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sábado, março 31, 2018

O PÓS PASSISMO E OS COMENTADORES

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Qualquer analista sensato, numa democracia saudável, diria bem da estratégia de Rui Rio de viragem à esquerda. Porque depois de oito anos de passismo, onde o país passou pelo seu período mais negro economicamente depois do 25 de Abril, quem sucedesse a Passos Coelho não teria, na actual conjuntura e tendo em conta o que foram os anos do governo PSD/CDS, outra alternativa para evitar um possível desaparecimento ou redução extrema do PSD, senão virar à esquerda abjurando do que foi o PSD de Passos Coelho.
Ora, acontece que não temos analistas ou comentadores sensatos, mas comentadores que fazem o favor a quem lhes paga. Temos uma comunicação social dominada por poderes que tudo fizeram, e ainda fazem, para varrer a crise e as suas consequências para debaixo do tapete. Mesmo ao governo de António Costa não interessa falar das consequências da crise, de como a crise continua a contribuir para escravizar (o termo parece forte mas não é realista) trabalhadores. E os partidos que seguram a geringonça – BE, PCP, PEV – vão criticando o governo, mas na realidade apoiando-o. É uma situação “esquizofrénica”, mas é melhor que não ter nenhuma oposição à esquerda.
Nisto torna-se evidente a falta que fazem novos partidos na sociedade portuguesa. Veja-se o que aconteceu em Espanha com o fim do bipartidarismo dominante desde o fim da ditadura franquista, ou na França onde o Partido Socialista desapareceu. Em Portugal vivemos na inércia, mesmo depois de uma crise como a que tivemos e ainda temos (é bom sublinhar) apenas um novo partido entrou na Assembleia da República, o PAN, com um deputado. O Livre e o partido a que estava ligado Marinho Pinto foram um flop eleitoral. Há nas elites portuguesas um medo da mudança, geralmente apontado como um medo do populismo, que na realidade é apenas o medo dessas elites – os comentadores televisivos, radiofónicos ou da imprensa – perderem o lugar que ocupam e o modo de vida que lhes garante o salário – muitos destes comentadores são profissionais do comentário, exercendo-o em mais que um média. Estão, noutra escala, reféns da precariedade que faz com que os trabalhadores trabalhem precariamente em turnos a desoras, com horas extraordinárias e com salários miseráveis. Mas, se se portarem bem, se cumprirem com os seus papéis de encherem 50 minutos a falar de lugares comuns, numa pseudo pluraridade onde cada um encarna um não muito exagerado lugar de direita, de centro ou de esquerda, falando para nada dizer,  serão certamente premiados. Ora isto não é nada bom para a democracia portuguesa onde habitam velhos fantasmas, incrustados, que ficaram do Estado Novo e moldaram uma certa mentalidade portuguesa.

sábado, setembro 30, 2017

A CRISE, AINDA

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A crise que a finança mundial criou há 10 anos e que atingiu Portugal e os portugueses como nunca, ainda não acabou. Lamento, mas isto tem que ser dito. Têm que ser lembradas as vítimas da crise – as que morreram por suicídio, por falta de cuidados médicos –; as vidas despedaçadas (algumas até tinham bons empregos, ganhavam bem, mas ficaram na miséria, subitamente caídas num buraco negro). Há muito por investigar, muito trabalho para os historiadores futuros sobre esta crise. Mas não é difícil apontar os seus responsáveis: as agências de rating que criminosamente levaram Portugal para o lixo – literal e metafóricamente –; Passos Coelho e o seu governo neoliberal que quiseram ir além da troika; Angela Merkel ou Durão Barroso, que criaram uma Europa não democrática, que a partir de uma Alemanha que nunca deixou de ser nazi (veja-se como agora o resultado do partido AfD – cerca de 13 por cento – faz estalar o verniz que cobria o nazismo alemão), impuseram a via única (diziam) da miséria aos países do sul – os PIIGS (PORCOS, assim éramos chamados).
Mas a crise não acabou. Ela continua na vida de centenas de milhar de pessoas que não têm nenhum rendimento; continua nas reformas de miséria; na miséria do RSI; no “colossal aumento de impostos” que não foi revertido por este governo de esquerda. A crise continua, estacionou mansamente em vidas caladas pela depressão, pela miséria de vender o recheio da casa no olx, por uma oferta de trabalho precária, escrava. A crise permanece, apesar dos bons resultados económicos, de Portugal ter saído do lixo na classificação da Standard & Poors (o que é isso de uma agência rating chamar lixo à dívida de um país? Têm eles coragem de colocar os EUA abaixo de AAA?). A crise permanece no Estado social com os cortes a continuarem. Perante isto, os partidos de esquerda que sustentam este governo calam a permanência da crise, calam objectivos que eram urgentes como impor a renegociação da divida. Os média, vivem em crise (quanto tempo aguenta o grupo Impresa na família Balsemão?), directores de informação, como Paulo Dentinho na pública RTP, despedem mais de metade da redacção, em silêncio, substituída por jovens que sabem que existe um risco vermelho que não pode ser pisado. O resultado disto é uma nova censura: há demasiados licenciados em jornalismo e afins, por isso os jornalistas que se tornam incómodos podem ser despedidos, como aconteceu no Público.

Esta semana morreu o antigo bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, o bispo que em meados da década de 1980 denunciou a fome existente no seu distrito. Nessa altura, dez anos passados sobre o 25 de Abril, com o FMI em versão light em Portugal, era possível escutar e dar voz ao “bispo vermelho”, confirmar as suas denúncias. Estranhei a notícia da sua morte, porque há muito que não ouvia falar dele, pensei que já tivesse morrido. D. Manuel Martins tinha 90 anos, não sei em que condições de saúde estava, mas desde o início desta crise, há quase 7 anos, que a sua voz, o seu exemplo, tinha que ser censurado. Porque não se pode dizer HÁ FOME EM PORTUGAL.

segunda-feira, julho 31, 2017

AS MIL E UMA NOITES – UMA HOMENAGEM À LITERATURA

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Em 1704 o orientalista francês Antoine Galland publica pela primeira vez no ocidente uma tradução d’ As Mil e Uma Noites, dando a conhecer aos leitores da época e futuros um vasto conjunto de contos (282) de origem persa, indiana e árabe. Desde o século IX que era conhecida, em árabe, a recolha de histórias provenientes da folclore de várias culturas do oriente. Antoine Galland na sua versão terá censurado alguns contos, e acrescentado mais alguns, sem grande fidelidade ao original. De certa forma, até hoje, As Mil e Uma Noites são um livro palimpsesto.

Mas, apesar das múltiplas versões d’ As Mil e uma Noites, importa a sua história que é uma grande homenagem à literatura, à arte de contar histórias (ou estórias). Vejamos: no início d' As Mil e Uma Noites, temos o rei Xarir, da Pérsia, que descobre que a sua mulher o engana com um escravo. Inicia-se uma furiosa vingança de Xarir, que decapita os amantes. Mas o rei persa vai muito mais longe na sua vingança: todas as noites casava com uma virgem, que depois da noite de núpcias, entregava ao seu vizir para ser degolada. Xerazade, precisamente a filha do vizir, engendra uma artimanha para acabar com esta carnificina – propõem-se entregar-se ao rei Xarir. E assim acontece. Mas Xerazade, que tinha pedido que fosse acompanhada da sua irmã Dinarzade, quando acorda da noite de núpcias é interpelada pela sua irmã mais nova para que conte uma história. Eis que o rei se interessa pela história que Xerazade conta a ponto de não mandar degolar Xerazade, interrompendo o seu atroz morticínio, porque quer saber o final da história que, entretanto, Xerazade interrompera. A interrupção é a chave do sucesso da artimanha de Xerazade, o método que lhe salva a vida.

É pois pela arte de contar histórias que Xerazade se salva e termina com a vingança do rei Xarir. Eis a suprema homenagem à literatura – neste caso à literatura oral e por extensão a outras formas de ficção, pois como escreveu o poeta T. S. Eliot “Humankind cannot bear very much reality.”

As Mil e Uma Noites e em particular a personagem Xerazade mostram-nos o poder da literatura, um poder político capaz de suspender as atrocidades humanas. Xerazade é uma dessas personagens femininas para quem, como acontece com Antígona, a injustiça e o despotismo são intoleráveis. Mas As Mil e Uma Noites nada têm da trágico; pelo contrário, o que neste encadeamento de narrativas abunda é o maravilhoso, o erotismo, uma compulsão por contar e ouvir histórias que suspende e anula os actos despóticos, o mal. Estas “noites” são solares. As Mil e Uma Noites convocam a literatura, o contar histórias, para uma ética/estética do imaginário, da envolvência com a ficção que interrompe a crueza e crueldade do real. Talvez por isso tenhamos necessidade de sonhar, de organizar o que vivemos durante o dia numa narrativa fantástica, surrealizante, desconexa, mas de qualquer forma a narrativa que o nosso inconsciente nos conta, essa estranha Xerazade que nos habita.
***
Em Portugal existem várias edições d’ As Mil e Uma Noites. Editoras como a Civilização, a Estampa, as Publicações Europa-América, Amigos do Livro, Bertrand, Minerva (com tradução do poeta Cabral do Nascimento), Círculo de Leitores, a Parceria António Maria Pereira (que deve ter sido uma das primeiras, senão a primeira editora a publicar, em 1909, a obra organiza por Antoine Galland) mostram o interesse por esta obra que é uma das maiores da literatura universal. Mas dentre todas estas edições, uma se destaca: a que foi publicada pelos Estúdios Cor, em seis volumes, entre 1958 e 1962. Essa edição, hoje uma raridade vendida a preços bastante altos, conta com traduções de alguns dos nossos melhores escritores do século passado: Aquilino Ribeiro, Carlos de Oliveira, David Mourão-Ferreira, Domingos Monteiro, Irene Lisboa, João Gaspar Simões, José Gomes Ferreira, José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues. A acrescentar a estes escritores/tradutores há todo um grupo dos melhores ilustradores da época.

O jornal Expresso resolveu editar em sete volumes O Livro das Mil e Uma Noites, distribuído gratuitamente (isto é, sem que o leitor pague mais que o preço do semanário). Esta edição, no entanto, e apesar de alguma qualidade gráfica, reveste-se de um desrespeito para com os leitores do jornal. Em primeiro lugar não estamos perante a obra integral, mas uma selecção ou antologia (As Mil e Uma Noites na versão de Antoine Galland têm cerca 1600 páginas; cada volume da edição do Expresso tem 110 páginas o que equivale na totalidade dos sete volumes a 770 páginas, ou seja a menos de metade da obra integral). A não edição da obra integral de Antoine Galland (já não me refiro a outros organizadores posteriores como Richard Burton) seria completamente natural e aceitável se fosse indicado que se tratava de uma selecção ou antologia. Mas não, em nenhum lugar, nem mesmo num prefácio introdutório à obra em geral isso é dito. Portanto, o Expresso mete no saco gato por lebre. O leitor que não procure informação sobre a obra, e ler os sete volumes, julga que leu na íntegra As Mil e Uma Noites quando leu apenas uma selecção de contos d’ As Mil e Uma Noites. Numa altura em que o jornalismo está em crise, este comportamento não abona nada a favor do Expresso e grupo Impresa – porque se o Expresso engana os leitores quanto a uma obra literária que distribui, também enganará os seus leitores nas peças jornalísticas que apresenta. Para além do já referido, esta selecção d’ As Mil e Uma Noites, tem, estranhamente, como assinatura de tradução Alêtheia Editores. Os volumes são editados em parceria com esta editora da ex-militante comunista Zita Seabra, mas mesmo quando se trata de uma tradução colectiva os nomes dos tradutores devem aparecer. É algo estranho e desprestigiante da edição, que a formação da editora como alto cargo do PCP não serve de desculpa. Antes, esta assinatura colectiva parece configurar uma lógica neoliberal a que Zita Seabra aderiu nas últimas décadas.

sábado, abril 16, 2016

O JORNALISTA NÃO MORDE O DONO

 
Sexta-feira foi noticiado no Jornal de Notícias a discussão e aprovação de uma lei que partiu de um projecto de iniciativa cidadã com cerca de 157 mil assinaturas. O projecto de lei dizia respeito ao fim do período de fidelização de 24 meses dos serviços das operadoras de telecomunicações. Como bem escrevia o subdirector do JN, David Pontes, "sempre que vierem à baila os interesses de grandes empresas, preparemo-nos para a sintonia entre os dois grandes blocos [PS e PSD] e a completa nulidade da ação dos reguladores". Portanto, a referida tentativa de acabar com o abuso que é o período de fidelização de 24 meses saiu em parte gorada porque PS e PSD formam, ainda, um bloco central que serve os interesses das grandes empresas. No entanto, algo mudou. O que não mudou, antes pelo contrário, foi a forma como os média noticiam estes acontecimentos. Se o JN deu relevo a esta iniciativa, que mobilizou 157 mil pessoas, já o Público a ignorou por completo (não falo dos outros jornais e telejornais que não consultei nem vi). Torna-se fácil perceber porque razão esta notícia não saiu no Público: o jornal é propriedade da sonae, o mesmo grupo empresarial que detém uma das operadoras de telecomunicações em Portugal, a actual Nos. O que está em questão é a independência editorial de um jornal que se tem como jornal de referência perante o seu dono. Mais: sendo as operadoras de telecomunicações um dos principais clientes, a nível publicitário, de televisões e jornais, qual a independência editorial dos média perante estas grandes empresas? Ou estamos todos, desde consumidores a partidos políticos, reféns dos interesses destas empresas? Na resposta a esta pergunta, creio, está também a resposta à pergunta sobre a nossa liberdade, e em última instância sobre quem verdadeiramente nos governa.  

domingo, setembro 06, 2015

OS JORNALISTAS AO SERVIÇO DO PODER BIPARTIDÁRIO



Pela primeira vez a as três televisões em sinal aberto, SIC, TVI e RTP, chegaram a um acordo para realizar e emitir o que chamam o debate decisivo entre António Costa e Passos Coelho. O debate vai ser emitido na próxima quarta-feira a partir das 20h30 com moderação de três jornalistas das estações que organizam esse debate, nas três estações generalistas em simultâneo, podendo por isso ter uma audiência recorde. É o modelo norte-americano, mas num só debate. Quanto ao resto, aos outros partidos com assento parlamentar (BE e CDU) e aqueles que emergem nas sondagens como podendo obter um ou mais lugares no futuro parlamento, e ainda todos os outros partidos concorrentes a estas eleições, quanto a esse resto isso não interessa nada.
Ora esta falta de respeito pelas regras democráticas dura há quase 40 anos – por isso os partidos do chamado “arco da governação” são só três, precisamente os que estarão no debate dito decisivo do próximo dia 9. Isto não é de agora, mas nestas eleições em que o eleitorado está cansado dos partidos do “arco da governação” a situação tomou um grande despudor com este único debate para uma audiência máxima. Há que guiar o rebanho para votar ou na coligação PSD/CDS ou no PS. E para isso os jornalistas, os directores de informação, estão ao serviço do poder. Há que evitar as ameaças que representam novos partidos como o de Marinho Pinto, que nas últimas eleições europeias concorrendo pelo obscuro MPT conseguiu dois lugares no parlamento europeu, o que caso se tratasse de legislativas corresponderia a um razoável grupo parlamentar. Da mesma forma há que evitar que o Livre/Tempo de Avançar obtenha uma representação parlamentar. Com um jeitinho dos serviçais jornalistas e comentadores para atestar qual o vencedor, ainda um dos partidos consegue a maioria absoluta como quer o presidente Cavaco. Assim o povo seja cordato e fiel como um cão aos donos do poder.

sexta-feira, abril 24, 2015

REGRESSO À CENSURA PRÉVIA



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Quando se cumprem 41 anos sobre o 25 de Abril de 1974, que pôs fim a um regime ditatorial de que uma das suas “armas” foi a censura prévia de jornais, rádio e televisão, eis que o PSD, CDS e PS se preparam para reinstaurar essa censura numa lei sobre a cobertura das próximas eleições legislativas. Para já é um projecto de lei, mas mesmo que não venha a dar entrada para votação no parlamento fica a intenção altamente censória, indigna de um país democrático. No projecto de lei dos três partidos que nestas últimas décadas têm passado pelo governo, os meios de comunicação social teriam que apresentarem à CNE (Comissão Nacional de Eleições) e à ERC (Entidade Reguladora da Comunicação) um plano prévio de cobertura das eleições legislativas. Para além disso, os debates entre partidos não podiam incluir partidos que neste momento não estão representados na Assembleia da República, como é o caso do Livre/Tempo de Avançar ou do partido protagonizado por Marinho Pinto, o PDR. Por aqui se vê a intenção dos partidos que prepararam o projecto de lei: cientes de que o eleitorado os tem penalizado nas últimas eleições europeias e autárquicas, bem como nas sondagens, os três partidos do “arco da governação” procuram uma forma de os cidadãos não terem acesso a alternativas políticas. Este é uma atitude de uma ditadura e não de um país democrático. Talvez não fosse de espantar que PSD e CDS apresentassem uma lei deste teor, porque o que estes dois partidos têm feito nos últimos quatro anos no governo tem pouco de democrático e de respeito pelas pessoas. Mas o PS entrar neste esquema demonstra que depois da apresentação do estudo encomendado a 12 economistas, em que nada de substancial muda na política económica se o PS for governo, António Costa já está em estado de desgraça. Embora os portugueses tenham sido enganados nas últimas legislativas, não podem ser tratados como mentecaptos. Os partidos que nos têm governado têm de perceber que tiveram demasiado tempo para mostrar que a III República é mais que uma partidocracia. Se não o perceberam – e efectivamente parece que ainda não perceberam tal evidência –, chegou a hora de uma mudança, de novos partidos aparecerem, de novas formas de fazer política. Veja-se o exemplo espanhol onde partidos como o Podemos ou o Cidadanos vão disputar a vitória nas próximas legislativas. Contra isto os velhos partidos nada podem fazer, a não ser que queiram destruir por completo as democracias.

domingo, agosto 24, 2014

A BARBÁRIE



1, Enquanto uma moda viral (embora por uma boa causa) faz deste apagado verão uma estação ainda mais silly – a moda das figuras públicas despejarem um balde de água gelada pela cabeça abaixo, o terror espalha-se na zona do médio oriente. O chamado IS (Islamic State), que controla uma já vasta zona do Iraque e da Síria, espalha o terror com mais eficácia que o fez a Al-Qaeda: um vídeo onde é degolado o jornalista inglês James Foley demonstra até onde tem crescido o fundamentalismo islâmico. Este fundamentalismo do IS recruta cidadãos europeus – estima-se que no IS estejam 500 ingleses e 700 franceses. Talvez seja um niilismo mascarado pela sociedade do espectáculo, onde alguns programas televisivos parecem campos de treino para estes fundamentalistas (veja-se por exemplo O Poder do Amor, SIC, Domingos à noite), uma das prováveis géneses deste niilismo. A Europa niilista, entre uma imbecil e caquéctica sociedade do espectáculo e a especulação dos mercados financeiros, acaba por ser um viveiro para a angariação de terroristas.

2, Enquanto isto, aqui, em Portugal, na periferia da Europa, mas pertencendo nós ao, ainda, risível califado do Estado Islâmico, o nosso califa Passos Coelho vai semeando a miséria e a mentira. É certo que Coelho não é Abu Bakr al-Baghdadi, o califa, mas numa versão lusa de brandos costumes, sem cabeças cortadas, tem feito tudo o que lhe permite (e mesmo o que não permite) o Estado de direito para destruir Portugal e dar cabo da vida dos portugueses. Pois, enquanto Coelho mentia pela enésima vez que não ia aumentar os impostos, sabendo-se (por Marques Mendes) do muito possível aumento do IVA para 24%, o Jornal de Notícias lembrava, na sua edição de ontem, Domingo, que em Portugal existem 400 mil pessoas desempregadas sem auferir qualquer subsídio. Como vivem estas pessoas? Porque se calam?

3, James Foley, assassinado barbaramente por um membro do IS, era um jornalista free-lancer. A ele e a outros corajosos jornalistas devemos o testemunho do que se passa no mundo. Sem repórteres nas zonas de guerra as guerras seriam ainda mais selvagens e dessa selvajaria não teríamos testemunhos. O mundo precisa destes jornalistas, mas também precisa de jornalistas que procurem a verdade que está ao fim da rua (como no spot da TSF: “ir ao fim da rua, ir ao fim do mundo”). Ora a imprensa portuguesa – e não só a portuguesa – passa por uma profunda crise: perda de leitores, despedimentos dos melhores jornalistas, etc. Veja-se o caso do grupo Controlinveste (detentor do DN, JN, O Jogo e TSF) de onde foram recentemente despedidos 160 trabalhadores. O grupo outrora detido maioritariamente por Joaquim Oliveira tem novos accionistas, entre os quais Luís Montez, genro de Cavaco Silva, e um tal Mosquito, um empresário angolano. Se numa zona de conflito armado um jornalista tem imensas dificuldades para desempenhar o seu trabalho, num país como Portugal a liberdade de imprensa volta a estar em causa por contingências económicas e leis laborais.