segunda-feira, outubro 05, 2015

O VOTO MASOQUISTA



Ontem quase dois milhões de pessoas foram votar na coligação PSD/CDS-PP. Votaram e deram a vitória, ainda que sem maioria absoluta, a quem governou Portugal nos últimos quatro anos. Ou seja, a quem fez um “aumento colossal de impostos”, a quem quis retirar o 13º mês e subsídio de férias, a quem cortou nas pensões, a quem aumentou o desemprego para níveis nunca atingidos em Portugal, a quem cortou nas prestações sociais, a quem foi o responsável pela saída do país de quase meio milhão de pessoas, a quem privatizou tudo o que havia a privatizar. Ontem dois milhões de pessoas legitimaram um governo que destruiu Portugal, que empobreceu como nunca se tinha visto nas últimas décadas os portugueses. A questão que se coloca é como é possível que tanta gente tenha entregue o seu poder de acção política nas urnas de voto a quem lhes fez tão mal. Como foi isto possível? É certo que não tinham grandes opções: António Costa pelo PS prometia pouco, mas ainda assim tinha um programa de governo que procurava repor algumas das coisas que antes da entrada em cena do governo Passos-Portas eram dados adquiridos na democracia portuguesa. E depois havia toda uma série de opções políticas, como o Bloco de Esquerda que beneficiou da má campanha do PS, ou o Livre que acabou por não eleger nenhum deputado. Então a questão persiste: porquê, porquê tanta gente a votar em quem lhes fez tão mal, a eles ou aos familiares ou amigos. Porquê votar em quem mentiu tanto e agora se escondeu de cartazes, entrevistas ou debates, continuando a mentir. Será que foi por medo? Será que engoliram a estória de que votar à esquerda seria desperdiçar os sacrifícios feitos durante quatro anos? Ocorre-me, como explicação, uma canção de Sérgio Godinho, de 1971, do álbum “Sobreviventes” e que seria retomada nos tempos pós revolucionários: “Que força é essa, amigo/que te põe de bem com outros/e de mal contigo”. O que se encontra aqui é a base antropológica, sociológica e psicológica do masoquismo. Nesse sentido esta canção não está nada datada, continua a ser tão actual como há 44 anos atrás. É a única explicação plausível que encontro para que dois milhões de portugueses tenham votado em quem lhes fez tão mal: masoquismo.
PS: O dito presidente da República, Cavaco,  faltou às comemorações do 5 de Outubro. Mais uma canalhice para quem é presidente da República. A acompanhá-lo na ausência esteve Passos Coelho. Será que querem uma monarquia?

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