Mostrar mensagens com a etiqueta Ano literário. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ano literário. Mostrar todas as mensagens

domingo, dezembro 31, 2023

LIVROS EM 2023

 

1, 2023 foi o ano em que o Ministério Público (MP) levou à demissão do governo de António Costa. Depois do ano ter começado com uma série de casos & casinhos que envolviam membros do governo, o golpe final foi dado em Novembro, quando a polícia entrou na residência oficial do primeiro-ministro e um comunicado do MP colocava Costa como suspeito. O primeiro-ministro demitiu-se nesse mesmo dia. Um mês antes, no Médio Oriente, o Hamas, num ataque terrorista, matava cerca de mil israelitas e fazia mais de 200 reféns. A resposta do governo de Benjamin Netanyahu foi uma acção de guerra que até agora fez mais vinte mil mortos palestinianos, na Faixa de Gaza, a maioria deles civis, e parece avançar com intenções de extermínio dos palestinianos.

Mas, no início do ano, algo de novo aparecia no reino da tecnologia em que estamos cada vez mais imersos: o Chat GPT. Concebido pela empresa OpenAi, o Chat GPT, e os modelos que lhe seguiram por parte da concorrência, o Chat Bing (Microsoft) e o Chat Bard (Google), permitem pela primeira vez uma interacção conversacional com um mecanismo de inteligência Artificial (IA). Embora já estivesse presente nos dispositivos electrónicos, nomeadamente nos smarphones, embora a investigação em IA tenha décadas, nunca a IA se apresentou assim perante os humanos: como um chatbot com o qual é possível “falar” (teclar), a quem é possível colocar questões, dúvidas ou pedir para criar algo. Tratando-se de um modelo de linguagem estatístico, o Chat GPT assume uma aura de uma entidade com uma sabedoria que não tem – ainda. A inteligência artificial apareceu como uma ameaça, a juntar a outras como a crise climática e as guerras (na Ucrânia e entre Israel e o Hamas), o que levou, paradoxalmente, alguns dos investigadores em IA a escreverem uma carta onde pediam uma desaceleração na investigação em IA. Vive-se assim entre o desejo que a IA resolva os problemas da humanidade, e o receio que se torne tão ou mais inteligente que os humanos. O certo é que ainda imberbe, a IA aparece como uma ameaça também ao mundo da criação literária. A greve dos argumentistas em Hollywood, que durou cerca de cinco meses, foi causada entre outros factores pela utilização da IA, num claro e primeiro efeito da IA no mundo da criação literária e artística. Os modelos como o Chat GPT têm já a capacidade de escreverem histórias infantis que podem rivalizar com as escritas por escritores humanos. Por altura do aparecimento do Chat GPT a Amazon foi inundada de livros para a infância. Vivemos, assim, num certo meio literário, já condicionado pela inteligência artificial. E o restante mundo editorial (tradutores, revisores, gráficos, etc) poderá ser afectado pela IA.

Num artigo publicado no El País, a escritora e activista Naomi Klein acusava a IA de “grande roubo” a todo o conhecimento humano, tendo o jornal The New York Times materializado essa opinião ao recentemente processar a Microsoft e a OpenAI por violação de direitos de autor. O filósofo José Gil, num ensaio publicado no Público (3-12-23) prevê um cenário distópico: “as obras de arte algoritmizadas serão saudadas como exemplos singulares de criação e engenho das máquinas inteligentes. Os romances, as traduções, os objectos de arte, as composições musicais resplenderão de originalidade inigualável. Produtos de uma enorme complexidade – nós seremos mais simples e pequenos, pobres e felizes.”  

 

2, De três importantes escritores e poetas se comemoraram em 2023 o centenário de nascimento: Eugénio de Andrade, Mário Cesariny e Natália Correia. Eugénio de Andrade (1923-2005), foi um dos principais poetas portugueses da segunda metade do século XX. A sua poesia imbuída de um Eros clássico, principalmente nas primeiras obras, teve ao longo de décadas uma excelente recepção entre os leitores. Treze anos depois do seu desaparecimento, importava averiguar o valor que esta poesia mantém no cânone – universitário, crítico, entre pares e junto dos leitores. Certo é que neste ano de centenário apenas um livro de Eugénio de Andrade foi publico – Aquela Nuvem e Outras (Porto Editora), um livro para crianças. Embora a Assírio & Alvim tenha vindo desde 2012 a publicar individualmente cada um dos livros de Eugénio de Andrade, e já tenha em 2017 publicado a poesia reunida do poeta que nasceu no Fundão e viveu no Porto, e em 2022 a prosa reunida, pouco se notou, a nível de iniciativas, o centenário do autor de As Mãos e os Frutos. Quer isto dizer que Eugénio de Andrade caiu num certo esquecimento, ou talvez num desgaste.

Num sentido contrário podemos falar da obra poética, e não só, de Mário Cesariny. O nome de Cesariny liga-se umbilicalmente ao surrealismo português (juntamente com Alexandre O`Neill e António Maria Lisboa, mas também Mário-Henrique Leiria ou Manuel de Lima), de que foi o criador e teórico (veja-se Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista). Mas a sua poesia maior pode ser resumida a quatro ou cinco poemas que estarão entre os melhores poemas da lírica portuguesa. Mário Cesariny praticou a insubmissão como forma de vida. E essa atitude terá levado a um propositado esquecimento da sua obra que foi recuperada no final da sua vida e nos últimos anos. Daí que ao Cesariny poeta se tenha recuperado o Cesariny artista plástico. A edição da antologia Poesia de Mário Cesariny, e do projecto datado de 1977 de uma heterodoxa antologia de poesia, cujo título Poetas do Amor, da Revolta e da Náusea (ambas organizadas por Fernando Cabral Martins para a Assírio & Alvim) é já em si sintomático da rebeldia de Cesariny, mas também do acolhimento que a sua obra tem tido.

No caso de Natália Correia, não podemos falar apenas de uma escritora e poeta. É, para além disso, a sua biografia que a vai impor como uma figura pública:  deputada à Assembleia da República pelo PSD e depois pelo PRD, mas também pelo programa televisivo Mátria, que Natália Correia se torna conhecida do grande público, já depois do 25 de Abril. Mas, num outro círculo, mais restrito, Natália Correia vai afirmar-se, ainda durante o Estado Novo, como anfitriã e dona de um bar em Lisboa – o Botequim – que procurava ser um espaço de liberdade dentro da ditadura. Na sua actividade de escrita foi romancista, dramaturga, poeta, ensaísta, diarista, organizadora de antologias. Uma dessas antologias, Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1965, primeira edição) valeu-lhe uma condenação de três anos com pena suspensa; foi ainda processada por ser a responsável editorial do livro Novas Cartas Portuguesas (1973). A sua escrita andou pelos caminhos do surrealismo, e com Mário Cesariny partilhou além da rebeldia e insubmissão, a amizade e admiração.

 

3, No que respeita aos livros publicados em 2023, apresento uma lista abaixo, que é uma selecção, lacunar, do que foi publicado. A maior parte recebeu alguma atenção por parte da escassa crítica literária ainda existente (Expresso, Público, JL, pouco mais), outros livros foram ignorados por essa mesma crítica.

Da lista saliente-se, na poesia, uma nova edição da Poesia de Luiza Neto Jorge, revista e aumentada, que vai buscar poemas que a poeta não integrou na reunião da sua poesia em Os Sítios Sitiados (1973), mas estavam em outros livros anteriores; a edição pela primeira vez em português de um autor italo-argentino, Antonio Porchia, mestre no aforismo de forte tonalidade poética, ou no poema disfarçado de aforismo, que foi publicando ao longo dos anos na suas Vozes (Voces). A publicação da obra completa de um poeta mais conhecido como letrista de fados, Pedro Homem de Mello; e também das obras completas de dois autores muito distantes entre si, não só no tempo: o clássico Horácio, e o recente Roberto Bolaño. Ainda obras completas, ou completas até à data: Rita Taborda Duarte, Helga Moreira, Maria da Graça Varella Cid e Ernesto Sampaio, de quem a Maldoror e Língua Morta reuniram em cerca de 400 páginas os poemas e textos em prosa.

Na ficção, no ano que o Nobel da literatura foi para o romancista e dramaturgo norueguês Jon Fosse, os autores portugueses mais conceituados pouco ou nada publicaram (com excepção de Gonçalo M. Tavares, sempre prolifico). Destaque-se o trabalho editorial da E-Primatur que este ano publicou a tradução na integra de Gargântua & Pantagruel de François Rabelais.

No ensaio, destaque-se a reunião da obra ensaística sobre poesia de Joaquim Manuel Magalhães, num grosso volume de quase 1200 páginas, que colige os seus três livros de ensaios e acrescenta inéditos – pelo menos em livro –, assinado com o pseudónimo, ou heterónimo, de António Maria António Pedro. Joaquim Manuel Magalhães é sem dúvida um dos mais lúcidos leitores da poesia portuguesa, e não só. Ainda no ensaio sobre literatura Joana Matos Frias publicou Oscilações (Documenta) e Joana Emídio Marques Notícias do Bloqueio (Língua Morta). A Relógio d` Água publicou mais um ensaio do filósofo Byung Chul Han, desta vez sobre A Vida Contemplativa, mas nesta editora também se publicaram os Ensaios de Robert Musil, e um livro que denúncia os mecanismos tecnológicos de vigilância da ditadura chinesa: Estado de Vigilância de Josh Chin e Liza Lin. Também na linha da crítica das novas tecnologias ao serviço do poder, de Jonathan Crary a Antígona traduziu Terra Queimada – Da era digital ao mundo pós-capitalista. E, entre muitos outros livros destaque ainda para um clássico do pensamento anarquista, Que é a Propriedade? de Proudhon nas Edições 70.

 

 

POESIA

Mário Cesariny – Antologia (Assírio & Alvim, org. Fernando Cabral Martins)

Mário Cesariny – Poetas do Amor, da Revolta e da Náusea (Assírio & Alvim, org. Fernando Cabral Martins)

António Porchia – Vozes (Língua Morta, trad. Nuno Azevedo)

Luiza Neto Jorge – Poesia (ed. Revista e aumentada por Fernando Cabral Martins e Manuele Masini, Assírio & Alvim)

Adília Lopes – Choupos (Assírio & Alvim)

Pedro Homem de Mello – Poemas 1934-1961 (Assírio & Alvim, ed. Luís Manuel Gaspar)

Horácio – Poesia Completa (Quetzal, trad. Frederico Lourenço)

Roberto Bolaño – Poesia Completa (Quetzal, trad. Carlos Vaz Marquez)

Rosa Maria Martelo – Desenhar no Escuro (Averno)

Margarida Vale de Gato – Mulher ao Mar e Corsárias (Mariposa Azual)

Helga Moreira – A Arte de Perder (Tinta da China)

Amadeu Baptista – Danos Patrimoniais. Antologia pessoal 1982-2022 (Afrontamento)

Alberto Pimenta – They` II Never Be the Same (Edições Saguão)

Cesare Pavese – Trabalhar Cansa (Penguin Clássicos, trad. Vasco Gato)

Fernando Guerreiro – Metal de Fusão (Black Sun Editores / 100 Cabeças)

José Amaro Dionisio, Helder Moura Pereira. Fátima Maldonado, F. Cabral Martins – Imperfeição (não) edições

Rita Taborda Duarte – Não Desfazendo (Imprensa Nacional)

Ernesto Sampaio – Luz Central (Maldoror/Língua Morta)

Maria da Graça Varella Cid – Poesia Incompleta (Tigre de Papel)

 

FICÇÃO

François Rabelais – Gargântua & Pantagruel (E- Primatur)

Gustave Flaubert – A Tentação de Santo Antão (Minotauro)

William S. Burroughs – Almoço Nu (Minotauro)

Rui Nunes – Neve, Cão e Lava (Relógio D` Água)

Gonçalo M. Tavares – As Botas de Mussolini (Relógio d` Água)

Gonçalo M. Tavares – Breves Notas sobre o Oriente (Relógio d` Água)

Joseph Conrad – Plantador de Malata (Sistema Solar)

Hélia Correia – Certas Raízes (Relógio D` Água)

Horace Walpole – Contos Hieroglíficos (Antígona)

Monteiro Lobato – Reinações de Narizinho (Tinta da China)

 

NÃO – FICÇÃO

Joaquim Manuel Magalhães – Poesia Portuguesa Contemporânea (Bestiário)

Byung Chul Han – Vida Contemplativa (Relógio d´Água)

Jonathan Crary – Terra Queimada – Da era digital ao mundo pós-capitalista (Antígona)

Joana Matos Frias – Oscilações (Ducumenta)

Josh Chin e Liza Lin – Estado de Vigilância (Relógio d´Água)

Robert Musil – Ensaios (Relógio d´ Água)

Joana Emídio Marques – Notícias do Bloqueio (Língua Morta)

Salvador Dali – Diário de um Génio (Sr. Teste)

Ian F. Svenonius – Contra a Palavra Escrita (Chili com carne)

Maria Filomena Mónica – Os Livros da Minha Vida (Relógio d´Água)

António Castro Caeiro – O que é a Filosofia? (Tinta da China)

João Barrento – Aparas dos Dias (Companhia das Ilhas)

Furio Jesi - Cultura de Direita (Edições 70)

Simon Sebag Montefiore – Mundo (Crítica)

António Vieira – Entrevista (Companhia das Ilhas)

Diogo Ramada Curto – Um País em Bicos de Pés (Edições 70)

José Gil – Morte e Democracia (Relógio d´Água)

Camilo Pessanha – China e Macau (Livros de Bordo)

Alexandra Lucas Coelho – Libano, Labirinto (Caminho)

Michel Eltchaninoff – Lenine Foi à Lua (Zigurate)

Roberto Calasso – O Cunho do Editor (Edições 70)

P-J Proudhon – Que é a Propriedade? (Edições 70)

(Em cima, intervenção sobre fotograma com Mário Cesariny)

 

 

 

sábado, dezembro 31, 2022

LIVROS EM 2022

 


1, A 24 de Fevereiro de 2022 a Rússia invadia a Ucrânia. Não era a primeira vez que a guerra eclodia na Europa depois de 1945, mas desta vez o ocidente (UE, Nato, EUA), não estava disposto a tolerar as ambições lunáticas de Putin. Nem os jornalistas a abdicar do modo monotemático dos telejornais: substituíram a covid pela guerra. O resultado é a divisão do mundo, de novo, em dois blocos, como durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos, com Biden, em nada mudaram: são os polícias do mundo, estão a alimentar a guerra através da ajuda militar à Ucrânia de Zelensky. Parece que ninguém quer a paz. E os Ucranianos, incentivados pelo nacionalismo do fantoche Zelensky, são as vítimas disto tudo. Eles e os soldados russos. A Ucrânia é no início deste século o solo onde se joga uma perigosa e barbara partida de xadrez, onde não pode haver xeque-mate. E, em fundo, ecoa a ameaça nuclear. Ora esse facto, deu lugar na actividade editorial, à publicação de uma série de livros relacionados com o tema. Desde histórias da Rússia, biografias de Putin, à publicação de escritores ucranianos. 

2, Byung-Chul Han. Vivemos em certo sentido "tempos sombrios" (H. Arendt), marcados pela emergência climática, pelo avanço da extrema-direita, por um mundo onde a nossa relação com as coisas, os objectos, se torna cada vez mais virtual, e onde essa virtualização corresponde a uma exploração dos nossos dados por mecanismos mais ou menos secretos de Inteligência Artificial (IA), como o tem vindo a denunciar, numa analítica da actualidade, o filósofo germano-sul-coreano Byung-Chul Han. De Han a Relógio d' Água tem vindo a publicar a sua já extensa obra de pequenos livros - cerca de 100 páginas cada um - onde se procede a uma crítica e elucidação do tempo presente. Este ano publicou Não-Coisas e Infocracia. Ora estes livros, levantando o problema da virtualização das coisas, estão também a levantar o problema da virtualização da leitura. No que respeita aos jornais isso é evidente: são os próprios jornais que cada vez mais apostam nas suas edições on-line. Mais: como tinha previsto Mcluhan, estamos a caminho de uma sociedade oral, onde a leitura em silêncio acabará por desaparecer. São disso exemplo, já, a leitura áudio de artigos por máquinas de IA, como faz, por exemplo, a edição on-line do jornal Público. Mas também o word do windows 11 possibilita a leitura áudio de documentos da mesma forma. 

3, Centenários. 2022 foi o ano do centenário de nascimento de dois dos mais importantes escritores portugueses da segunda metade do século XX: José Saramago e Agustina Bessa-Luís. Foram também personalidades politicamente nos extremos. José Saramago, filho de pobres agricultores, tornou-se militante do PCP durante a ditadura do Estado Novo; depois do 25 de Abril, e durante o chamado "verão quente" de 1975, foi director-adjunto do Diário de Notícias, então nacionalizado. Os escritos de Saramago, no Diário de Notícias não constam das suas Folhas Políticas, livro que recolhe textos entre 1976 e 1998. Mas terá sido um período de efervescência em que o escritor José Saramago começou a nascer para a escrita que o viria a consagrar com o Nobel da literatura (é certo que já tinha publicado um romance e 3 livros de poemas). Do outro lado, completamente oposto, temos Agustina Bessa-Luís, filha de uma família burguesa. Incorporou o espírito familiar na defesa de um reaccionarismo  bastante patente na sua vasta obra, estranha e por muitos julgada de quase genial. A origem social foi marcante para a obra destes dois escritores tão antagónicos. Mas no caso de Agustina, a sua defesa de classe torna-se por vezes enervante. A utilização da palinódia, esse dizer e desdizer, fazer e desfazer verbal; o aforismo, em que a escritora de Amarante foi prolifica, serviram sempre uma causa extremamente conservadora, escandalosa por vezes, como a caracterizou Eduardo Prado Coelho em A Noite do Mundo. Recorde-se um episódio sintomático: depois da SPA ter atribuído um prémio literário a Luandino Vieira, a PIDE destruiu a sede da SPA; Óscar Lopes escreveu a Agustina - entre outros escritores - para tomarem uma posição publica, mas a autora de A Sibila declinou qualquer compromisso. Agustina vivia num "mundo fechado" (título do seu primeiro livro) que não reconhecia a existência do outro - nisso, creio, reside o "escândalo" a que aludia EPC. Já o Saramago que terá participado dos saneamentos de trabalhadores do DN, fá-lo no período de uma efervescência revolucionária. 

Mas este ano de 2022 também foi o ano do centenário do nascimento de Pier Paolo Pasolini. Cineasta, dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, Pasolini foi sobretudo alguém polémico no meio intelectual italiano. Polémico porque lúcido, polémico porque pensava por si, fora de qualquer categoria de adestramento ideológico, porque sendo comunista, homossexual e católico era já o bastante para desarrumar as etiquetas que não lhe conseguiam colar. Por isso, também, incómodo. Pasolini é, ao mesmo tempo o realizador do filme Evangelho Segundo S. Mateus e o autor do romance Vida Violenta; o autor do filme Saló ou os 120 Dias de Sodoma onde denúncia o fascismo italiano de Mussolini e o que também existia de fascista, avant la lettre na obra de Sade; é contra o aborto e denuncia o desaparecimento dos pirilampos como signo do capitalismo e das luzes eléctricas que avançam pelo espaço da noite. De Pasolini foi este ano editado pela VS Entrevistas Corsárias - sobre a política e a vida, A Poesia é uma Mercadoria Inconsumível (Sr. teste) e O Odor da Índia (Desassossego) - relato de uma viagem à Índia na companhia de Alberto Moravia e Elsa Morante. João Oliveira Duarte publicou um glossário em forma de ensaio sobre temas pasolinianos: Não Sou da Família - Notas Sobre Pasolini (BCF Editores). Recorde-se que Pasolini seria assassinado a 2 de Novembro de 1975 na praia de Óstia, por um ragazzo di vita. Em homenagem a Pasolini os Coil compuseram esta magnifica canção, precisamente intitulada Ostia.

De Marcel Proust, o autor de um dos grandes romances do século XX, esse imenso Em Busca do Tempo Perdido (a tradução para português europeu é de Pedro Tamen e está publicada na Relógio d' Água), comemoraram-se este ano os 100 anos do falecimento. Por cá em silêncio total. Outro dos mais referenciados como grande romance do século XX, ou de sempre, é Ullises de James Joyce - livro quase intragável que comemorou este ano o centenário da sua primeira edição. A Relógio fez uma edição especial da tradução de Jorge Vaz de Carvalho, enquanto a Livros do Brasil reeditou a tradução de João Palma-Ferreira.

4, Pessoa. Fernando Pessoa continua a assombrar a literatura portuguesa e não só. Este ano publicaram-se duas biografias do poeta dos heterónimos: de Richard Zenith, um dos principais estudiosos e editor da obra pessoana, foi traduzida para português a sua monumental biografia de Fernando Pessoa - Pessoa. Uma Biografia (Quetzal) que foi finalista do Prémio Pulitzer. A outra biografia de Pessoa, é da autoria de João Pedro Gorge - O Super-Camões. Biografia de Fernando Pessoa (D. Quixote) - foi menos referenciada. João Pedro George é autor de biografias de Luiz Pacheco, da Marquesa de Paiva ou de Mota Pinto, o presidente do PSD que nos anos 80 formou governo com o PS de Mário Soares. A biografia de João Pedro George é também a segunda feita por um autor português, mais de 70 anos depois de João Gaspar Simões escrever a primeira biografia de Pessoa. Na verdade, descontando uma biografia feita por um brasileiro, há poucos anos, e que os pessoanos rejeitaram como pouco séria, existiam apenas duas biografias sobre Fernando Pessoa: a de Gaspar Simões e a de Robert Bréchon publicada nos anos 1990. 2022 foi o ano em que apareceram mais duas. Pessoa é tido, por uma ideia generalista, como quase não tendo biografia; o que viveu, os seus pensamentos, estão em fragmentos dentro da famosa arca. Em parte isto será verdade: se Wittgenstein poderia referir como o melhor da sua obra tudo o que não escreveu (mas pensou, ou mesmo verbalizou), já Pessoa parece ter apontado quase tudo o que pensou. E nenhuma biografia pode ultrapassar essa grande obra que é o Livro do Desassossego, onde existem resquícios auto-biográficos. Mas a vida de Pessoa vai para além da sua escrita, do seu "texto" que ele deixou para que outros o fixassem. E é nesse labirinto pessoano, quase um palimpsesto, que Pessoa continua vivo, nas múltiplas variantes dos seus textos, a "obra" pessoana é sempre incompleta.    

5. Pessoa, o Prémio. O Prémio Pessoa é atribuído desde 1987 pelo semanário Expresso. Tem galardoado poetas, escritores, cientistas, historiadores, artistas, juristas, arquitectos, etc. A lista já é longa e inicia-se com José Mattoso (em 1987). Como poetas o prémio foi entregue a António Ramos Rosa (1988), Vasco Graça Moura (1995), Manuel Alegre (1998), Mário Cláudio (2004) e - única rejeição - a de Herberto Helder (1994). Agora, em 2022 o júri entendeu voltar a atribuir o prémio a um poeta e escolheu... João Luís Barreto Guimarães. É simplesmente uma escolha que não se percebe - embora o júri, sempre presidido por Francisco Pinto Balsemão, não pareça perceber muito de poesia, tem entre os seus elementos a ex-crítica literária Clara Ferreira Alves. Qualquer que seja a lógica do prémio (galardoar consagrados ou pessoas de quem se espera que "ofereçam obras" á sociedade), o nome de Barreto Guimarães aparece no fim de uma lista onde há muitos outros poetas que mereciam o prémio. E nisso é bom não esquecer poetas como António Franco Alexandre, José Agostinho Baptista, João Miguel Fernandes Jorge, Paulo da Costa Domingos, Fátima Maldonado, Nuno Júdice, entre outros, que iniciaram a publicação da sua obra na década de 70. Mas se o júri queria dar o prémio a alguém que por várias razões o merece, mesmo porque pertencem à geração de Barreto Guimarães, a dos poetas dos anos 80, tinha dois nomes: Adília Lopes ou Carlos Poças Falcão. Adília é já um nome incontornável na poesia portuguesa, precisamente pela sua aparente apoeticidade, por uma poesia da imanência que sobrevaloriza - e bem - a vida à obra. Já Carlos Poças Falcão, poeta também dos anos 80, é um poeta extremamente discreto que só a reunião da sua poesia completa, em 2012, com Arte Nenhuma (republicada com acrescentos em 2020 pela Língua Morta) pôde dar uma visão geral da obra deste poeta que está entre os melhores da poesia portuguesa actual. J. L. Barreto Guimarães é apresentado como poeta tradutor e médico; vive no Porto e há anos que com Jorge de Sousa Braga edita o blogue Poesia Ilimitada.  Aliás Sousa Braga, que também é médico (obstetra) e vive no Porto, seria um nome com mais notabilidade para receber o prémio Pessoa, mas o júri talvez não quisesse entregar o prémio a um poeta que é autor de um livro intitulado De Manhã Vamos Todos Acordar Com Uma Pérola no Cu  (Fenda, 1983). Note-se ainda que, embora sem nenhuma formação académica para o efeito, Barreto Guimarães lecciona no curso de medicina do ICBAS, uma cadeira de poesia. No entanto, a sua poesia, por vezes, adentra-se numa perigosa ironia que uma leitura literal (e onde começa a ironia e acaba a literalidade?) pode chocar com a deontologia da sua profissão.

Enfim, há nos prémios que concernem ao campo literário sempre uma injustiça. Neste caso, do Prémio Pessoa, é de lembrar que Fernando Pessoa quando concorreu com a Mensagem a um prémio de poesia ficou em segundo lugar. Do vencedor ninguém sabe hoje o nome. Um outro prémio literário bastante discutível é o Nobel da literatura, que este ano foi para a francesa Annie Ernaux. Mas o Nobel da literatura tem já as suas regras, que alguns ingénuos teimam em não perceber. Para já, uma regra clara é a equidade de género (ou quotas literárias): um ano um homem, no outro uma mulher.

6, Vejamos agora os livros publicados em 2022, dos quais fiz uma selecção dividida por géneros. No que respeita à poesia, parto de uma citação de António Guerreiro, no suplemento Ípsilon do Público de 23-12-22: "o que a poesia contemporânea tem de mais importante deixou de ser maioritariamente assinado por nomes masculinos" (p.14). De facto, isso é hoje uma evidência, cujo diagnostico é um pouco tardio: a década de 2010 é já marcada pelo aparecimento de algumas poetas e o consolidamento de outras. A par disso dá-se um desvanecimento de uma poesia do quotidiano ou do real (e o gesto radical de Joaquim Manuel Magalhães em Um Toldo Vermelho, também é disso sintomático), que a antologia Poetas Sem Qualidade, organizada por Manuel de Freitas, constituiu um marco. Nomes como Andreia C. Faria, Raquel Nobre Guerra, Margarida Vale de Gato, Cláudia R. Sampaio ou Elisabete Marques (para só nomear autoras que publicaram este ano e constam desta lista), trouxeram uma inflexão á poesia portuguesa, que genericamente parte de um abandono da poesia do real. Nomes como Isabel de Sá (ou Eduarda Chiote), voltaram a publicar depois de anos sem publicar. No caso de Isabel de Sá, publicou a sua poesia reunida (pela segunda vez depois de Repetir o Poema - Quasi, 2005 - e do inédito O Real Arrasa Tudo, em 2019). Trata-se de uma obra das mais singulares da poesia portuguesa, que tem sido esquecida. Desta constelação de mulheres poetas - ou poetisas - assinale-se ainda Adília Lopes, nome cimeiro da poesia actual que este ano publicou o livro Pardais. Um dos poetas mais esquecidos da poesia portuguesa contemporânea é Rui Diniz, que no início da década de 70 publicou Ossuário. Este ano, cerca de 50 anos depois, publicou Ossos de Sépia. Registe-se ainda a reedição da poesia de António Gancho na Assírio & Alvim, editora que apostou para calhamaço do ano na obra completa de Paul Celan, um dos grandes poetas do século XX, cuja poesia é marcada pelo Holocausto.

No que respeita à ficção, assinalem-se três autores malditos: Michel Houllebecq, Thomas Bernhard e Jean Genet. Este último, tem andado arredado da edição em Portugal, pelo menos desde que a Hiena o públicou. António Lobo Antunes publicou, aos 80 anos, O Tamanho do Mundo (D. Quixote). De George Orwell foram publicados mais dois romances (Emergir Para Respirar - Relógio d' Água - e História de Um Homem Comum - E-Primatur). Orwell é de facto um autor fundamental para os tempos que atravessamos, e a edição portuguesa tem feito jus a esse facto, editando quase toda a obra do autor de 1984.

Quanto ao ensaio a colheita foi boa e abundante. Destaque-se o primeiro volume dos Ensaios de Montaigne publicado pela E-Primatur e os 48 Ensaios de Virginia Woolf. Para além dos livros de Byung-Chul Han, outros títulos colocam-nos questões. É o caso do título de Angela Davis editado pela Antígona: As Prisões Estão Obsoletas? Mas, também, do Livro do Clima organizado por Greta Thunberg. Noutro registo, Miguel Esteves Cardoso recuperou a sua Escrítica Pop e as crónicas que escreveu no Independente. Livros de Foucault (o seminário sobre essa categoria da psiquiatria e da biopolítica que foram Os Anormais), de Agamben sobre o período da loucura de Holderlin, de Deleuze sobre Proust em ano do seu centenário. Federico Bertolazzi com No Reino da Terrível Pureza (Documenta) interroga a edição da obra de Sophia. Para o autor, Sophia tem estado a ser censurada por uma série de artigos que ela publicou na imprensa não terem sido editados em livro. 

A mancha gráfica de um livro nem sempre é constituída por palavras. Por vezes surgem as imagens, ou quase só imagens. Estão neste caso os livros de Banda Desenhada ou novelas gráficas. Por isso faço referência a 3 livros nesta lista: a Obra Gráfica de Mário Henrique Leiria (que completa a edição das suas obras completas editadas na E-Primatur), a reedição da reportagem gráfica Palestina da autoria de Joe Sacco, e de Reinhard Kleist uma obra gráfica sobre Nick Cave. E, ainda, um livro de fotografia de um dos grandes foto-repórteres portugueses: Alfredo Cunha, publicado na colecção Ph da Imprensa Nacional com textos de António Barreto e David Santos. Esta é uma excelente colecção de fotografia, onde já foram publicados livros de Jorge Molder, Paulo Nozolino ou José M. Rodrigues com textos de José Bragança de Miranda, Rui Nunes ou Maria Filomena Molder.

7, Editoras. Basta olhar para a lista, para encontrar algumas pequenas e médias editoras, fora dos grandes grupos (Porto Editora, Leya), que, penso, melhor têm editado. É o caso da Antígona, Relógio d' Água, Tinta da China, Documenta ou E-Primatur - entre as médias editoras - e da Barco Bêbado, Sr, Teste, Língua Morta, Saguão, Dois Dias ou BCF Editores entre as pequenas editoras. O grupo Almedina, a que pertence a bastante activa Edições 70, tem feito um excelente trabalho editorial que dignifica esta chancela com quase 50 anos de existência.


POESIA

Adília Lopes - Pardais (Assírio & Alvim)
Isabel de Sá - Semente em solo adverso (Officium Lectionis)
Andreia C. Faria - Canina (Tinta da China)
Raquel Nobre Guerra - A divisão da alegria (Tinta da China)
Cláudia R. Sampaio - Uma mulher aparentemente viva (Porto Editora)
Rui Diniz - Ossos de sépia (Língua Morta)
Rui Baião - Motim (Barco Bêbado, c/ posfácio de Rui Nunes)
Paulo da Costa Domingos - Na sombra da quinta vertical (Barco Bêbado)
Paul Celan - Os Poemas (Assírio & Alvim, trad. Mª Teresa Dias Furtado)
J. W. Goethe - Os Poemas (Edições 70)
F. Nietzsche - Poemas (Edições 70)
Horácio - Odes e epodos (Tinta da China)
Robert Walser - Estou só e fora do mundo: 50 poemas (Sr. Teste)
Margarida Vale de Gato (org. e trad,) - O outono de oitocentos (Flop)
Elisabete Marques - Estranhos em casa (Língua Morta)
José Afonso - Obra Poética (Relógio d' Água)
Vítor Silva Tavares - Poemas de amor e ódio (Barco Bêbado)
António Gancho - O ar da manhã (Assírio & Alvim, reed.)
José Carlos Soares - Medição dos Arvoredos (Alambique)

FICÇÃO
Michel Houllebecq - Aniquilação (Alfaguara)
Thomas Bernhard - Geada (Dois Dias Editora)
Jean Genet - Diário do Ladrão (Minotauro)
Geoffrey Chaucer - Contos de Cantuária (E-Primatur, trad. Daniel Jonas)
Thomas Carlyle - Sartor Resartus (Imprensa Nacional)
Henrich von Kleist - Estranha profecia e outros textos (E-Primatur)
Isaac Asimov - Eu, Robô (Relógio d' Água)
Woody Allen - Gravidade zero (Edições 70)
George Orwell - Emergir para respirar (Relógio d' Água)
George Orwell - História de um homem comum (E-Primatur)
Gonçalo M Tavares - O diabo (Bretrand)
António Lobo Antunes - O tamanho do mundo (D. Quixote)
Raquel Gaspar da Silva - A pedra é mais bela que o pássaro (Caixa Alta)
Dulce Garcia - Olho da rua (Companhia das Letras)
João Reis - Cadernos da água (Quetzal)

ENSAIO
Virginia Woolf - 48 Ensaios (Relógio d' Água)
Michel de Montaigne - Ensaios (E-Primatur)
Byung-Chul Han - Infocracia (Relógio d' Água)
Byung-Chul Han - Não-Coisas (Relógio d' Água)
Greta Thunberg (org.)- O Livro do Clima (Objectiva)
Critical Arte Ensemble - Desobediência civil electrónica e outras ideias impopulares (Barco Bêbado)
Angela Davis - As prisões estão obsoletas? (Antígona)
Michel Foucault - Os anormais (Edições 70)
Giorgio Agamben - A loucura de Holderlin (Edições 70)
Gilles Deleuze - Proust e os signos (Barco Bêbado)
J. W. Goethe - A metamorfose das plantas (Saguão, trad. Maria Filomena Molder)
Miguel Esteves Cardoso - Escritica pop (Bertrand)
Miguel Esteves Cardoso - Independente demente (Bertrand)
André Barata - Para viver em qualquer mundo (Documenta)
Fernando Rosas (coord.) - Revolução Portuguesa 1974-75 (Tinta da China)
António Araújo - O mais sacana possível - a revista Almanaque (Tinta da China)
Rosa Maria Martelo - Devagar, a poesia (Documenta)
Frederico Pedreira - Um virar de costas sedutor (Relógio d' Água)
AA VV - Sobre Sophia: novas leituras (Assírio & Alvim)
Federico Bertolazzi - No reino da terrível pureza (Documenta)
João Oliveira Duarte - Não sou da família. Notas sobre Pasolini (BCF)
Luís Varela Aldemira - Arte e psicanálise (Taiga)
S. Kierkegaard - Diário de um sedutor (Sr. Teste)
David Graeber e David Wengrow - O príncipio de tudo - uma nova história da humanidade (Bretrand)
Carlo Rovelli - O Abismo vertiginoso (Objectiva)
Susan Sontag - Contra a interpretação (Quetzal)
Elena Ferrante - As margens e a escrita (Relógio d' Água)
Carlos Taibo - Ibéria esvaziada (Livraria Letra Livre)
Luís Mateus - O campeonato do mundo (Kathartika)

OUTROS. BIOGRAFIA, DIÁRIO, VIAGENS, NOVELA GRÁFICA
Richard Zenith - Pessoa. Uma biografia (Quetzal)
João Pedro George - O Super-Camões, biografia de Fernando Pessoa (D. Quixote)
Benjamin Moser - Sontag: vida e obra (Objectiva)
Witold Gombrowicz - Diário II (1959-1969) (Antígona)
Fernando Pessoa - Diário e escritos autobiográficos (Assírio & Alvim)
Pier Paolo Pasolini - O odor da Índia (Desassossego)
Alberto Moravia - Cartas do Sahara (Tinta da China)
Walter Benjamin - Diários de Viagens (Assírio & Alvim)
Mário-Henrique Leiria - Obra gráfica (E-Primatur)
Joe Sacco - Palestina (Tigre de Papel)
Reinhard Kleist - Nick Cave: Mercy on Me (Minotauro)





sexta-feira, dezembro 31, 2021

LIVROS EM 2021



 
1, Num ano em que a pandemia continuou a assolar o mundo, continuaram a editar-se e a vender livros - apesar do confinamento no início de 2021 em Portugal, que fechou também as livrarias. O tempo que vivemos é em parte orwelliano (veja-se como transportamos algo como um Big Brother nos nossos bolsos, e dele estamos cada vez mais dependentes), mas nos últimos quase dois anos teve a adicionante de uma pandemia. Como os direitos de autor de George Orwell passavam para o domínio público este ano, várias editoras prepararam edições de 1984 e Animal Farm. De 1984, um livro que é uma bíblia para os nossos tempos, pelo menos seis editoras publicaram o romance - a Porto Editora, D. Quixote, Livros do Brasil, Clube do Autor, Clássica Editora e Relógio d' Água (esta com um prefácio de Gonçalo M. Tavares). São muitas editoras a publicarem traduções do mesmo livro, mas isso só ajuda à leitura de 1984, como também aconteceu com Animal Farm, (conhecido por O Triunfo dos Porcos) que teve várias e diferentes traduções. Destaque-se ainda, em volta de George Orwell, a publicação de 3 novelas gráficas de 1984.

2, Um género talvez menor no panorama editorial português é o ensaio, e em particular o ensaio com a assinatura de autores portugueses. Este ano tivemos a reunião das crónicas escolhidas, por António Guerreiro, que há anos publica semanalmente no Público. Para o autor de Zonas de Baixa Pressão, que escolhe cerca de 200 crónicas, são micro-ensaios, agrupados por temas como a política, o jornalismo, a escola ou a literatura, entre outros. Vale a pena recordar que António Guerreiro escreve há décadas nos jornais, o que faz dele uma figura não só de crítico literário, mas na ausência de um Eduardo Prado Coelho, talvez dos últimos intelectuais a escreverem na imprensa, o seu substituto. Diga-se que a bibliografia de António Guerreiro é escassa, e que muitos textos de crítica literária que foi publicando ao longo dos anos - principalmente no Expresso - mereciam ser reunidos em livro, porque abrem horizontes de leitura da obra de alguns autores, principalmente poetas. Outros ensaios a referir, entre a filosofia e os estudos literários são os dois livros publicados por Maria Filomena Molder, 3 Conferências (sobre o Qohélet / Ecclesiastes)(esta editada pela Saguão é a primeira), e o pequeno livro A Arqutectura é um Gesto - Variações sobre um motivo wittgensteiniano (edição da pequena editora Sr. Teste). Também Silvina Rodrigues Lopes reuniu um conjunto de ensaios publicados pelas edições Saguão, O nascer do mundo nas suas passagens. Um novo pessoano, Humberto Brito, apareceu com A interrupção dos sonhos - ensaios sobre Fernando Pessoa (Relógio d' Água). Por fim, o destaque para duas figuras do pensamento libertário: Guy Debord com os seus Comentários sobre a Sociedade do Espectáculo (Antígona) e Piotr Kropotkine  de quem, no seu centenário a Antígona editou O Apoio Mútuo (trad. Miguel Serras Pereira) - um livro a ser lido e pensado, contra o darwinismo social que atravessamos e ao qual o autor se opunha.

3, No que respeita à ficção, saliente-se a ausência de alguns autores consagrados, como A. Lobo Antunes. Queria, no entanto, referir-me a uma autora que já tendo começado a publicar em 1980, mantém uma discrição notável no meio literário português: Teresa Veiga. Este ano publicou na Tinta da China mais uma excelente novela - ou romance -, O Senhor d´Além. De Teresa Veiga, que já ganhou o prémio de conto Camilo Castelo Branco por 3 vezes e o prémio de ficção do Pen Clube português, pouco se sabe para além de uma "nota biográfica" que aparece no final do seu último livro. A autora não dá entrevista, não se lhe conhecem fotografias, e evidentemente não participa em festivais literários. Não será propriamente uma Elena Ferrante, mas a postura ética das duas autoras em relação à mediatização do escritor aproximam-se.

4, Chegamos à poesia, de que se apresenta mais abaixo uma longa lista de livros publicados. De salientar que esta lista tem várias lacunas, não pretendendo ser exaustiva. Talvez o livro mais estranho publicado em Portugal em 2021 tenha sido Vaca Preta de Marcos Foz (edição Snob). Trata-se de um hibrido entre poesia e prosa. O autor publicou, em edição de autor, em 2019, o seu primeiro livro de poesia, logo, estaremos na presença de um poeta? Mas Vaca Preta inicia-se por um poema que ocupa as primeiras 25 páginas do livro; mas o mais estranho neste poema, é a inserção abundante de imagens a cores e também a preto e branco sem que sejam propriamente ilustrações. Na página 27 começa a segunda parte do livro, que tem cerca de 130 páginas, com texto em prosa. Talvez se lhe possa chamar-lhe prosa poética. Para além disso o livro tem um encarte de 16 páginas. Este será um dos objectos literários mais estranhos da literatura portuguesa. Talvez se possa enquadrar numa nova vaga de poesia experimental, de que os últimos livros de Rui Pires Cabral seriam um exemplo. Mas o ano contou também com a "reabilitação" de um poeta que estava esquecido por não publicar: António Franco Alexandre que publicou na Assírio & Alvim Poemas, a reunião da sua obra poética, acrescida de um novo conjunto de poemas. Destaque-se ainda a publicação de um livro de inéditos de Joaquim Manuel Magalhães, Canoagem, que prossegue a segunda vida poética do autor de Um Toldo Vermelho. Obras reunidas a salientar: Fatima Maldonado, com Sem Rasto (Averno), Albano Martins com Por ti eu daria (ed. Glaciar), António Aragão com Obra (Re)Encontrada e Adília Lopes que voltou a reunir a sua obra, uma vez mais sob o título Dobra, um volume que já ultrapassa as mil páginas. A Assírio & Alvim, de cujo catálogo de 2021 já referimos alguns títulos, ainda editou Todos os Poemas de F. Holderlin numa nova tradução de João Barrento (já existia a de Paulo Quintela, mas cada época tem o seu germanista de serviço), a poesia completa de Sá de Miranda, a prosa completa de Sophia, a ainda poesia completa de Garcilaso de la Vega numa tradução de José Bento... ou seja, são demasiados calhamaços, demasiadas obras completas, excesso de peso poético.


ABYSMO
Miguel Martins - Do lado de fora
Fernando Pessoa - Odi maritimu / Ode maritíma (cabo verde - português)
Luís Miguel Gaspar - As portas de Santo Antão
Ana Freitas Reis - Cordão

AFRONTAMENTO
Amadeu Baptista / Jorge Velhote - Um dia na eternidade

ALAMBIQUE
Inês Francisco Jacob - Maremoto

ARTEFACTO
André Tomé - Tabernáculo

AVERNO
Amalia Bautista - Trevo
Vítor Nogueira - Rés do Chão
José Alberto Oliveira - Sumário
Paulo da Costa Domingos - Cadeiras Vazias
Fátima Maldonado - Sem rastro
António Barahona - Bocca de pedra
Emanuel Jorge Botelho - Manual dos dias cavos

ASSÍRIO & ALVIM
António Franco Alexandre - Poemas
Friedrich Holderlin - Todos os Poemas (trad. João Barrento)
Sophia de Mello Breyner Andresen - Prosa
Kamo no Chomei - Hojoki - reflexões da minha cabana (trad. Jorge de Sousa Braga)
AA VV - Resistir do Tempo (antologia de poesia catalã)
Francisco Sá de Miranda - Obra completa
Daniel Faria - Sétimo Dia
Daniel Jonas - Cães de chuva
Marta Chaves - Avalanche
Ana Luísa Amaral - Mundo
Pedro Eiras - Purgatório
Luís Quintais - Ângulo Morto
Masaoka Shiki - Aves dormindo enquanto flutuam (trad. Joaquim M. Palma)
Adília Lopes - Dobra (Poesia reunida)
José Tolentino Mendonça - A noite abre meus olhos (Poesia reunida)
José Tolentino Mendonça - Introdução à pintura rupestre
Luís Filipe de Castro Mendes - Voltar
Jorge de Sena - Coroa da terra
Jorge de Sena - Perseguição
Garcilaso de la Vega - Poesia Completa (trad. José Bento)
Safo - Poemas e fragmentos (trad. Eugénio de Andrade)

BARCO BÊBADO
Gregory Corso - Gasolina (trad de Hugo Pinto Santos)
Michel Mc Aloram - No indistinto esquecido(s) (trad. de Jorge Pereirinha Pires)
Pier Paolo Pasolini - Who is me - Poeta das Cinzas (trad. Ana Isabel Soares; pref. Rosa Maria Martelo)
Paulo da Costa Domingos - Neve sobre a roseira
Maria Jesus Echevarria - Poemas da cidade (trad. Paulo da Costa Domingos)
Paul Éluard - A cama a mesa
Rui Baião - STRANGVLATORIVM

CONTRACAPA
AA VV - O destino da árvore é transformar-se em papel (antologia de poesia sueca, trad. Amadeu Baptista)
AA VV - O mundo adormecido espera impaciente (antologia da poesia finlandesa)
AA VV - Sonhador adormecido e perpétua insónia (trad. e sel. Seguenail e Regina Guimães)
Zetho Gonçalves - Transversões [poemas reescritos em Português]
AA VV - Um pouco do meu sangue (antologia da poesia italiana) (sel. e trad. João Coles)

COMPANHIA DAS ILHAS
Cláudia Lucas Chéu- Beber pela garrafa
Alámo de Oliveira - Versos todas as luas (Poesia reunida)
Mário T. Cabral - O livro dos anjos
Catarina Costa - O vale da estranheza

DO LADO ESQUERDO
Gemma Gorga - O anjo da chuva (trad. de Miguel Filipe Mochila)
Jane Hirshfield - Uma cadeira à neve (trad. Francisco José Craveiro Carvalho)

DOUDA CORRERIA
Helena Costa Carvalho - Núbil
Tiago Lança - Entre campos
Rafaela Jacinto - Fiz uma coisa má
Margalit Matitiahu - As portas da união (trad. Susana Mateus / Miguel Jesus
Mauro Filipe da Silva Pinto - Poeta professor de educação física
Nuno Moura - Cordas veias
Miguel Loureiro - O longo peido da sequóia (pref. Pedro Mexia)
Ana Joaquim - Whatsapp p/ bitches
Inácio Luís - Qualquer coisa com algo da mesma espécie
Luís Fazendeiro - Manifesto cibernético-naturalista
Regina Guimarães / Alexandra Ramirez - Os rapazes também pintam o cabelo
Rafaela Jacinto - Regime (2º ed)
Linda Pastan - Estes anos a desaparecerem (trad. Francisco Carvalho)
Ana Martins Marques - Linha de rebentação
Angélica Freitas - Um útero é do tamanho de um punho
Wilson Alves Bezerra - Necromancia tropical (pref. Luís Maffei)
Dinis Lapa - Barbabélico
Beatriz Regina Guimarães Barbosa - Querides Monstres
Mordechai Gelman - Teoria do um e outros poemas (trad. João Paulo Esteves da Silva)

EDIÇÕES DO SAGUÃO
Rui Pires Cabral - Tense Drills
Cesare Pavese - Virá a morte e terá os teus olhos (trad. Rui Caeiro e Rui Miguel Ribeiro)
António Aragão - Obra (Re)Encontrada [Poesia reunida]
Alberto Pimenta - Ilhíada

EXCLAMAÇÃO
Isabel de Sá - A Alegria da Dúvida (antologia org. por Graça Martins)

FLAN DE TAL
Jorge Aguiar de Oliveira - Criptório
Beatriz de Almeida Rodrigues - Manganês
Regina Guimarães - Elo
Ana Pessoa - Fósforo
AA VV - Já não dá para ser moderno: seis poetas de agora

FRESCA
Miguel Royo - Na pedra a luz afia o gume
Gabriela Gomes - Língua-mãe
Maria Brás Ferreira - Rasura

GLACIAR
Albano Martins - Por ti eu daria [Poesia completa]

IMPRENSA NACIONAL - CASA DA MOEDA
Dante Alighieri - Divina Comédia (Trad. de Jorge Vaz de Carvalho
Paulo Henriques Britto - Por ora Poesia 
Guiseppe Ungaretti - Vida de um Homem - Toda a Poesia (trad. Vasco Gato)

LÍNGUA MORTA
AA VV - Os ossos do meu duplo (trad. Diogo Vaz Pinto, Sel. Luís Filipe Parrado)
Rui Ângelo Araújo - Villa Juliana
Tomás Sottomayor - Auberge Ravoux
Ricardo Rizzo - Estudo para um herói vazio
Armando Silva Carvalho - O país das minhas vísceras (Ap. e Sel. José Manuel Vasconcelos)
Miguel d´Ors - O fiasco perfeito (trad. e ap. Luís Pedroso)
Luís Filipe Parrado - Roma não perdoa a traidores
Luís Cernuda - Ocnos (trad. e ap. Miguel Filipe Mochila)
Manuel Resende (trad) - A Grécia de que falas - antologia de poetas gregos modernos
Vasco Gato (trad. e versões) - Lacrau
Ivone Mendes da Silva - O fulgor instável das magnólias

(NÃO) EDIÇÕES
Ghérasim Luca - Mandado de libertação (trad. Helder Moura Pereira)
Ederval Fernandes - Novas ofertas de emprego para Ederval Fernandes
José Pedro Moreira - Por favor não dê de comer aos unicórnios
Duarte Drummund Braga - Os sininhos do inferno
Anne Carson - Vidro, Ironia e Deus (trad. Tatiana Faia)
Rosa Oliveira - Desvio-me da bala que chega todos os dias

 OFFICIUM LECTIONIS
Jorge Melícias - Uma entoação sobre o fogo
Fernando Castro Branco - De coração aberto
Frei Agostinho da Cruz - N´ Alma Escrito
José Rui Teixeira - Como um ofício
Fernando Castro Branco - Poesia (2011.2016)
Eduardo Quina - Consanguineo
Guilherme de Faria - Saudade Minha (poesias reunidas)
António Hartwich Nunes - O livro de Ohio (2ª ed.)
Carlos Alberto Braga - A voz de todas as coisas
Rui Nunes - No íntimo de uma gramática morta
Valter Hugo Mãe - Díptico de prédica
Miriam Reyes - Bela Adormecida (trad. Pedro Sena-Lino)
Sandra Costa - Manual da vida breve (Poesia reunida 2003-2021)
José António Ramos Sucre - Insónia (org. José Rui Teixeira, trad. J. Melícias)
Genaro da Silva - O pintor cego
Rui Nunes - A margem de um livro (2ª ed)
Maria Eulália de Macedo - O meu chão é de vertigem

OUTRO MODO EDITORA
AA VV - Outros tons de azul. Poesia política alemã do século XX (org. e trad. João Barrento) 

PORTO EDITORA
António Cabrita - Tristia (um díptico e meio)
Artur Cruzeiro Seixas - Obra Poética III (org. Isabel Meyrelles)

PUBLICAÇÕES D. QUIXOTE
Maria Teresa Horta - Paixão

RELÓGIO D´ ÁGUA
Joaquim Manuel Magalhães - Canoagem
José Gardeazabal - Viver feliz lá fora
Louise Gluck - Ararate (trad. Margarida Vale de Gato)
Louise Gluck - Vita Nova (trad. Ana Luísa Amaral)
Louise Gluck - Uma vida na aldeia (trad. Frederico Pedreira)

SNOB
Marcos Foz - Vaca Preta

TINTA DA CHINA
Jorge Gomes Miranda - Nova Identidade
Margarida Vale de Gato - Atirar para o torto
A. M. Pires Cabral - Caderneta de Lembranças
João Pedro Gravato Dias - Odes Didácticas
AA VV - Poetas de Dante (org. Alberto Manguel)

VOLTA D´ MAR
João Alexandre Lopes - Porta do fogos
Maria F. Roldão - Pequeno sangue
AA VV - Falar dele no céu de uma paisagem - poemas para Mário Botas
Amadeu Baptista - Luz possível

UMA SELECÇÃO (ENSAIO, FICÇÃO, POESIA & OUTROS)
Guy Debord - Comentários sobre a sociedade do espectáculo (Antígona, trad. Júlio Henriques)
Piotr Kropotkine - O Apoio Mútuo (Antígona, trad. Miguel Serras Pereira)
Humberto Brito - A interrupção dos sonhos - ensaios sobre Fernando Pessoa
António Guerreiro - Zonas de baixa pressão (Ed. 70)
Silvina Rodrigues Lopes - O nascer do mundo nas suas passagens (Ed. Saguão)
Maria Filomena Molder - 3 Conferências (Ed. Saguão)
Maria Filomena Molder - A arquitectura é um gesto (Sr. Teste)
Alexandra Carita - Dizer o mundo - conversas com Rui Nunes e Paulo Nozolino (Relógio d' Água)
Edward W. Said - Orientalismo - representações ocidentais do oriente (Ed. 70)
Seb Falk - A Idade Média - A verdadeira idade das luzes (Bertrand)

George Orwell - 1984 (várias editoras)
Sara Mesa - Um amor (Relógio d´Água, trad. Miguel Serras Pereira)
Teolinda Gersão - Regresso de Julia Mann a Paraty (Porto Editora)
Ana Teresa Pereira - Como se o mundo não existisse (Relógio d´Água)
Cesare Pavese - O Belo Verão (Livros do Brasil)
António Ferro - Ficção (E-Primatur)
Teresa Veiga - O senhor d´ além (Tinta da China)

Marcos Foz - Vaca Fria (Snob)
Joaquim Manuel Magalhães - Canoagem (Relógio d' Água)
José Gardeazabal - Viver feliz lá fora (Relógio d' Água)
Albano Martins - Por ti eu daria (Glaciar, Poesia completa)
António Aragão - Obra (Re)Encontrada
Isabel de Sá - A  Alegria da Dúvida (org. Graça Martins; Exclamação)
Adília Lopes - Dobra (poesia reunida) (Assírio & Alvim)
Kamo no Chomei - Hojoni - reflexões da minha cabana (Assírio & Alvim)
António Franco Alexandre - Poemas (Assírio & Alvim)
Fátima Maldonado - Sem Rasto (Averno; Poesia reunida) 

Sylvia Plath - Diários 1950-1962 (Relógio d' Água)
Gonçalo M. Tavares - Diário da Peste (Relógio d' Água)
Witold Gombrowicz - Diário (1953-1958) (Antígona, trad de Teresa Fernandes Swiatkiewicz)


quinta-feira, dezembro 31, 2020

LIVROS EM 2020

 


 Aqui fica a  lista, que estará bastante  longe de ser exaustiva,

 dos livros de poesia publicados em 2020, e de uma selecção

 de livros do ano. Saliento o II volume da Obra Poética

 de Ramos Rosa, e a reedição da obra completa de

 um poeta que está entre os melhores das últimas décadas: 

Carlos Poças Falcão. 



ASSÍRIO & ALVIM

António Ramos Rosa – Obra Poética II

Mário Cesariny – Poemas Dramáticos e Pictopoemas

Adília Lopes – Dias e Dias

Pedro Eiras – Inferno        

Rosa Maria Martelo (org.) – Antologia Dialogante de Poesia Portuguesa

Jorge de Sousa Braga – A Matéria Escura

Yosa Buson – Os Quatro Rostos do Mundo 


AVERNO 

Manuel de Freitas - 769118

Inês Dias – Cerveja & Neve


BESTIÁRIO

Rui Baião - Scaramuccia


COMPANHIA DAS ILHAS

Frederico Pedreira – A lição do sonâmbulo

Cláudia Lucas Chéu – Confissão

Manuel Fernando Gonçalves - Alarido 

AA VV – Afagando a face de Lorca

Álamo Oliveira – Poemas vadios

Nuno Dempster – Variações da Perda

Nuno Felix da Costa – Epopeia mínima


COTOVIA

Virgílio – Eneida (trad. Carlos Ascenso André)


DEBOUT SUR L’ OEUF

Manuel Fernando Gonçalves – Sol fora

Pedro Magalhães – Esturrado

Luís Cacho – O brocado do cio

José Emílio-Nelson – Sonetos Glaucos

Nuno F. Silva – Epilepsy dance


DO LADO ESQUERDO

António Amaral Tavares – A faca que nos une

José Carlos Barros – A educação das crianças

Billy Collins – Contra sinos de vento (trad. Francisco José Craveiro de Carvalho)


DOUDA CORRERIA

Rui S. Magalhães – Queda de neve nas terras altas

Paulo Ramalho – Manual de sobrevivência para náufragos

Maria Daniela – V de vagem

João Paulo Esteves da Silva – Missangas 

Maria Lúcia Alvim – Antologia poética

Natália Agra – A noite de São João

Thomaz de Figueiredo – Sonetos da casa amarela

Nick Virgilio – Um capacete crivado de balas (trad. Francisco José Craveiro de Carvalho)

Marta Caldas – E aquáticos

Débora Miltrano – Curso técnico para a iluminação

António Ferra – Clara em castelo

Guilherme Vilhena Martins – Háptica

Bernard O’ Donoghue – Fora do sítio (trad. João Paulo Esteves da Silva)

Sean Bonney – A nossa morte (trad. Miguel Cardoso)

João Silveira – Pomba-Peste

Rafaela jacinto – Regime

Alexandre Costa – Na dúvida dedicaremos o fim

Regina Guimarães e Ricardo Castro – Traumatório

Manuel Seatra – Raiz densa no pátio da garganta

Gonçalo Perestelo – Tomo banhos imperadores

 


EXCLAMAÇÃO

Regina Guimarães – Antes de mais e depois de tudo


EDIÇÕES SAGUÃO

Emily Dickinson – Poemas envelope (trad. Mariana Pinto dos Santos e Rui Pires Cabral)


FRESCA

Samsara – Painéis Solares

João Coles – Merda para as Musas

Narciso Pinto – Unhas-de-Fome

Tatiana Faia – Leopardo e Abstracção


IMPRENSA NACIONAL/CASA DA MOEDA

Vitorino Nemésio – Poesia (1950-1959)


LICORNE

João Pedro Mésseder – Espanta-espíritos

Tu Fu – Entre céu e terra (“transgressões” de Manuel Silva-Terra)

Rainer Maria Rilke – Notas sobre a melodia das coisas


LÍNGUA MORTA

Roger Wolfe – Fazer o trabalho sujo (antologia org. por Luís Pedroso)

Andreia C. Faria – Clavicórdio

Luís Carlos Patraquim – Morada nómada

Luís Filipe Parrado – O universo está pintado à mão 

Pablo Javier Pérez López – Dicionário de garças e de melros & outros textos (trad. João Moita)

??? – O meu livro de cabeceira é um revólver (trad. Jorge Melícias)

Mariano Alejandro Ribeiro – Bartlebyana

Carlos Poças Falcão – Arte nenhuma (co-edição com a Livraria Snob)

Ivone Mendes da Silva – Os contos esquivos

Amâncio Reis – Pterodáctilo

Nuno dos Santos Sousa – Ao ouvido de um moribundo – uma antologia desesperada da poesia portuguesa

Joan Margarit – Misteriosamente feliz (sel, trad. Miguel Filipe Mochila)

Raul de Carvalho – Lâmpadas acesas para aumentar o dia (sel. Diogo Martins)



(NÃO EDIÇÕES)

José António Almeida – Pouca tinta (poesia reunida)

Susana Araújo – Discurso aos pacientes cirúrgicos

Rui Pires Cabral – Drawing Rooms

Inês Francisco Jacob – Sair de cena

Edwin Morgan – 100 poemas (sel. Trad. Ricardo Marques) 


MALDOROR 

Diogo Vaz Pinto – Aurora para os cegos da noite



PORTO EDITORA

Artur do Cruzeiro Seixas – Obra poética I (org. Isabel Meyrelles)

Artur do Cruzeiro Seixas – obra poética II


PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE

Manuel Alegre – Quando 

Nuno Júdice – Regresso a um cenário campestre


QUETZAL

Frederico Lourenço (trad. e org.) – Poesia Grega de Hesíodo a Teócrito

João Luís Barreto Guimarães – Movimento 


RELÓGIO D’ ÁGUA

Louise Gluck – A Íris selvagem (trad. Ana Luísa Amaral)

Louise Gluck – Averno (trad. Inês Dias)

Miguel-Manso – Estojo 

Hélia Correia – Acidentes 


TINTA DA CHINA

Alejandra Pizarnik – Antologia poética (trad. Fernando Pinto do Amaral)


VOLTA D’ MAR

José Ricardo Nunes – Si dispensa daí fiori

Sandra Costa – Boletim Meteorológico 


Uma selecção de livros (ficção, ensaio, poesia)

AA VV – O Cânone (Tinta da China, Fund. Cupertino de Miranda)

Paul Celan/Ingeborg Bachmann – Tempo do Coração (Antígona) 

Alejandra Pizarnik – Antologia Poética (Tinta da China)

António Ramos Rosa – Obra Poética II (Assírio & Alvim)

Adília Lopes – Dias e Dias (Assírio & Alvim

Ana Teresa Pereira – Os Perseguidores (Relógio d’ Água)

Shoshana Zuboff – A Era do Capitalismo de Vigilância (Relógio d’ Água)

António Damásio – Sentir & Saber (Temas e Debates)

AA VV – História Global de Portugal (Temas e Debates)

Robert Arlt – Águas Fortes Portenhas (Exclamação)

Mónica Bello – A Vida Extraordinária do Português que Conquistou a Patagónia (Temas e Debates)

Alberto Velho Nogueira – Ensaios 3 (Bestiário)

Gabriel Garcia Marquez – O escândalo do século (D. Quixote)

José Mattoso – A História Contemplativa (Temas e Debates)

Carlos Poças Falcão – Arte Nenhuma (Língua Morta / Livraria Snob)

Andrea Mazzola – Transhumano mon amour (Jornal Mapa)