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quinta-feira, novembro 30, 2017

O PRÉMIO DE ANA TERESA PEREIRA

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A obra de Ana teresa Pereira é singular na literatura portuguesa. E na literatura de língua portuguesa. Talvez por isso o júri do prémio Oceanos (que se destina a obras de literatura portuguesa e brasileira, com um júri maioritariamente brasileiro) foi este ano para Ana Teresa Pereira pelo seu livro Karen. O prémio é justo mas pode causar admiração se tivermos em conta que Ana Teresa Pereira ainda não está publicada no Brasil. Depois de já ter vencido o grande prémio de romance e novela da APE, este é mais um prémio de consagração numa obra, ou “obra-mundo” como lhe chamou o ensaísta Fernando Guerreiro, de uma extraordinária idiossincrasia.
Começando em 1989, na então colecção de bolso da Caminho, com o já aparente policial Matar a imagem, Ana Teresa Pereira vem seguindo um percurso em que os seus romances e novelas são marcados por uma escrita obsessiva, como se estivesse sempre a escrever o mesmo livro (a exemplo de uma Duras), marcado por uma profícua relação com outras artes: pintura, cinema, teatro e obviamente uma forte intertextualidade com autores clássicos do policial, mas também outros como Rilke ou Iris Murdoch. Ao já referido não é alheia uma relação com a filosofia e principalmente com a psicanálise (vejam-se os livros Num Lugar Solitário e Rosas Mortas). Há um tema central em Ana Teresa Pereira, como bem viu num ensaio sobre a sua obra Rui Magalhães: o medo. O Labirinto do Medo. É disso que se tece certa literatura, mas em Ana Teresa Pereira ganha outras dimensões ontológicas. Escrita em português, a obra da autora de Karen, quase nenhuma (ou mesmo nenhuma) relação mantém com a literatura portuguesa. O Mundo de Ana Teresa Pereira é predominantemente anglo-saxónico, com títulos, nomes de personagens e locais de acção referindo-se à Inglaterra. Mas nada disto impede que a escrita da autora madeirense seja das mais criativas da actual literatura portuguesa.
Agora os brasileiros vão poder descobrir Ana Teresa Pereira, e um dia esta obra – já longa – poderá chegar ao mundo de língua inglesa.

O terceiro prémio atribuído pelo júri (que integrava o crítico literário português António Guerreiro) foi atribuído ao livro Golpe de Teatro do poeta Helder Moura Pereira e o quarto lugar à escritora e poetisa Maria Teresa Horta pelo livro Anunciações.