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sábado, dezembro 31, 2016

LIVROS EM 2016

No ano agora findo certamente publicaram-se, em Portugal, milhares de livros. No entanto, só uma pequena percentagem desses livros publicados chega às livrarias. Alguns livros, como a reunião do ensaísmo de Eduardo Lourenço sobre poesia, chegaram a muito poucas livrarias. Interessa, como sempre, facturar. E para isso nada melhor do que os livros com personalidades públicas da televisão na capa. De José Rodrigues dos Santos à inefável Cristina Ferreira. A televisão não acabou nem foi substituída pela internet, nada melhor que uma visita a uma livraria de um centro comercial para confirmar este facto. Mas ainda restam alguns lugares de resistência, pequenas livrarias que vendem os livros da lista aqui publicada de livros de poesia.
O ano não teve grandes edições. Mas registe-se um caso importante: a Relógio d’ Água. A editora de Francisco Vale, com mais de três décadas é um caso singular no panorama editorial português. Do seu catálogo constam obras e autores fundamentais no cânone. No entanto, a editora tem dois problemas: 1) a apresentação gráfica, das capas (mal menor) ao tipo de caracteres (usar num livro caracteres times, iguais aos que estão disponíveis em qualquer programa word, é um convite ao leitor para se afastar do livro, que tem que ser um objecto cada vez mais cuidado a nível gráfico); 2) a edição de dois a três livros por semana, geralmente de grandes autores da literatura. O leitor perante o catálogo da Relógio d’ Água perde-se, como perante um banquete que lhe pode provocar uma congestão. O resultado é afastar-se.
Vale a pena assinalar que o que editorialmente se publica de importante foge aos grandes grupos (Leya e Babel cada vez mais apagados), e aparecem novas editoras e chancelas como a Elsinore que publicou J. G. Ballard mas também a prémio nobel Svetlana Alexievich e um livro de um dos nossos melhores jornalistas: Paulo Moura (Depois do Fim).
No que respeita à poesia, de que aqui tento apresentar uma lista o mais exaustiva possível do que se publicou em 2016, certo de erros e omissões, ela vive na generalidade numa clandestinidade editorial. As obras completas publicadas pela Assírio & Alvim serão uma excepção, como é o caso da publicação de um grosso primeiro volume da poesia completa de Ruy Cinatti. Publicar tijolos ao preço de 50 euros por altura do natal dá, com certeza, rendimento. Da lista que se segue, pode-se concluir que ainda somos um país de poetas: 13 editoras publicaram mais que um livro de poesia em 2016, perfazendo, entre reedições e traduções, o número aproximado de 90 livros. Convenhamos que são muitos livros, em tiragens que rondam os 100 ou 200 exemplares.

LIVROS DE POESIA PUBLICADOS EM 2016

ASSÍRIO & ALVIM
Helder Moura Pereira – Golpe de Teatro
Daniel Jonas – Bisonte
Fernando Pessoa - English Poetry (selected and introduced by Richard Zenith)
Fernando Pessoa – Cancioneiro. Uma antologia (ed. Fernando Cabral Martins e Richard Zenith)
Sophia de Mello Breyner Andersen – Ilhas (reed.)
Sophia de Mello Breyner Andersen -Musa - O Búzio de Cós e Outros Poemas (reed. Pref. Carlos Mendes de Sousa)
Eugénio de Andrade – O Outro Nome da Terra (reed. Pref. de Fernando Pinto do Amaral)
Eugénio de Andrade – Vertentes do Olhar (reed. Pref. de Fernando  J. B. Martinho)
Ruy Belo – Boca Bilingue (reed. Pref. de Gastão Cruz)
Ruy Belo – Homem de Palavra[s] (reed.)
José de Almada Negreiros – Poemas Escolhidos
António Osório – A Felicidade da Luz
Ruy Cinatti – Obra Poética I (ed. org. por Luís Manuel Gaspar com col. de Joana Matos Frias e Peter Stilwell)
Adília Lopes – Bandolim
Luís Filipe Castro Mendes - Outro Ulisses Regressa a Casa
Filipa Leal – Vem à Quinta-Feira
Adélia Prado – Tudo o que existe louvará
Saint-John Perse - Habitarei o meu nome (Antologia; sel. e trad. de João Moita)
Matsuo Bashô – O Eremita Viajante [haikus – obra completa] (org. e versão portuguesa Joaquim M. Palma)
Rabindranath Tagore – A Asa e a Luz [aforismos. poemas breves] (Trad. Joaquim M. Palma]
Kabir - O Nome Daquele que não tem Nome (versões de Jorge de Sousa Braga)
Joana Matos Frias (Sel. e apresentação) Passagens – poesia, artes plásticas

AVERNO
Adília Lopes – Capilé
Adília Lopes – Z / S
Nunes da Rocha - Cordoaria Nacional
AA VV – Telhados de Vidro nº 21
António Barahona - Ocarina
Jorge Roque - Tresmalhado
Ana Paula Inácio - Anónimos do Século XXI

MARIPOSA AZUAL
Mariano Alejandro Ribeiro – Antes da Iluminação – Mariposa azual
Marta Bernardes – Ícaro
Yvette K. Centeno – Poemas com Endereço

DERIVA
Ricardo Gil Soeiro - Palimpsesto
António Alves Martins - Cidades Materiais

COMPANHIA DAS ILHAS
Rui Almeida – Muito, menos
AA VV – Poesia, um dia. Poetas em Ródão
João Candeias – Nervo
Catarina Costa – A Ração da Noite
Rui Baião - Noizz
Inês Lourenço – O Jogo das Comparações
R. Lino –Políptico

DOUDA CORRERIA
Margarida Vale de Gato – Lançamento – Douda Correria
Miguel Martins – Pince-nez
Nuno Moura – Clube dos Haxixins
João Paulo Esteves da Silva – Tâmaras
Raquel Nobre Guerra – Senhor Roubado
Catarina Santiago Costa – Tártaro
Marco Galrito – O Livro Português dos Mortos
Carla Diacov - Ninguém vai poder dizer que eu não disse, Vol.1
Catarina Costa – Chiaroscuro

Rui Azevedo Ribeiro – Fechado para Mudança de Ramo – 50 kg

RELÓGIO D’ ÁGUA
Rainer Maria Rilke – Elegias de Duino (Trad. José Miranda Justo) – Relógio d’ Água
T. S. Eliot – Poemas Escolhidos (Trad. Gualter Cunha, João Almeida Flor, Rui Knopfli)
Manoel de Barros – Poesia Completa
Bob Dylan – Tarântula (Trad. Vasco Gato)
Lawrence Ferlinghetti – A Poesia como Arte Insurgente (Trad. Inês Dias)
Rui Nunes – Crisálida

Herberto Helder – Letra Aberta – Porto Editora

Fernando Pinto do Amaral – Manual de Cardiologia – Dom Quixote

Alberto Pimenta - Nove fabulo, o mea vox. De novo falo, a meia voz – Pianola

A Dasilva O. – O Poeta Choupe la Peace – Casa-Museu A. Dasilva O.

Bénédicte Houart – Vida Variações III – Livros Cotovia

TEA FOR ONE
Luís de Brito – Jejum – Tea for one
Ricardo Tiago Moura – Pequena Indústria

ARTEFACTO
Vasco Gato – Primeiro Direito
Luís Falcão - Bruma Luminosíssima
Miguel Filipe Mochila – Tempo da impaciência

LÍNGUA MORTA
Jorge Sousa Braga (versões e traduções) – Sombras brancas
AA VV – Apartamentos
AA VV – A Pedra-Que-Mata (Poesia Japonesa)
Frederico Pedreira – Fazer de Morto
Vasco Gato – Lacre, Correspondência afectiva
António Amaral Tavares - Movimento de Terras
Miguel Alexandre Marquez – Coda
Rui Ângelo Araújo – A Origem do Ódio

IMPRENSA NACIONAL - CASA DA MOEDA
Eucanaã Ferraz – Poesia (1990-2016)
José Gardeazabal – História do Século XX
Rui Lage – Estrada Nacional

LICORNE
Rumi – O Círculo do Amor
Paulo Pego / Sónia Aniceto – Entre-Tecidos
João Carlos Raposo Nunes – Brancura
Sofia Martinez / Adriana Crespo – Poemagens
Isabel Aguiar – Eu Amo Tarkovski
Eduardo Quina – Corpo: labirintos

DO LADO ESQUERDO
João Vasco Coelho – Zero-a-zero
AA VV – Casa
Pablo Garcia Casado – Faróis Acessos à Procura do Oceano (Trad. Maria Sousa)
Leonor Castro Nunes / Marcos Foz – A Bifurcação dos Ossos
Hal Sirowitz – Como Eles Costumavam Dizer (Trad. Maria Sousa)
Bénédicte Houart / Juliana Martins (fotografias) – Há Dias II

TINTA DA CHINA
Cláudia R. Sampaio – Ver no Escuro – Tinta da China
António Carlos Cortez – A Dor Concreta
Miguel Cardoso – Víveres


ENSAIO E FICÇÃO – Uma pequena lista

Ruben Fonseca – Histórias Curtas – Sextante
José Gil – Ritmos e Visões – Relógio d’ Água
Annemarie Schwarzenbach – Todos os Caminhos Estão Abertos – Relógio d’Água
Eduardo Lourenço – Tempo e Poesia (ed. aumentada)– Fundação Calouste Gulbenkian
Ana Teresa Pereira – Karen – Relógio d’ Água
Lídia Jorge – O Amor em Lobito Bey -Dom Quixote
Camilo Castelo Branco – Camiliana – Círculo de Leitores
Paulo Varela Gomes – Passos Perdidos – Tinta da China
Lucia Berlin – Manual para Mulheres de limpeza – Alfaguera
AA VV – Textos e Pretextos 20: Literatura e Futebol (Revista do Centro de Estudos Comparatistas da FLUL)


quinta-feira, dezembro 31, 2015

LIVROS EM 2015

 
Num programa televisivo, como 5 para a meia-noite, desfilavam livros a ponto de um espectador incauto, ou sem som na televisão, julgar por momentos estar perante um programa literário. 5 para a meia-noite é um programa de entretenimento, um talk-show em horário late night. Por ali passam figuras públicas: actores, músicos, enfim os cromos da sociedade de espectáculo. É isto sintomático de como funciona a edição e a leitura actualmente em Portugal (e não só): as editoras pedem a figuras públicas que escrevam livros, ou então quando estes não os sabem escrever há sempre um escritor fantasma para os escrever (o que deve de acontecer na maioria dos casos). Pretende-se que o grande público, ignorante da literatura, compre livros nas grandes superfícies pelo reconhecimento de uma figura pública cuja notoriedade nada tem a ver com a literatura. Mesmo no caso do jornalismo, cujo paradigma de sucesso é José Rodrigues dos Santos, a maior parte das vezes não corresponde a nenhum talento literário, seja isso o que for, mas a uma imagem e ao reconhecimento dessa imagem pelos compradores de livros. Esta situação, em que o livro é um objecto de consumo cujo reconhecimento resulta de factores externos ao campo literário, tornando-o mais uma mercadoria sujeita às regras do marketing, resulta também da perda de espaço crítico nos jornais (esses que estão em vias de extinção) ou noutros média. Quando um ou outro programa radiofónico ou televisivo aborda a literatura, os livros, fá-lo numa perspectiva superficial e apenas informativa (a excepção talvez seja Luís Caetano na Antena 2). Perante isto as poucas livrarias que restam vão-se enchendo de lixo, e a oportunidade que um escritor poderia esperar está também restrita a prémios como o Leya, que funciona com a mesma lógica já esboçada. Restam os blogues, mas estes perderam espaço para esse monstro que os média têm alimentado, e que dá pelo nome de facebook. Ora o facebook é o contrário de qualquer espaço crítico. Ele cria uma aparente utopia, que é uma distopia, onde só há espaço para dizer "gosto", para o breve elogio que nada acrescenta. Portanto, o espaço da polémica, do diferendo, da crítica, que é por natureza mesmo quando se trata de cultura ou literatura um lugar político, está a desaparecer. O mais grave de tudo isto é a criação de um pensamento único, correspondente e irmão gémeo da TINA nas políticas económicas, que não permite a liberdade da expressão do pensamento. E este espectro que paira sobre nós, para parafrasear Marx, ultrapassa os lugares da cultura para se disseminar pela sociedade, principalmente onde existem relações assimétricas e de poder. Ou seja: estamos a perder a liberdade. 

Deixando estas questões, e restringindo-me ao que foi publicado em livro impresso (os e-books são outra questão que quero ignorar) em 2015, optei por uma abordagem do sector mais fraco da edição: a poesia. Apresento mais abaixo uma lista do que me foi possível reunir através de blogues, sites, suplementos literários. É uma lista incompleta e talvez com certa imprecisões, mas a possível. A poesia, no ano da morte de Herberto Helder (e também Vítor Silva Tavares), continua a ser algo extremamente minoritário, cujos livros apenas se vendem em poucas livrarias, tornando o mapeamento da sua edição algo bastante difícil. A isso corresponde, naturalmente, a dificuldade que os poucos leitores de poesia têm em aceder aos livros. Uma forma de contornar isto está nas revistas, como a Telhados de Vidro ou a Relâmpago, com uma existência já longa, mas também nas reuniões de poetas, colectâneas que dão a conhecer novas poéticas e novos poetas. De destacar duas publicadas este ano, e creio que ignoradas pelos dois suplementos literários que restam na imprensa portuguesa. Voo Rasante, publicado pela Mariposa Azual (editora que este ano publicou sete livros de poesia, batendo em número a Averno - 6 - e a Assírio & Alvim com 6) é uma montra que mescla autores conhecidos com outros desconhecidos ou até inéditos. Não se percebe porque razão a editora e coordenadora do livro, Helena Vieira, lhe chamou antologia. A outra colectânea foi publicada pela Língua Morta com o título de Hidra. Não se destaca tanto pela quase dezena de poetas que nela participam, mas pela presença de António Guerreiro que será o crítico mais acutilante e lúcido da "praça" (veja-se a sua crónica no semanal no Público). Neste sentido parece haver uma perca de espaço e influência dos chamados "poetas sem qualidade" e do "grupo" que gira em volta de Manuel de Freitas (que este ano reuniu uma série de ensaios sob o título Incipit, e foi alvo de mais uma antologia - desta vez de Rui Pires Cabral). Também por isso não podemos descurar outras editoras e outros autores. Miguel-Manso que publicou Persianas na Tinta da China ou Paulo da Costa Domingos com Cal (Averno) ou ainda Armando Silva Carvalho com A sombra do mar (Assírio & Alvim). Entre as cerca de dez editoras que vão publicando poesia, destaque-se duas: a 50 kg e a não (edições). A primeira, do Porto, de Rui Azevedo Ribeiro, faz do livro um objecto artesanal, impresso com caracteres móveis impõe-se como forma de resistência às tecnologias digitais. Foi, curiosamente ou não, na 50 kg, que Vítor Silva Tavares, um dos últimos Editores portugueses publicou Púsias, volume de versos, poucos meses antes de desaparecer. Quanto à não (editores) tem vindo a publicar pequenos livros de poetas, uns já conhecidos outros desconhecidos ou em estreia e outros em tradução. Este ano terá publicado mais de meia dúzia de livros, entre os quais traduções de Lauren Mendinueta e Pablo Javier Perez Lopes. 

Segue-se a lista. Na ficção e no ensaio apenas uma selecção de alguns dos livros publicados em 2015. De fora ficaram as traduções.

POESIA PORTUGUESA
Herberto Helder - Poemas Canhotos - Porto Editora
Vítor Silva Tavares - Púsias - 50 kg
Anónimo - Fósforo de Anónimo - 50 kg
Carlos Alberto Machado - Pôr as pernas do lado da cabeça e partir - 50 kg
Rui Caeiro - Deus e outros animais - Averno
António Barahona - Pássaro-Lyra - Averno
Paulo da Costa Domingos - Cal - Averno
Vítor Nogueira - Amanhã logo se vê - Averno
Abel Neves -Úsnea - Averno
Telhados de Vidro nº 20 (com a plaquete de Adília Lopes Comprimidos) - Averno
Gastão Cruz - Óxído - Assírio & Alvim
Rui Pires Cabral - Morada - Assírio & Alvim
Ana Luísa Amaral - E todavia - Assírio & Alvim
Armando Silva Carvalho - A sombra do mar - Assírio & Alvim
Adília Lopes - Manhã - Assírio & Alvim
Luís Quintais - Arrancar penas a um canto de cisne - Assírio & Alvim
Andreia C. Faria - Um pouco acima do lugar onde melhor se escuta o coração - Artefacto
Luís Amorim de Sousa - Mera distância - Artefacto
Daniel Francoy - Calendário - Artefacto
Sónia Balacó - Constelações -Mariposa Azual
Ricardo Domeneck - Medir com as próprias mãos a febre - Mariposa Azual
João Bosco da Silva - Trepanações de Jerónimo Bosh- Mariposa Azual
Sónia Baptista - Tempus fugit - Mariposa Azual
AA VV - Voo Rasante - Mariposa Azual
Marília Garcia - Um teste de resistores - Mariposa Azual
Elisabete Marques - Cisco - Mariposa Azual
Duarte Drumund Braga - Voltas do Purgatório - Língua Morta
AA VV - Hidra - Língua Morta
Rui Manuel Amaral - Polaróide - Língua Morta
Nuno Júdice - A convergência dos ventos - D. Quixote
Miguel-Manso - Persianas - Tinta da China
José Ricardo Nunes - Andar a par - Tinta da China
Pedro Mexia - Uma vez que tudo se perdeu  - Tinta da China
Manuel de Freitas - Sunny Bar (antologia org. por Rui Pires Cabral)- Alambique
José Carlos Soares - Rã - Alambique
Marta Chaves - Perda de inventário - Alambique
Inês Lourenço - O segundo olhar (antologia org. por J. M. Teixeira Silva) - Companhia das Ilhas
Nunes da Rocha - Sabão offbach - & etc
Miguel Cardoso -  À barbarie seguem-se os estendais - & etc
João Miguel Fernandes Jorge - Mirleos - Relógio d´ Água
Frederico Pedreira - Presa Comum - Relógio d' Água
Helder Macedo - Romance - Presença
Miguel Castro Caldas - Chaconne ou a arte de mudar de assunto - Douda Correria
Miguel Carvalho - No princípio não era o verbo - Debout Sur L'Oeuf
manuel a. domingues - Baço - Ed. Medula


Rui Pires Cabral - Elsewhere / Alhures - não (edições)
Ricardo Tiago Moura - 1 gato para 2 - não (edições)
Sónia Baptista - E na queda repousar - não (edições)
Rita Natálio - Artesanato - não (edições)
Ricardo Marques - Metamorphoses - não (edições)
Manuel Alberto Valente - Poesia Reunida - Quetzal

FICÇÃO PORTUGUESA

Teresa Veiga- Gente melancolicamente louca - tinta da china
Fernando Assis Pacheco - Bronco-angel: o cowboy analfabeto - tinta da china
Gonçalo M. Tavares - O torcicologista, excelência - Caminho
_______________ - Notas sobre a Música - Relógio d' Água
Ana Teresa Pereira - Neverness - Relógio d' Água
António Lobo Antunes - Da natureza dos deuses - D. Quixote
Mário Cláudio - Astronomia - D. Quixote
Paulo Castilho - O sonho português - D. Quixote
Vasco Luís Curado - O país fantasma - D. Quixote
Clara Ferreira Alves - Pai nosso - Clube do Autor
Rui Zink - Osso - Teodolito
______ - O Destino Turístico - Teodolito
Francisco Duarte Mangas - Jacarandá - Teodolito
Julieta Mongino - Os filhos de K. - Teodolito
Alexandre Andrade - Quartos alugados - Exclamação
Vítor Nogueira - Amanhã logo se vê - Averno
Ana Cássia Rebelo - Ana de Amerterdam (sel. de textos do blogue com o mesmo título) - Quetzal

ENSAIO
José Gil - Os poderes da pintura - Relógio d' água
Manuel de Freitas - Incipit - Averno
Filipa Leal -Pelos leitores de poesia - Abysmo
João Barrento - Como um hiato na respiração - Averno
AA VV - Natural in verso - Mariposa azual
Marinela de Freitas - Emily Dickinson e Luiza Neto Jorge: quantas faces - Afrontamento
Joana Matos Frias - Cinefilia e cinefobia no modernismo português (vias e desvios) - Afrontamento






segunda-feira, dezembro 31, 2012

LIVROS EM 2012


Crise. Para além da realidade social, incontornável, provocada por um governo que é o pior depois do fim do Estado Novo, a palavra crise e o discurso em volta dela criam ainda mais crise. Como disse W. Burroughs, a linguagem é um vírus. 2012 terá sido o ano em que este governo de canalhas pôs em prática o processo de aniquilamento de Portugal. No que respeita ao mundo literário a crise não terá sido tão evidente – o demissionário secretário de estado da cultura, o escritor, jornalista e editor Francisco José Viegas, colocou a salvo o livro (e os seus livros) de uma maior taxa de IVA.

O que é perceptível é que o comércio do livro é cada vez mais governado pelas leis de um capitalismo selvagem; que os actores deste comércio são agora grupos que aglutinam um número grande de editoras; que esses grupos e quem está na sua chefia nada têm a ver com o mundo literário, restando algumas editoras e editores independentes. Nada disto é novo. O que este ano apareceu como novo é a desistência de grandes grupos em relação ao livro em papel. Assim, é possível ver como nas lojas Fnac que a preocupação não é o livro mas a venda de espaço a editoras, a venda de leitores de e-books e mesmo de artigos de papelaria. Parece aliás existir um ódio ao livro, cuja rotação é permanente. Cada vez há menos livros nas livrarias e as próprias editoras – as dos grandes grupos – encarregam-se de guilhotinar livros dos seus fundos editoriais. Tudo isto resulta num enorme empobrecimento. A Amazon parece já não ter livros nos seus armazéns (pelo menos a Amazon.es): os livros em papel são vendidos por outras livrarias e o destaque vai para os e-books. Parece que se abre o caminho desenhado por Ray Bradbury (que morreu este ano) no seu romance de ficção-científica Fahrenheit 451.

O que se publicou este ano em Portugal não pode ser desligado das notas anteriores. O best-seller do ano foi marcado pelo erotismo para donas de casa com As Cinquenta Sombras de Grey (ed. Lua de Papel) – por cá foram vendidos 120 mil exemplares, o que mostra o poder do marketing editorial. Foi também o ano em que um engenheiro desempregado, João Ricardo Pedro, ganhou o Prémio Leya com o seu romance de estreia, O Teu Rosto Será o Último –, um exemplo para o discurso do primeiro-ministro. Quem tomou uma atitude política e ética em relação à política de Passos Coelho foi Maria Teresa Horta ao recusar receber das mãos deste o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus pelo romance As Luzes de Leonor. A política não andou desligada do livro e a polémica em volta da História de Portugal, coordenada por Rui Ramos, que o Expresso distribuiu em fascículos durante o verão, foi mais uma evidência disso. Essa polémica, iniciada por Manuel Loof, permitiu realçar como Rui Ramos procedeu a um branqueamento da política do Estado Novo e quem apoiou ou se opôs a esse branqueamento.

Já no final do ano o Prémio Pessoa foi atribuído a um pessoano – Richard Zenith, que há quase duas décadas se ocupa da obra sempre inacabada de Pessoa. Este ano Richard Zenith editou com Fernando Cabral Martins uma Teoria da Heteronímia, volume de cerca de 400 páginas onde se recolhem os textos que Pessoa escreveu em volta deste tema, além de uma “tábua de heterónimos”. Este livro, a que se podem juntar outros como a Prosa de Álvaro de Campos, editado pela Ática, fazem parte da incomensurável bibliografia de Fernando Pessoa. A Teoria da Heteronímia foi editada pela Assírio & Alvim, que há mais de uma década edita Pessoa, mas em 2012 a editora de que foi mentor Manuel Hermínio Monteiro, e depois da morte deste Manuel Rosa, passou definitivamente para o grupo Porto Editora, sendo o editor responsável Manuel Alberto Valente. Embora a PE respeite o grafismo e a linha editorial, a verdade é que se perdeu uma das principais editoras independentes. Em resposta, Aníbal Fernandes lançou uma nova editora, a Sistema Solar, e Manuel Rosa a Documenta, editora de livros de arte e sobre arte.  É das editoras independentes que chegam os livros que interessam, editoras como a Relógio d’ Água que entre os livros que publicou em 2012 destaco os Contos Escolhidos de Carson McCullers com tradução e escolha de Ana Teresa Pereira. A mesma Ana Teresa Pereira que venceu – finalmente – o Grande Prémio de Romance e Novela da APE pela narrativa O Lago, e este ano publicou Num Lugar Solitário, livro reescrito, cuja primeira edição data de 1996.

É nas micro editoras que se vai encontrar grande parte da poesia que se edita. Averno, Língua Morta, mas também Mariposa Azual, Artefacto, 7 Nós, a “velhinha” & etc, a artesanal 50 kg ou a Opera Omnia. Nesta última editora reunião Carlos Poças Falcão vinte e cinco anos de produção poética em Arte Nenhuma (Poesia 1987-2012). O livro, embora editado numa editora com pouca visibilidade, resgata uma das principais vozes poéticas dos últimos 25 anos – repare-se, por exemplo, num livro como Três Ritos. Entre os livros publicados pela Averno para este natal, destaque-se, além do nº 17 da revista Telhados de Vidro, o volume colectivo Nós, Desconhecidos e um livro que reúne ensaios de Manuel de Freitas, Pedacinhos de Ossos. No ano da morte de Manuel António Pina, ficam dois nomes editados pela Mariposa Azual, ainda para averiguar da sua qualidade: Susana Araújo com Dívida Soberana e Raquel Nobre Guerra com Broto Sato.

Se estes livros são difíceis de encontrar nas livrarias, no que toca ao ensaio passa-se algo de semelhante. Que o volume A Mecânica dos Fluidos/ A Noite do Mundo, reedição das obras completas de Eduardo Prado Coelho pela INCM, não tenha aparecido nas livrarias é sintomático desse ódio aos livros que se instala entre pretensos vendedores dos mesmos.

Por último a questão do acordo (desacordo) ortográfico: em 2012 aumentou o número de editoras que adoptaram o AO. No entanto, o Brasil ainda recentemente congelou por 3 anos a entrada em vigor (legislativa) do acordo. Portanto é cada vez mais notório que o acordo não agrada a ninguém.

 

A=

Contos Escolhidos, Carson McCullers, Relógio d’ Água

Arte Nenhuma, Carlos Poças Falcão, Opera Omnia

E a Noite Roda, Alexandra Lucas Coelho, Tinta da China

Uma pequena História da Filosofia, Nigel Warburton, Edições 70

A Terceira Miséria, Hélia Correia, Relógio d’ Água

Os Primos da América, Ferreira Fernandes, Tinta da China

 

B=

As Armas Imprecisas, António Ramos Rosa, Afrontamento

As Damas do Século XII (vol. 3), Georges Duby, Teorema

Una Novelita Lumpen, Roberto Bolaño, Anagrama

Cicatriz 100%, Inês Lourenço,

Sobre os Sonhos, S. Freud, Texto Editora

 

C=

O Teu Rosto Será o Último, João Ricardo Pedro, LeYa

Pedacinhos de Ossos, Manuel de Freitas, Averno

Telhados de Vidro /17, VV AA, Averno

Nós, Os Desconhecidos, VV AA, Averno

Teoria da Heteronímia, Fernando Pessoa, Assírio & Alvim

Dívida Soberana, Susana Araújo, Mariposa Azual

Broto Sato, Raquel Nobre Guerra, Mariposa Azual

Quem Paga o Estado Social em Portugal, Raquel Varela (org), Bertrand Editora

Mecânica dos Fluidos / A Noite do Mundo, Eduardo Prado Coelho, INCM
 
A- Livros publicados e lidos em 2012 (selecção).
B- Livros lidos em 2012, publicados noutros anos (selecção).
C- Livros publicados em Portugal em 2012 e que poderia ter lido se.