terça-feira, junho 03, 2014

DISPUTATIO GENITALIS



No programa Prós & Contras de ontem, o último antes do Mundial e das férias, não se discutiu a disputa no PS pelo lugar de secretário-geral, nem o chumbo do OE pelo Tribunal Constitucional, nem as Eleições Europeias (onde apareceu a ameaça da extrema-direita, entre outros sintomas). Não, nada disso, isso são questões de somenos perante o tema que estava em discussão e que faz salivar os jornalistas como o cão de Pavlov: o celibato dos padres, ou melhor, a sexualidade dos padres, ou, para ser mais exacto com as palavras da apresentadora e coordenadora do programa, Fátima Campos Ferreira, “a genitalidade dos padres” da Igreja Católica. O assunto, é certo, foi levantado pelo papa Chico. Mas o tema é recorrente por parte dos meios de comunicação social. Como um cão (pode ser o de Pavlov) que não larga um osso, assim os jornalistas não largam a Igreja católica em relação a assuntos de sexualidade. A isto chama-se agenda setting: um assunto é de tal forma agendado pelos média que estes acabam por ter influência nesse mesmo assunto. Um exemplo disso foi a invasão de Timor-Leste pela Indonésia – a partir das imagens do massacre de timorenses num cemitério os média internacionais acordaram para a situação de opressão que se vivia em Timor. A independência de Timor-Leste ficou a dever-se em grande parte à coragem de alguns jornalistas. Por vezes, raras, o jornalismo ainda vale a pena, pode ajudar a criar um mundo com menos injustiça. Mas no caso da genitalidade dos padres, que têm os jornalistas a ver com o caso? Porque razão querem os jornalistas imiscuir-se na sexualidade dos padres? Não é isso um problema da Igreja? Pela atitude tomada por jornalistas como Fátima Campos Ferreira não é. Uma das grandes preocupações dos jornalistas é libertar os padres do espartilho do celibato. A isto não é alheio um ambiente que desde os anos 60 do século passado se vive – o de uma alegada libertação sexual, em que o sexo se torna rei. Que essa libertação, e os agentes dessa libertação (jornalistas, sexólogos, etc), não saibam distinguir entre sagrado e profano, mostra o carácter acéfalo dessa mesma alegada libertação.

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