sexta-feira, março 31, 2017

A ESCUMALHA BANCÁRIA



 
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No início deste século, e nos anos posteriores, o sector bancário era dos que mais investia em publicidade nos meios de comunicação social. Existia crédito para tudo, e os clientes dos bancos quase eram forçados a contrair crédito. A banca vivia à fartazana dos lucros dos créditos que tinha imposto às pessoas. E a economia não ia mal. Eram ainda tempos de vacas gordas. Mas sobretudo importa sublinhar que nesses tempos os bancos, através da concessão de crédito para compra de casa, carro, ou outros tipos de consumo, se foram apoderando da vida das pessoas.
Foi algo que aconteceu não só em Portugal mas em quase todos os países capitalistas, a começar, naturalmente, pelos Estados Unidos. Desta forma selvagem de concessão de crédito, mas também de criar agressivos produtos bancários, nasceu a crise do sub-prime com a consequente falência do banco de investimentos Lemham Brothers. Iniciou-se, em 2008, a crise financeira.
Durante o período pré e pós-crise, os banqueiros cometeram todo o tipo de atropelos legais (para não falar dos éticos) que puseram em causa a sustentabilidade dos bancos por eles geridos. É assim que o BPN vai falir, ao qual se vão juntar o BPP, o BES (tido como um dos principais bancos portugueses e o mais antigo), o Banif… A lista pode não acabar aqui. Todo o sistema bancário ficou abalado. Mas o fundamental disto tudo é que quem pagou a factura de toda esta malvadez e incompetência foram os contribuintes. Em Dezembro de 2015 o Diário de Notícias estimava em 13 mil milhões de euros (7,3 por cento do PIB) o dinheiro que o Estado português (ou seja, os portugueses) deu para salvar bancos. O período contabilizado vai de 2007 a 2015, e o valor já terá aumentado com a recapitalização da CGD.
Neste antro de crimes em que se envolveram os banqueiros, apenas um esteve em prisão: Oliveira e Costa presidente do BPN, onde avultavam ex-ministros de governos de Cavaco Silva. Alguns, como Dias Loureiro, desapareceram de circulação, outros foram constituídos arguidos, como o “Dono Disto Tudo” Ricardo Salgado, que o máximo que teve foi prisão domiciliária. Estranha-se que os mesmos juízes que prendem políticos preventivamente por indícios, sejam tão brandos quando se trata de banqueiros.
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Alguém me contava que por volta de 1950 (?), um homem rico, o que então era designado como proprietário rural, ao morrer, tinha em casa 4 mil contos. Para a época era bastante dinheiro. É claro que já existiam bancos, mas o dinheiro que passava por eles era em muito menor escala (percentual) ao que acontece hoje: para quê ter o dinheiro num banco? Hoje toda a economia, mesmo a economia paralela, passa pelos bancos. As pessoas vivem, de certo modo sem consciência disso, reféns dos bancos. O ordenado de um trabalhador – quer seja o salário mínimo ou o do gestor de uma empresa – passa pela banca. E no entanto, neste momento, não há razão para as pessoas terem dinheiro no banco (com excepção das grandes fortunas): os bancos aumentaram as comissões que constituem 40 por cento do seu rendimento e os juros estão a zero. Se a banca não serve para emprestar dinheiro, em condições razoáveis, quando as pessoas precisam, nem para obter ganhos através de poupanças, para que serve a banca? Porque não começar a pensar em extinguir a banca como programa político? Ou, pelo menos, estabelecer um caderno de encargos que se os bancos não os cumprissem implicariam a sua passagem para o Estado ou a sua extinção.
Porque, o que a banca fez nos últimos anos foi destruir a vida de milhares de pessoas. Pessoas que alinharam no canto da sereia do marketing bancário, pessoas que de facto precisavam de uma habitação com dignidade, tal como a nossa Constituição estabelece. Pessoas que de repente ficaram sem emprego, na cavalgada da crise pela ideologia do capitalismo selvagem neoliberal. Pessoas que deixaram de puder pagar a prestação da casa (ou de outros bens) ao banco, e que de repente ficaram sem casa. Curiosamente, ou talvez não, dessas vítimas da crise não houve notícia, nem reportagens nos meios de comunicação social. Enfim, destas vítimas dos bancos e da finança internacional que atacou Portugal e o sul da Europa, não há ainda uma narrativa – jornalística ou literária ou fílmica –, como as Vinhas da Ira de Steinbeck, entre outras narrativas, para a grande depressão de 1929.
Eis o duplo crime da escumalha banqueira: arruinar os bancos que geriam levando a que os contribuintes, através do Estado, dessem quantias astronómicas para salvar esses bancos; levar ao desespero, à miséria, à depressão, ao sem-abrigo milhares de pessoas. E tudo isto feito impunemente, com a subserviência da política perante a banca.