segunda-feira, janeiro 09, 2006

NOTAS SOBRE AS PRESIDENCIAIS

1.O TABU. Cavaco Silva começou a sua campanha pelo silêncio, pela gerência do tabu, há dois ou três anos. Quem se lembra das prédicas semanais do Prof. Marcelo, ainda na TVI, em que opunha Cavaco a Guterres como prováveis candidatos? Cavaco ele-próprio nunca existiu, nunca disse - até há 3 meses - que tencionava candidatar-se a Presidente da República. Mas todos o convocavam, dos comentadores às sondagens. Cavaco foi até há pouco tempo um espectro, o fantasma da nação encarnado nos meios de comunicação social. Nunca uma assombração foi tão bem acolhida.

2. SEBASTIÃO. Desde que D. Sebastião se perdeu no norte de África que os habitantes da região portuguesa (expressão anarquista para designar Portugal), esperam a vinda do nosso messias. No século que terminou tivemos Sidónio Pais e Salazar... e Cavaco. Mas o destino de todos os Sebastiões é cair em desgraça, ficar por terras de África. Cavaco caiu em desgraça há mais de 10 anos. Ninguém se lembra do buzinão, do abandonar o leme para fazer naufragar politicamente um tal Fernando Nogueira nas eleições que ele sabia que ia perder, na derrota frente a Sampaio nas presidenciais? São as brumas da memória mediática. O que é inédito é a remake, o regresso de Sebastião-Cavaco. Um mau filme de terror.

3. IDADE. Em todos os sítios se anúncia um limite de idade. Já não se trata de ter mais de 18 anos para poder entrar (sempre se entra à mesma), mas de ter menos de x anos. O Papa, para ser eleito tem que ter menos de 80 anos. Soares tem 81. Segundo as estatísticas que medem a esperança de vida já devia estar morto, ou então mudar de sexo (a esperança de vida das mulheres é de 81 anos). Portanto, para os homens dos números, Soares já não existe. Mas Soares faz batota: troca os números e fica com 18 (coisas da animalidade política). Mas o povo não gosta, mesmo porque sabe que Soares não é um homem de números, como Cavaco de quem se espera a multiplicação dos euros para o resplendor do consumo.

4. OS OUTROS. Pode dizer-se que são paisagem, mas essencialmente falta-lhes currículo. Em cada português existe um chefe sempre pronto a analisar um currículo de qualquer candidato (a seja o que for). É claro que Alegre tem uma ligeira vantagem sobre Soares, dizem os homens dos números. Mas isso de nada importa. O que importa é o número esmagador de Cavaco, mais de 60 por cento. Assim as coisas ficam arrumadas à primeira volta e poupa-se uns trocos.

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