Tudo isto é demasiado grave. E, no entanto, com excepção de
um ou outro órgão de comunicação social (Lusa, DN, TSF, Antena 1), este relatório
da AI passou ao lado da agenda dos meios de comunicação social (como se estes precisassem
do relatório da AI para fazer o seu trabalho). Durante a campanha e durante as
eleições, a França estava sob estado de emergência, e esse facto, aparentemente
simbólico, foi escamoteado pelos média. O perigo, nas eleições presidenciais
francesas, segundo os comentadores, residia em Marine Le Pen e Jean-Luc
Melonchon, nos extremos da direita e da esquerda, respectivamente. Mas o
perigo, para a democracia, não está só na fascista, xenófoba e racista Marine
Le Pen, também está no centro, em Hollande e agora em Macron.
Custa ver como um país de tradições democráticas e de
protesto como a França, tem vivido em estado de sítio, como se se tratasse de
uma república da América Latina. Mas não, é a França, no centro da Europa
civilizada; a França dos grandes movimentos artísticos do século XX, a França
da Comuna, a França do Maio de 68, e é certo, a França que cedeu à ocupação
nazi, mas também a outra França que resistiu a essa ocupação.
A França laica, a França da “Liberdade, Igualdade,
Fraternidade”, cede ao terrorismo radical islâmico. Pior: os seus medíocres e
mesquinhos políticos aproveitam-se de um ataque terrorista para fazer o que os
terroristas querem: aniquilar a democracia. Que democracia resta nesta França
em estado de emergência há mais de ano e meio? Que França resta com a
democracia sitiada?