segunda-feira, outubro 31, 2022

ARTUR ROCKZANE

 








NO AMOR E NA MORTE
- PARA ANDREAS BAADER - 

Já ninguém tem revelações a fazer;
a noite é a véspera da noite.
A Alemanha fria e ressentida
a pesar-me sob os tennis-shoes.
Uma guerra que nunca acabou;
pode ser que essas crianças 
os filhos desgrenhados e perdidos 
duma geração desencantada,
pode ser... apenas isso.

Berlim é para sonhar
Frankfurt para morrer,
e há que vingar um milhão de poetas
de dedos decepados!
(com uma certa elegância mística...)
ONDAS DE RAIVA NIILISTA
arrasam a Europa!
e sacodem o pó das virilhas metálicas
sem o fascínio dos miúdos pálidos,
europeus.

Há que cravar punhais
na face outonal e seca dos cidadãos!
Atirar aranhas enormes, venenosas
contra o tédio!
Siegfried arrasta as asas...
flores mortas para Siegfred
(escrever a madrugada)
pobre pagador de Karma...

E depois,
há um certo prazer
(falo com Meinuch, guerrilheira de veludo)
em ficar debaixo da chuva,
clandestinos -
- nada para perder, nada para ganhar!
Ah! Este tédio das ruas
banhadas em suor cinzento
E eu desde a nossa tribuna
erigida no silêncio flutuante
por anjos sujos.
Berro!
Grito!
Declaro o brilho das minhas botas...

E depois, através do meu corpo disperso
percebe-se a luz 
(os anjos cravaram nele os seus punhais).
  
Artur Rockzane nasceu em 1953. Poeta nómada e punk, publicou Cavalos, Heróis e Lunáticos (Fenda, 1983), a que pertence este poema dedicado a Andreas Baader, do grupo "terrorista" Baader-Meinhof. No início deste século publicou nas edições Quasi os livros Hortênsio Miraflor - suicídio e obra e Soror Messalina: Datura Ferox. Recentemente a livraria Poetria publicou de Artur Rockzane a antologia Beat, já esgotada.