist die Sprache, die die Vernichtung, die Sprache, die in die Hölle auf Erden gesprochen wurde bestellt. Diese Sprache der großen Denker, die großen Schriftsteller der großen Komponisten, komplexe Grammatik Sprache, Tonfall, zusammengesetzte Wörter, Wörter unübersetzbar - Heimat, Stimmung, etc.. Diese Sprache mit kurzen Sätzen, die die abscheulichsten Taten von Menschen begangen bestellt werden ist immer ein Deutscher.
2.Die mehr als der Durchschnittsbürger weiß von Deutschland sind die Namen der wichtigsten Marken: Mercedes, BMW, Volkswagen, Deutsche Bank. Aber was es ignoriert die Rolle, die diese großen Unternehmen haben in den Holocaust hatte. Ignorieren Sie, dass während der Nazizeit diese beiden renommierten Marken am meisten Dealkylierung und schamlose Sklavenarbeit Juden, die als Zwangsarbeiter gedient und wurden dann von den Nazis hingerichtet werden. Vielleicht nie in der Geschichte der Menschheit etwas so schreckliches getan wurde. Aber gerade in Deutschland seit fast 70 Jahren, das wurde getan. Dass dieser Marken, die nach dem Krieg bis heute, genießen einen Status von Prestige ist etwas unverständlich. Warum haben so viele Komplimente, dass die Mechanik der Motoren Mercedes oder BMW, werden sie von einem Mantel aus schwarzem Blut bedeckt. Und das Blut wird in Erinnerung an die Opfer solcher abscheulicher Verbrechen verewigt.
So viel wie wir die Produktivität und Effektivität der deutschen Arbeiter zu loben, im Gegensatz zu den "Schurken" im Süden Europas ist Deutsch die Strömung, die zur Schande des Seins die Erben eines Volkes, das demokratisch legitimiert, die grausamsten politischen Systems entspricht erfüllt. Dass Scham empfunden und sollte zu einer Zeit als Deutschland, durch seine Bundeskanzlerin Angela Merkl, tut nichts, um Europa vor den Angriffen des Wuchers, das Leiden zu ersparen ausgedrückt werden. Im Gegenteil, Merkl, was die Europäische Union, ohne dass dies es kein Mandat der europäischen Bürger entspricht, verhält er sich wie ein kleiner Diktator im Bunde mit den dunklen Geschäften Interessen, die mit Ländern wie Griechenland und Portugal vernichten wollen.Angesichts dessen, was ist in einigen europäischen Ländern geschieht, ist es Zeit, dass die europäischen Völker offenbaren, erfordert von denen, die Macht haben, zu einer solchen politischen Lösung. Allerdings hängt die aktuelle politische und wirtschaftliche Rahmen dieser Lösung auf Deutschland. Es ist Zeit für das deutsche Volk sich würdig zeigen einen Bach, ein Kant oder Goethe ein und fordern ihre politischen und wirtschaftlichen Macht, die in Solidarität mit Ländern wie Griechenland und Portugal ist. Ohne diese Solidarität ist ganz Europa und seine Zukunft auf dem Spiel steht - auch in Deutschland. Ohne diese Solidarität können wir wiederholen die Geschichte dessen, was sie gab uns mehr schwarz.
(A tradução do português para o alemão foi "feita" pelo google)



terça-feira, fevereiro 07, 2012

Golgona Anghel




Poeta na Praça da Alegria:
Não sou feliz. Não, não me quero matar.
Tenho até uma certa simpatia por esta vida
passada nos autocarros,
para cima e para baixo.
Gosto das minhas férias
em frente da televisão.
Adoro essas mulheres com ar banal
que entram em directo no canal.
Gosto desses homens com bigodes e pulseiras grossas.
Acredito nos milagres de Fátima
e no bacalhau com broa.
Gosto dessa gente toda.
Quero ser um deles.

Não, não guardo nenhum sentido escondido.
Estas palavras, aliás, podem ser encontradas
em todos os números da revista Caras.
A ordem às vezes muda.
Não quero que me façam nenhuma análise do poema.
Não, não escrevam teses, por favor.
Isto é apenas um croché
esquecido em cima do refrigerador.
Obrigado por terem vindo cá para me beijarem o anel.

Obrigado por procurarem a eternidade da raça.
Mas a poesia, mes chers, não salva, não brilha, só caça.

Golgona Anghel, Vim Porque me Pagavam, Mariposa Azual, 2011, pp. 25-26.

Golgona Anghel nasceu na Ilíria Oriental (Roménia). Vive há alguns anos em Portugal onde se licenciou em Línguas e Literaturas Modernas (FLUL, 2003). É autora de uma biografia sobre Al Berto: Eis-me Acordado Muito Tempo Depois de Mim (Quasi Edições, 2006) e dos livros de poemas Crematório Sentimental (Quasi, 2007) e Vim Porque me Pagavam (Mariposa Azual, 2011). Tem colaboração poética em várias revistas entre as quais Criatura. É com o livro de poemas publicado o ano passado, de que aqui se publica um poema, que Golgona Anghel desperta a atenção da crítica. A sua poesia não teme o risco de misturar alta com baixa cultura, numa voz desenvolta, atenta ao quotidiano e consciente da despoetização do mundo, mas nem por isso enveredando por uma tonalidade melancólica ou niilista.

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

JOÃO ULISSES (1947-2012)

(imagem respigada de daqui)


João Ulisses nasce em Mangualde, no sopé da Serra da Estrela, em 1947. Tendo vivido no Porto, deserta em 1970 da guerra colonial, refugiando-se em Amsterdão, onde colaborou na revista Vertical, do Centro Português de Cultura, e frequentou filosofia na Universidade Livre, vivendo o movimento beatniks intensamente até 1985, a par de actividades cívicas diversas.
A revolução dos cravos trouxe-o a Portugal, onde colaborou no movimento poético da revista Quebra-Noz.
Radical, outsider, rebelde, serrano da Estrela, Ulisses o Poeta, atravessou as ruas do Porto que o abraçou e o reconhece por este nome.
Viveu nos últimos tempos numa quinta rodeado por animais e plantas.

Títulos publicados:
-Alegorias do corpo mais triste (poesia), Marânus, 2002 (esgotado);
-História do Soldado que deserta por amor (ficção), Estratégias Criativas, 2004; Tibóteo, o Subtil Pastor do Caos / A Sombra d´Aurora, (ficção), Estratégias Criativas, 2009.
(Biografia adaptada daqui)