terça-feira, setembro 25, 2007

RODEADOS DE LIXO

Cada vez mais estamos rodeados de lixo. O lixo radiofónico das playlists, o lixo televisivo, o lixo dos jornais, a comida lixo, o lixo em que se torna a vida quotidiana... O lixo é o que não é essencial. Mesmo a linguagem torna-se em lixo, e o silêncio em luxo.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Big Brother, 4


"O Google, com todo o seu dinamismo, deu um passo arrojado, como o Street View, que tem gerado grande polémica nos Estados Unidos, o único país onde está disponível. Ao contrário do Earth, que funciona com imagens de satélite, aqui as imagens são reconhidas sem, qualquer aviso, através de uma rede de câmaras. Assim, é possível o reconhecimento das pessoas. É uma escalada perigosa: a vigilância não está ao alcance de uma instituição supostamente idónea e responsavel (...). As imagens são recolhidas por Volkswagens Beattle, com uma câmara no topo. (...). Tal como a imprensa, o Google pode recolher imagens em lugares públicos. Já em termos éticos é reprovável."


Manuel Halpern, Jornal de Letras, p. 39, 12-09-07, edição minha.

sexta-feira, agosto 10, 2007

FÉRIAS EM BEIRUTE

(Foto de Spencer Platt, Beirute Agosto de 2006, vencedora do World Press Photo)

quarta-feira, agosto 08, 2007

DO YOU REMENBER TIENANMEN?

A singularidade qualquer, que quer apropriar-se da própria pertença, do seu próprio ser-na-linguagem, e declina, por isso, toda a identidade e toda a condição de pertença, é o principal inimigo do Estado. Onde quer que estas singularidades manifestem pacificamente o seu ser comum, haverá um Tienanmen e, tarde ou cedo, surgirão os tanques armados.
Giorgio Agamben, A Comunidade Que Vem, Presença, p.68

domingo, agosto 05, 2007

KONSTANDINOS KAVAFIS


AS JANELAS



Nestas salas escuras, onde vou passando

dias pesados, para cá e para lá ando

à descoberta das janelas. - Uma janela

quando abrir será uma consolação. -

Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir

descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.

Talvez a luz seja uma nova subjugação.

Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.



Konstandinos Kavafis, Poemas e Prosas, trad. de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis, Relógio d' Água, 1994, p.83

terça-feira, julho 31, 2007

O DASAPARECIMENTO DO CINEMA


Poderia afirmar que com o desaparecimento de Ingmar Bergman e Antonioni, num curto espaço de 12 horas, é também o cinema que desaparece. Não me parece que seja por estas duas mortes que o cinema desaparece. A obra de um estava já terminada e o outro estaria já impossibilitado de filmar (ou as duas coisas para os dois). O que se passa é que com o desaparecimento destes dois grandes cineastas nos apercebemos que o cinema -- o cinema deles e não só -- já tinha desaparecido. Vejamos: primeiro foram os cinemas que desapareceram do centro das grandes cidades (veja-se o caso do Porto, onde já não há um único cinema a funcionar fora de um centro comercial) -- e já antes tinham sido os cineclubes (mais uma vez invoco o caso do Porto, Lisboa mantém a Cinemateca). Ou seja, a visibilidade de cinema, hoje, está remetida para os grandes centros comerciais. Mas, por uma lógica inevitável, os filmes que ai passam são comerciais, blockbusters vindos de Hollywood. Não há lugar para o cinema como Arte de que Bergman e Antonioni foram máximos expoentes. Esta situação não é de agora: seria difícil ver um filme como Monica e o Desejo numa sala comercial há 20 anos. A quem cabia preservar essa memória do cinema? Aos cineclubes, mas funfamentalmente à televisão de serviço público. E era assim que se passava: a RTP-2, durante as décadas de 80 e 90 passou muitas das grandes obras que constituem a memória do cinema, obras de cinema como arte. Esse era (e deve ser) um imperativo do serviço público de televisão. No entanto, com a tentativa de venda da RTP-2, há cerca de 4 anos pelo ministro Morais Sarmento, e consequente desmantelamento do espírito desse canal, o cinema desapareceu da RTP-2. Hoje os "pacotes" de televisão por cabo oferecem dezenas -- ou mesmo centenas -- de canais. Canais temáticos onde se podem encontrar canais especializados em cinema, mas apesar da dita especialização será dificil encontrar um filme de Bergman num desses canais. Obras como as de Bergman, Antonioni, Tarkovski, Dryer (será assim que se escreve? Não encontrei nenhuma referência ao realizador de A Palavra no Google) passaram a estar disponiveis apenas em dvd nas lojas da fnac ou numa loja virtual. Dirão que é melhor que noutros tempos em que se tinha que esperar que um filme passasse num cineclube ou na televisão. Mas a questão não é essa. A questão passa por uma lógica das imagens que proliferam por todo o lado. O cinema de Bergman, por exemplo, embora perto de certa linguagem televisiva pelo uso de grandes planos, está banido dessa lógica de imagens cada vez mais frenéticas que por todo o lado nos assaltam. As anedotas sobre o cinema de Manoel de Oliveira mostram como essa linguagem cinematográfica não tem lugar na lógica das imagens do mundo contemporâneo. É que a lógica das imagens em que vivemos, que também é a mesma lógica em que vivemos, a lógica do zaping, baniu a lentidão, a magia da "lanterna mágica", a contemplação, o pensamento. Neste sentido há todo um cinema que tende a desaparecer, a tornar-se marginal. E esse é o grande cinema, o cinema como arte, o que pensou e sentiu o mundo.