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terça-feira, maio 11, 2010

O SEXO PERDIDO DA IGREJA


Um dos argumentos lançados contra a Igreja (católica) consiste em acusá-la de um domínio sobre a sexualidade. Ora esse argumento tem um atraso de várias décadas. Qual o poder da Igreja para determinar, hoje, o comportamento sexual das sociedades ocidentais? Nenhum, ou quase nenhum. Nem os católicos praticantes, os que frequentam semanalmente a missa seguem as prescrições da doutrina moral da Igreja sobre a sexualidade. De resto, quem não frequenta a Igreja não sofre nenhuma influência, directa, desta.
Noutros tempos, durante séculos, a Igreja católica assustou e teve o domínio sobre o comportamento sexual dos indivíduos. Hoje a Igreja não tem, neste aspecto, nenhum poder. Mas quem tem hoje o poder que antes pertenceu à Igreja? Uma aliança entre meios de comunicação social e sexólogos e outros “psis”. O próprio discurso da Igreja baseia-se hoje, creio, porque como não frequento a Igreja desconheço em grande parte o seu discurso, em algumas bases “científicas”.
Quem impõe hoje um modelo de comportamento padronizado em matéria de moral sexual é essa aliança entre comunicação social (televisão, internet, rádio, imprensa, cinema, publicidade, etc) e um alegado saber científico no domínio das ciências do comportamento. Esta aliança torna-se clara, na paisagem mediática portuguesa, em figuras como Júlio Machado Vaz, Clara Crowford e outros “psis” que frequentam os média portugueses. Mas é também na ficção e na informação que se tem determinado uma nova moral amorosa. Essa moral é claramente o oposto da antiga moral preconizada pela Igreja católica. Há já algumas décadas que essa moral se tornou dominante, numa clara mudança de paradigma que significa também uma mudança em quem tem o poder sobre a vida das pessoas. Essa mudança ocorre, entre outras razões, porque a Igreja perdeu poder, tornando-se nas sociedades ocidentais desenvolvidas naquilo que o polémico filósofo Slavoj Zizek chamou “o frágil absoluto”. E a tendência é para que a Igreja continue a perder poder e multidões.
Torna-se caricato, nesta situação, que num dos últimos estertores da Igreja,quase semelhante a uma supernova, como é o caso da visita de Bento XVI a Portugal, um grupo de pessoas se tenha organizado para distribuir preservativos. O que esse gesto, alegadamente provocatório mostra, é quem tem hoje o poder de determinar e influenciar a sexualidade: não a Igreja (cuja campanha contra o preservativo é feita predominantemente pelos média num discurso acusatório), mas aqueles que estão a distribuir os preservativos. São esses que hoje querem ter poder sobre os nossos corpos e o nosso erotismo.

sexta-feira, março 12, 2010

AS CRIANÇAS CRIMINOSAS


I
Se uma organização criminosa (máfia, terrorismo, etc.) pretendesse uma maior eficácia na prática dos seus actos (por ex. matar alguém), fugindo a qualquer ilícito penal, não contrataria um top guy daqueles que vemos nas séries e filmes de acção, mas “inocentes” crianças, inimputáveis perante a lei. O suicídio de Leandro, de 12 anos, no rio Tua, e o suicídio de um professor de música no Tejo (hoje revelado pelos jornais i e Público), ambos vítimas de bullying, vem revelar esta eficácia assassina por parte das crianças. Até há uns anos atrás a expressão “criança criminosa” poderia remeter para o título de um escritor considerado maldito, Jean Genet, que passou por reformatórios e prisões antes de ser consagrado como um dos mais importantes escritores franceses do século XX.
Agora, pelo menos em Portugal, estamos a assistir a um transbordar do crime praticado por crianças – porque há que dizê-lo: não existindo outras causas fortes, e pelo que os média têm relatado, estas crianças são homicidas, desencadearam situações que levaram ao suicídio de duas pessoas. Levar alguém ao suicídio, pela subjectividade que envolve este acto, torna-se no crime perfeito, o crime de mãos limpas: afinal quem em último lugar decide por termo à vida é o suicida. Nisto, nesta arte da crueldade, as crianças de Mirandela, como as do 9º B da escola de Sintra, podem dar lições aos maiores pulhas do crime organizado. Lembram-se do caso Gisberta?
Em tudo isto a cumplicidade dos adultos é essencial. As crianças / adolescentes não são estúpidas ou ingénuas, sabem que nada, ou praticamente nada, lhes pode acontecer, têm um estatuto sagrado, intocável. São uma moeda viva rara. As escolas são hoje um dos locais de maior violência real e simbólica das sociedades ocidentais. Sempre o foram, mas essa violência que dantes era aplicada pelos professores aos alunos é agora aplicada pelos alunos aos professores.

II
A propósito da criança que se suicidou em Mirandela, ouvia terça-feira na Antena 1, no programa Alma Nostra, a explicação de Carlos Amaral Dias (CAD), psiquiatra e psicanalista. Dizia CAD, logo no inicio do programa (que pode ser ouvido em podcast aqui): “O que acontece é que quando o adolescente se comporta como aquilo a que chamo o adolescente pária, que é o adolescente sem carta, sem identidade, sem pertença grupal, esse adolescente é mais vitima, por causa do seu isolamento social, deste tipo de situações”. Há nestas palavras uma terrível acusação, que não pode passar impune, contra a memória da criança de 12 anos que se suicidou no rio Tua; e também contra todas as outras crianças que foram e são vitimas de bullying.
O bullying não é um fenómeno apenas entre crianças. É antes sancionado por alguns adultos (professores, pais, psis) que o permitem e, por vezes, encorajam. Humilhar, agredir, gozar, mal-tratar é sinal de crescimento e adaptação social. Porque o bullying vai continuar pela vida fora: veja-se o caso dos suicídios na France Telecom. Os adolescentes párias e sem “carta”, segundo a noção fascista do psicanalista da rádio, serão sempre os suicidados da sociedade, aqueles que pela sua diferença a sociedade agradece o suicídio (embora diga o contrário).

sexta-feira, agosto 07, 2009

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


Uma notícia do Público de hoje (p. 7) dá conta de que a Associação Américana de Psicologia aprovou orientações para que “perante pedidos de clientes que lhes peçam ajuda, os psicólogos devem apostar noutras abordagens que não visem a mudança de orientação sexual (..)”. Ora, se alguém devidamente informado, sobre as formas como se processa a tentativa de mudança de orientação sexual (o dever de esclarecimento a que devem estar sujeitos psicólogos, psiquiatras, médicos, psicoterapeutas) quiser, ainda assim, submeter-se a um tratamento para mudar de orientação sexual, porque razão não deverá de existir algum profissional “psi” que o faça? A questão não me parece estar relacionada com os direitos dos homossexuais ou com conceitos como o de homofobia, mas com a transparência e a forma como os “psis” exercem a sua profissão. Ou seja, os “psis” são prestadores de serviços, como os advogados, solicitadores ou outros profissionais liberais. É evidente que como qualquer prestador de serviços há pedidos que não podem ser satisfeitos, quer porque estes não estão dentro das competências do psi, quer porque razões éticas, legais ou pessoais levam a que o psi não aceite o pedido que lhe é feito. Tudo deve ser feito, no entanto, com a maior transparência, verdade e respeito pelo cliente.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

TELHADOS DE VIDRO

A revista Atlântico (porque será que só a direita consegue publicar revistas minimamente interessantes? - porque tem dinheiro para as financiar e a esquerda não?) publicou no último número (10) uma reportagem de Leonardo Ralha, que fez capa, sobre astrologia. Entre as chamadas personalidades ouvidas pelo repórter - Maya e Paulo Cardoso, entre os astrólogos, e uns anónimos - estava o psiquiatra e psicanalista Carlos Amaral Dias como representante da Razão e da Ciência. Não pretendo defender "astrólogos e trabalhadores similares" (assim são considerados como categoria profissional), mas tenho que registar a indignação de Amaral Dias. O psicanalista afirma que "na religião existia a excomunhão para quem não a praticava de acordo com as leis da Igreja. Em Ciência também devia haver uma excomunhão para todos aqueles que compactuam com tudo aquilo que não é científico. Excomunhão, já! Não se pode continuar a compactuar com a deficiência de saber". Destas afirmações do psicanalista infere-se que Carlos Amaral Dias coloca os astrólogos e trabalhadores similares no seu grupo profissional, o dos "psis". Senão porque razão excomungá-los em nome da Ciência? Porque lhes roubam clientela? É necessário puxar pela memória para lembrar que Amaral Dias, o psicanalista português com mais obra publicada, participou na TSF em programas onde respondia, na qualidade de psicanalista, às questões dos ouvintes tal como o faz (ou fazia) a bruxa do computador, Cristina Candeias, na Praça da Alegria da RTP 1. A existência de consultórios em programas de televisão ou rádio sobre assuntos psi, médicos ou júridicos é habitual em todo o mundo, mas não deixa de ser questionável. Será uma prática científica - sendo que, apesar de tudo, Amaral Dias considera o seu trabalho como psicanalista científico - fazer em 3 ou 4 minutos aconselhamento num meio de comunicação social? Não se trata antes de um "show" onde quem se mostra como estrela (especialista) do zodíaco ou do divã ganha os seus x minutos de fama?