domingo, novembro 25, 2012

FERNANDO GANDRA

Os caminhos mudam de aspecto
quando os fazemos ao contrário.
Há dias em que há os homens e há
as coisas e em que não me venham falar de deus
deste tempo ou da minha geração.
Redonda é a água em que o barco se recreia
porque é em parte a mesma que caiu nos guarda-chuvas.
Obediente aos príncipios o parque desenvolve-se
coloridamente. A simetria tubular das árvores
forma uma ogiva onde se narra a elaboração
de alguns atritos. Cresce uma mesa onde se
fumam sementes mais vertiginosas. Os cães
juntam-se para passearem as suas biografias
de ócio e só se distanciam para dar luta
à presença guerreira dos insectos.
Um incêndio pensativo alarga a beleza das mães
cuja flor final às vezes se acende.
Estão de costas para o cisne que atravessa o lago
vestido de almirante. Seria uma boa ideia
se a tivessem tido.

Fernando Gandra, O Lado do Cisne, Gota de Água - INCM, col. Plural, 1984, p. 17.
Fernando Gandra nasceu em 1947, Silves. Publicou As Forças Amadas (em colaboração com Helder Moura Pereira, 1981), O Lado do Cisne (1984) e os ensaios Para uma Arquelogia do Discurso Imperial (1978), O Eterno Contorno (1987 e 1997) e O Sossego Como Problema (2008).

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