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quinta-feira, agosto 31, 2023

NATÁLIA CORREIA

 


REBIS

Oh a mulher como é cõncava
de teclas ter no abdómen
de sua porção de seda
ser o curso do rio homem

como é mina espadanar de água
na cama abobadada de homem
gargalhada de lustre se sentada
dique de nuvens estar de dólmen!

Oh o homem como é ângulo
aberto de procurar
o sítio onde nasce o ouro
na salmoura da mulher mar

como é cúpula de copular
nadador de braçadas de mirto
como é nado de a nado formar
o quadrado da mulher círculo!

Oh os dois como se fundem
na praia-mar dos lençóis 
despidos como fogo e água
deus de dois ventres ferozes
e quatro anos de fava!

In Edoi Lelia Doura - Antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa, org. por Herberto Helder, Assírio & Alvim, 1985, p. 190.

Natália Correia nasceu em S. Miguel, Açores, há 100 anos (13.9.1923- 16.3.1993). Para além de poetisa de cariz surrealista, e também ficcionista, ficou conhecida pela sua actividade política, como deputada do PSD e, também, do PRD; pelo resistência boémia à ditadura do Estado Novo a partir do seu bar "Botequim", lugar de encontro de intelectuais, que manteve depois do 25 de Abril. Foi autora de um programa televisivo (Mátria), onde explanou as suas ideias de Pátria, Mátria e Fátria. Em 1966 foi condenada a 3 anos de prisão, com pena suspensa, pela organização de uma Antologia da Poesia Erótica e Satírica. Em 1973 organizou uma singular antologia sobre O Surrealismo na Poesia Portuguesa (2ª edição, frenesi, 2002), com comentários teóricos. Há, em Natália Correia, uma pensadora - do surrealismo, da mulher - que tem sido esquecida.