domingo, abril 30, 2017

AS VINHAS DA IRA










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As Vinhas da Ira é um romance de John Steinbeck que teve adaptação cinematográfica de John Ford. O livro e o filme relatam, e de certa forma testemunham, a vida no campo depois da grande depressão de 1929. Até 2008 e à falência de um importante banco norte-americano, a grande depressão de 1929 era um marco histórico, algo que pairava sobre a economia e os mercados como uma assombração, algo que não podia voltar a acontecer. Mas aconteceu, e ainda está a acontecer. A partir de 2008 deixou-se de falar da grande depressão de 1929 – afinal os tempos eram outros. Estes tempos que vivemos são tempos de recalcamento, de varrer para debaixo do tapete o que é importuno. O que se constata é que em países como Portugal, que foi dos que mais sofreram com as consequências da crise económica iniciada em 2008, praticamente não existem narrativas dessa mesma crise. Nem a nível jornalístico, nem a nível artístico. É como se existisse uma censura interna – ou será mesmo uma censura externa de forma subtil? A verdade é que as empresas de comunicação social, mesmo as que ainda dão lucro, têm despedido dezenas, ou mesmo centenas, de jornalistas. Que liberdade sobra para o actual jornalismo fazer o devido relato da crise? Quanto à vertente artística é mais difícil de perceber. Escritores, cineastas, músicos, encenadores, apenas por vezes têm esboçado gestos tímidos. Os novos músicos, com uma ou outra excepção parecem ter medo que lhes fique colado o rótulo de cantores de intervenção; os cineastas que estão mais perto de estética do real, como João Canijo, preferem temas como Fátima; os escritores e poetas, também com uma ou outra excepção, continuam como se nada se passasse à sua volta, numa torre de marfim. A crise e suas consequências na vida das pessoas parece ficar sem relato, sem testemunho. Mas urge insistir, perguntar: porque não temos nós as nossas Vinhas da Ira?

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