quarta-feira, outubro 31, 2018

CABRA DA PESTE

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Jair Messias Bolsonaro, antigo capitão do exército, é o novo presidente do Brasil. Porque ganhou as eleições este extremista de direita, perigoso protofascista, seguidor de Trump, defensor do armamento geral da população, amigo dos ultraliberais da escola de Chicago? Enfim, um cabra da peste, um cafajeste. Para se ser honesto, temos que ouvir quem votou nele, e a resposta parece ser o medo. O medo, mais que o ódio. O medo de ser uma das 62 mil vítimas de homicídio que por ano entram para as estatísticas de um dos países mais violentos do mundo. Mas Bolsonaro, com a ideia de distribuir armas pela população só tornará esse número muito maior. Em segundo lugar está a corrupção que grassa por todo o espectro político brasileiro. Ora, foi em nome do combate a essa corrupção que o juiz Sérgio Moro fez um golpe de Estado judicial ao enviar Lula da Silva para a prisão a tempo de que não se pudesse apresentar como candidato. Em condições normais, e apesar do fastio que os brasileiros sentem pelo PT, Lula ganhava a Bolsonaro. É preciso que se diga bem alto: os ministérios públicos (MP) estão a destruir as democracias – o Brasil é um claro exemplo disso. Entre um corrupto e um ditador eu prefiro o corrupto. Bolsonaro é sobretudo o produto de um alarme social (como os juízes gostam de invocar para usar a prisão preventiva) por parte do MP e do super-juíz Sérgio Moro. Em reconhecimento, e sem a mínima vergonha, Bolsonaro pôs à disposição de Sérgio Moro um lugar de ministro. Outro cabra da peste, cafajeste.

sábado, setembro 29, 2018

JOANA MARQUES VIDAL E LUCÍLIA GAGO, A NOVA PGR EX PCTP/MRPP: UMA AGENDA REVANCHISTA

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A direita anda mal. Isso já sabíamos, mas o que custou a engolir foi a não recondução de Joana Marques Vidal como PGR. Ainda mais com a anuência do presidente da República. Porque foi no mandato de JMV que pela primeira vez um ex-primeiro-ministro (do PS, agora sem partido porque abandonado pelos camaradas) foi preso, sem acusação e para que o ministério público investigasse. Isto tanto pode acontecer a José Sócrates como ao Zé da esquina. Costumava acontecer ao Zé da esquina – pilha galinhas ou mãozinhas de artistas do gamanço da carteira do próximo. Tudo isso são actividades indignas de um juiz, um procurador do ministério público, um PJ, etc. A malta não anda a queimar as pestanas para depois prender pilha galinhas, isso é uma desonra. O ministério público, os ministérios públicos de todo o mundo têm que unir-se e tomar conta desta rebaldaria de corruptos que vai pelo mundo. De Portugal ao Brasil, de Espanha à Cochinchina. E nisso, o mandato de Joana (“Oh Joana, pensar que estivemos tão perto” já cantava em sua homenagem Marco Paulo), foi quase exemplar. De Sócrates ao Benfica, o MP mostrou que somos um país de corruptos, a precisar de um novo Salazar para endireitar isto. Mas enquanto Salazar não ressuscita ou renasce, temos o grande timoneiro Carlos Alexandre – prende primeiro, julga depois.

(Deixemos a ironia porque isto é sério e a sério). Tudo isto e muito mais se passou no mandato de Joana Marques Vidal e, certamente vai prosseguir no mandato de Lucília Gago, a nova procuradora que era procuradora-geral adjunta. Que Lucília Gago seja membro do PCTP/MRPP não espanta. Já a figura pública que mais tem dado a cara pelo ministério público, Maria José Morgado, também tem origem nessa escola de admiradores de Mao Tse-tung, um dos mais sanguinários ditadores do século XX.
A verdade é esta: existe uma agenda dos ministérios públicos um pouco por todo o mundo que visa aproveitar a provável corrupção de políticos – principalmente, mas também dirigentes desportivos e outras figuras – para criar instabilidade social. Isto é bem visível no Brasil, onde assistimos a um golpe de Estado perpetrado pelo ministério público e por juízes – a prisão de Lula, favorito nas sondagens para as eleições do próximo dia 7 de Outubro, colocam a instável democracia brasileira à beira de ser tomada por um antigo militar, Jair Bolsonaro, nitidamente fascista e simpatizante da junta militar que instaurou uma ditadura militar no país. Em Espanha, o super-juiz Baltazar Garcón tentou – quase literalmente – desenterrar o penoso passado da guerra civil espanhola. E em Portugal, além da operação marquês, nem o Benfica escapa à fúria justicialista do ministério público. Tudo isto é realmente grave – a justiça parece querer ser um factor de perturbação das sociedades onde está inserida: no Brasil, lançando o país para uma ditadura militar ou um presidente fascista, em Espanha e Portugal – países democraticamente maduros – lançando o alarme social, minando as instituições e referências, como é o caso do Benfica.
Que a nova PGR tenha sido membro de um partido maoísta, assim como foi Maria José Morgado, demonstra uma vontade revanchista alicerçada no passado: se perdemos politicamente no pós-25 de Abril, ganhamos agora desestruturando a sociedade, prendendo os políticos, os dirigentes desportivos, enfim aqueles que nos tempos demenciais do MRPP, seriam encostados à parede de um pelotão de fuzilamento.    

sexta-feira, agosto 31, 2018

MARINE LE PEN E A WEB SUMMIT

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Uma das polémicas levantadas neste mês recordista de temperaturas, foi o convite e desconvite a Marine Le Pen para participar na Web Summit. A questão é complexa e está para além deste convite. Mas parece evidente que não se deve convidar alguém da extrema-direita para discursar seja onde for. Portanto, há uma primeira questão: porque foi endereçado este convite a Marine Le Pen por parte da organização da Web Summit? A resposta não surgiu, porque, creio, nem sequer foi colocada. Mas devia. É que nestes tempos onde se desenha o futuro pós-humano, o futuro – que é já presente – com a Inteligência Artificial, com empresas como o Facebook, a Google ou a Uber, questionar a organização da Web Summit pode parecer algo de sacrílego, como se na Idade Média alguém questionasse a existência de Deus.
Sendo Marine Le Pen a líder de um partido de características fascistas, portanto totalitárias, confesso que gostaria de saber o que realmente esta senhora pensa das novas tecnologias. Isto não quer dizer que numa eventual participação de Le Pen na Web Summit esperasse ouvir a verdade. A verdade sobre o uso do poder político (totalitário) sobre as novas tecnologias vai sendo desvendada na China, onde, para já, se sabe que a policia recorre a scanners para “ler” o conteúdo dos telemóveis de qualquer pessoa. E, neste sinistro estado Chinês, isto parece ser só o começo de uma situação que quase ultrapassa o big brother orwelliano.
Isto vem lembrar que a questão essencial, hoje, não é tanto entre dar a palavra a uma líder de um partido fascista ou censura-la, mas entre estarmos conscientes das implicações das novas tecnologias para a vida de todos nós ou não estarmos conscientes dessas implicações. Porque mesmo nas sociedades democráticas, existe um poder que se faz de algoritmos, ao qual estamos cada vez mais umbilicalmente ligados.

terça-feira, julho 31, 2018

RICARDO & ROBLES, DEMOCRACIA LIMITADA


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O senhor Robles, admirável capitalista neoliberal e especulador imobiliário, levanta-se de manhã para pregar partidas aos seus velhos arrendatários, que se recusam a sair dos locados, como lobos da toca. Cada um destes decrépitos apartamentos, restaurado, vale fortunas que um dia, farão do senhor Robles um frequentador da Forbes, essa montra das grandes fortunas.
Já Ricardo, activista contra a especulação imobiliária, membro do BE e vereador da CML, passa o tempo a perseguir os Robles deste mundo – e do outro, pois que devem existir marcianos a fazer especulação imobiliária em Marte, e também terrestres, não tarda nada.
Nada liga Ricardo e Robles, odeiam-se ferozmente. Até que um dia, os jornalistas, essa escumalha, como diria o presidente pato Donald, descobre que são uma e a mesma pessoa. Ora, capas para vender jornais, escândalos para arrefecer o  jantar, ia lá o Ricardo Robles ser um especulador imobiliário, diz Catarina, a grande do Bloco.

sábado, junho 30, 2018

HELGA MOREIRA


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EM ATENAS

De Lesbos, só o perfume nos chega.
Visitantes de oráculos
e falésias de Corinto.

(de Quem Não Vier do Sul, 1983)

quinta-feira, maio 31, 2018

MANUEL RESENDE

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Na Auto-Estrada

Ainda posso perceber
Esses miúdos nos viadutos
Que atiram pedras aos carros da auto-estrada.
É um gesto eficaz
Que matou alguns caixeiros-viajantes,
E até famílias inteiras,
É pura malvadez
E o mundo precisa de pureza.

Mas como se justificam esses que nos acenam
Com alegria ao passarmos?

(De Poesia Reunida, Cotovia, 2018)



segunda-feira, abril 30, 2018

António Pedro Ribeiro


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DECLARAÇÃO DE AMOR AO PRIMEIRO-MINISTRO

Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
por todos os primeiros-ministros
e pelos segundos
e pelos terceiros
estou apaixonado por todos os presidentes de Câmara
e de Junta
por todos os benfeitores de obra feita
por todos os que erguem e mandam erguer
estradas, pontes, casas, estádios, fontanários, salões paroquiais
estou apaixonado por todos aqueles que governam, que executam,
que decidem sem pestanejar
por todos aqueles que dão o cu pela causa pública
que se sacrificam pelo bem comum sem nada pedir em troca.

Quero votar entusiasticamente em todos eles
Afogá-los em votos
Até que se venham
em triunfo

Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
quero vê-lo num bacanal
com todos os ministros
e todos os ministérios
a arfar de prazer
a enrabar o défice, o orçamento,
o IVA, a inflação, a recessão
ágil e empreendedor
como um super-homem
Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
Quero vê-lo num filme porno.

(de Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro, Objecto Cardíaco, 2006)

*
A ALMA AO GOVERNO

Quero entregar a minha alma ao governo
deixar-me colectar em êxtase
amar-te ordeiramente
como um cidadão cumpridor
quero lançar uma OPA
em directo no telejornal
imolar-me no mercado global

(de Queimai o Dinheiro, Corpus, 2009)

FODA A TODA A HORA

No “Piolho” as estudantes cantam que querem foder a toda a hora. No meio de cânticos estudantis banais as gajas gritam a coisa e incomodam os futeboleiros presos à glória do FCP no ecrã. Gosto desse novo hedonismo regado em cerveja que despreza a ditadura do pontapé na bola. É pena que as estudantes se fechem nesses rituais e não abram as pernas aos poetas.

(de Um Poeta no Piolho, Corpos, 2009)

Com cerca de uma dezena de livros publicados, António Pedro Ribeiro aparece como um marginal ao tom altissonante ainda prevalecente na poesia actual. António Pedro Ribeiro, nascido em 1968, poeta já deste século, habitando a zona do grande Porto e os seus cafés agora invadidos pela turbamalta turística, tem uma poesia desempoeirada, libertária (pelo lado situacionista), imanente, biopolítica (fica sempre bem este conceito), sarcástica, erotizada… retomando a tradição dos Cancioneiros medievais. Em 2017 a editora Exclamação publicou uma antologia da sua poesia, desaparecida em pequeníssimas editoras – Dez Pés Abaixo do Mundo, com selecção dos poemas de Rui Manuel Amaral e prefácio de Nelson de Oliveira.  


sábado, março 31, 2018

O PÓS PASSISMO E OS COMENTADORES

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Qualquer analista sensato, numa democracia saudável, diria bem da estratégia de Rui Rio de viragem à esquerda. Porque depois de oito anos de passismo, onde o país passou pelo seu período mais negro economicamente depois do 25 de Abril, quem sucedesse a Passos Coelho não teria, na actual conjuntura e tendo em conta o que foram os anos do governo PSD/CDS, outra alternativa para evitar um possível desaparecimento ou redução extrema do PSD, senão virar à esquerda abjurando do que foi o PSD de Passos Coelho.
Ora, acontece que não temos analistas ou comentadores sensatos, mas comentadores que fazem o favor a quem lhes paga. Temos uma comunicação social dominada por poderes que tudo fizeram, e ainda fazem, para varrer a crise e as suas consequências para debaixo do tapete. Mesmo ao governo de António Costa não interessa falar das consequências da crise, de como a crise continua a contribuir para escravizar (o termo parece forte mas não é realista) trabalhadores. E os partidos que seguram a geringonça – BE, PCP, PEV – vão criticando o governo, mas na realidade apoiando-o. É uma situação “esquizofrénica”, mas é melhor que não ter nenhuma oposição à esquerda.
Nisto torna-se evidente a falta que fazem novos partidos na sociedade portuguesa. Veja-se o que aconteceu em Espanha com o fim do bipartidarismo dominante desde o fim da ditadura franquista, ou na França onde o Partido Socialista desapareceu. Em Portugal vivemos na inércia, mesmo depois de uma crise como a que tivemos e ainda temos (é bom sublinhar) apenas um novo partido entrou na Assembleia da República, o PAN, com um deputado. O Livre e o partido a que estava ligado Marinho Pinto foram um flop eleitoral. Há nas elites portuguesas um medo da mudança, geralmente apontado como um medo do populismo, que na realidade é apenas o medo dessas elites – os comentadores televisivos, radiofónicos ou da imprensa – perderem o lugar que ocupam e o modo de vida que lhes garante o salário – muitos destes comentadores são profissionais do comentário, exercendo-o em mais que um média. Estão, noutra escala, reféns da precariedade que faz com que os trabalhadores trabalhem precariamente em turnos a desoras, com horas extraordinárias e com salários miseráveis. Mas, se se portarem bem, se cumprirem com os seus papéis de encherem 50 minutos a falar de lugares comuns, numa pseudo pluraridade onde cada um encarna um não muito exagerado lugar de direita, de centro ou de esquerda, falando para nada dizer,  serão certamente premiados. Ora isto não é nada bom para a democracia portuguesa onde habitam velhos fantasmas, incrustados, que ficaram do Estado Novo e moldaram uma certa mentalidade portuguesa.

terça-feira, fevereiro 27, 2018

DE PASSOS A RIO


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Durante oito anos, quatro dos quais como primeiro-ministro Passos Coelho foi o presidente do PSD. Estes oito anos – principalmente os quatro de governo PSD/CDS – foram os piores da democracia portuguesa. O que Passos Coelho fez aos portugueses – desejar e fazer tudo para que a troika entrasse em Portugal; ir além da troika; implementar uma política de austeridade que visava o empobrecimento dos portugueses, o célebre “temos de empobrecer”; enfim, aplicar uma política económica ultraliberal que destruiu a vida de centenas de milhares de pessoas – não tem expressão por agora porque os comentadores de meios de comunicação próximos do PSD não querem perder o emprego (note-se que os média em Portugal pertencem a empresas e têm linhas editorias de direita ou centro-direita). Por isso Passos Coelho mesmo quando se viu forçado a abandonar o PSD continuou a ter boa imprensa, uma imprensa que faz a lavagem dos anos em que foi primeiro-ministro. Por isso não é de espantar as reacções – dos média – ao congresso do PSD que não quis consagrar Rui Rio como novo presidente do PSD. Embora seja discutível se o PSD numa democracia normal e saudável tinha algum futuro ou o destino que teve o PASOK grego, o Partido Socialista em França ou mesmo o bipartidarismo em Espanha, o certo é que Rio tomou a medida que se impunha perante a herança que lhe coube: virar à esquerda, renunciar ainda que implicitamente ao PSD de Passos Coelho. Tudo isto abriu uma guerra, natural, no PSD. Natural porque os deputados que estão na Assembleia da República foram escolhidos por Passos Coelho, alguns fizeram parte desse governo que fez tão mal a Portugal. A tarefa mais difícil para Rui Rio é limpar o PSD desta gente e colocá-lo como um partido com sentido de Estado – que foi o que Passos Coelho não teve quando votou contra o PEC IV. Mas esta é uma tarefa hercúlea, ainda para mais porque Rio tem contra si os média coniventes com o ultraliberalismo passista. A tudo isto há a acrescentar o facto de Rui Rio ser do Porto, e para os lisboetas aqueles que vêm da cidade invicta, seja de que sector for, seja de que quadrante político for, são alvos a abater. O pior que pode acontecer é que passado pouco ou algum tempo depois deste congresso, alguém das hostes passistas queira destronar Rio para continuar o legado do mal, o de Passos Coelho. Mas será que esse legado tem algum valor junto do eleitorado? Será que apesar do masoquismo, da mediocridade apelando para o fantasma de Salazar (Passos Coelho), um PSD passista não ficaria quase apagado da política portuguesa?
Mas resta ainda uma outra questão, mais premente, e da qual depende o cenário político  depois das próximas eleições legistlativas: de que forma a aproximação do PSD de Rio vai afectar este governo de esquerda? Como vai reagir António Costa perante a aproximação de Rio? E como vão reagir os partidos que sustentam a geringonça?