domingo, julho 13, 2014

NÃO HÁ PACHORRA PARA A ALEMANHA



A Alemanha enjoa, chateia. Não há pachorra para a Alemanha, o país que acabou de ganhar a copa do mundo, depois de humilhar Portugal (4-0) e o Brasil (7-1). Agora, na final a Alemanha ganhou à Argentina (1-0). Vivemos sob um asqueroso império alemão – frau Merkel manda na União Europeia sem que para isso tenha algum mandato democrático. Os portugueses, como os gregos e outros povos do sul da Europa têm sofrido, nos últimos anos, esse despotismo alemão. É bom lembrar que os avozinhos dos jogadores que ganharam a copa – não todos, mas alguns – participaram, directa ou indirectamente, no Holocausto. A raça ariana está em forma. Hitler ia gostar, como Merkel gostou. Até na Volta à França há um alemão a liderar. Não há pachorra para esta Alemanha. O seu jogo é táctica mais capacidade física – um imenso calculismo, uma gelada frieza. A esta Alemanha nada importa as consequências da austeridade. Para esta Alemanha o outro não existe, apenas existem os resultados quer sejam desportivos ou financeiros. Não há pachorra para esta Alemanha. 

Quem perdeu esta copa não foi tanto a Argentina, mas o Brasil. Ou melhor: nem foi o Brasil mas Dilma. O povo brasileiro talvez perdoasse os gastos na construção dos estádios se o Brasil ganhasse a copa. Mas o Brasil foi humilhado pela Alemanha, como nunca tinha sido num jogo de futebol. Dilma perdeu as próximas eleições, a realizar em Outubro, na passada terça-feira enquanto o Brasil era goleado pelos teutónicos. Agora as manifestações vão voltar, porque o povo brasileiro não pode perder duas vezes.  

sábado, julho 05, 2014

DE RENZI AO ESPÍRITO SANTO



1, A Itália tomou esta semana conta da presidência rotativa da União Europeia. Essa Itália que também tem sido vítima da austeridade e do endeusamento dos bancos, tem há já algum tempo um novo primeiro-ministro, Matteo Renzi. Renzi, eleito pelo PD, Partido Democrático – a actual esquerda democrática italiana –, fez esta semana um assertivo discurso no parlamento europeu. O Bundesbank, embora não tenha sido referido directamente no discurso de Renzi, achou-se atingido e respondeu. Muitos outros se sentiram atingidos na sua impunidade de gangsters – Mr. Barroso entre outros. Renzi, que até há pouco tempo era autarca de Florença, pegou em palavras como estabilidade e crescimento e devolveu-lhes o sentido que os vendilhões do templo adulteraram. É, ao contrário de Hollande, uma promessa para esta europa que perdeu os seus referentes éticos.
2, É precisamente das palavras que se fazia o mundo de Sophia de Mello Breyner Andresen. A autora de O Nome das Coisas morreu há 10 anos e o seu corpo foi trasladado para o panteão nacional. Para além da intervenção política de Sophia, como deputada pelo PS à Assembleia Constituinte, fica a sua poesia que é uma presença iluminante. Sophia foi demasiado inteira para um mundo tão mesquinho. O que diria dos tempos sombrios que vivemos? Será que a cerimónia da sua entrada no panteão nacional, onde discursaram os mais altos representantes da nação, não foi um ultraje? Porque as palavras de Cavaco e Passos (ou dos assessores que lhes escreveram os discursos de circunstância) são as palavras do “demagogo” como a própria Sophia escreveu no poema “Com fúria e raiva”: “Com fúria e raiva acuso o demagogo / E o seu capitalismo das palavras // Pois é preciso saber que a palavra é sagrada”. A poesia é o lugar do despoder, para utilizar o neologismo de Roland Barthes, por isso talvez a trasladação do corpo de Sophia de Mello Breyner Andresen para o panteão nacional não terá sido uma boa ideia.
3, O demagogo, no sentido que Sophia lhe dá, tem sido nas últimas décadas, no cenário da política nacional, o actual Presidente da República – embora nos últimos três anos, especialmente, tenham proliferado de forma inusitada demagogos. É com bastante dificuldade que Cavaco Silva tenta terminar o seu mandato. Na semana passada humilhou os portugueses que diz representar ao afirmar perante o presidente da Alemanha que “apendemos a lição dos últimos anos”. Esta semana convocou o Conselho de Estado. Cavaco, co-responsável pela destruição do país, não aprende. O seu lugar na história será o do pior Presidente da República depois do 25 de Abril.
4, Numa sociedade onde a economia tomou o lugar da teologia, um banco é uma Igreja. Isto aplica-se com precisão terminológica ao BES. O Banco Espírito Santo, propriedade há muitas décadas da família Espírito Santo passou por uma série de turbulências. Primeiro pelo controlo do banco entre facções da família e depois por uma abrupta queda na bolsa. Como resultado a família Espírito Santo ficou sem o controlo do banco. Solução: o novo presidente ou CEO do BES é alguém da confiança de Cavaco e Passos – Vítor Bento. Bento é também conselheiro de Estado e acha que “vivemos acima das nossas possibilidades” e defende o pagamento da dívida portuguesa na íntegra. Mas será que também defende que a família Espírito Santo pague a sua dívida de quase mil milhões de euros na íntegra? A S&P, uma das agências de rating que levou o governo de Sócrates a pedir “ajuda financeira”, tem dúvidas que os Espírito Santo paguem.