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segunda-feira, abril 29, 2024

José Carlos Barros



O CRÍTICO LITERÁRIO VAI DE FÉRIAS À PROVINCIA

Da varanda do meu quarto
viam-se
em vez das aliterações 
o vale

e os pinheiros-bravos
a subir
o monte. Acordava-se assim
a olhar as coisas

concretas. Como se
afinal
além da literatura houvesse

mundo: casas,
pessoas, pássaros
que voam mesmo

José Carlos Barros, Taludes Instáveis - Poemas Escolhidos -, D, Quixote, 2024, p. 231
José Carlos Barros (Boticas, 1963), iniciou a sua actividade literária no suplemento DN Jovem, nos anos 1980, no Diário de Notícias (dessa altura data o seu primeiro livro de poesia, Pequenas Depressões (1984), em colaboração com Otília Monteiro Fernandes; em 2021 reuniu os poemas publicados no nesse suplemento sob o título Estação - os poemas do DN Jovem). Publicou 13 livros de poesia. Em 2009, estreou-se na ficção com o romance O Prazer e o Tédio, tendo em 2021 ganho o prémio Leya com a narrativa As Pessoas Invisíveis. Foi deputado à Assembleia da República pelo PSD na XIII legislatura, entre 2015 e 2019. 

 

quinta-feira, maio 06, 2010

JOSÉ CARLOS BARROS


As páginas dos romances


Arriscávamos o salto mortal
voando com uma venda nos olhos
dos andaimes para o monte de areia da póvoa.
As obras da escola eram a nossa perdição:

as fasquias de alumínio, o ondulado de luzalite
das coberturas, o entulho, o ressalto
exacto do encaixe das tijoleiras, o pó quase de talco
dos sacos de cimento da cimpor. Nos sábados

à tarde erguíamos muros no combarro com tijolo
de quinze, marcávamos com estacas de pinho
o perímetro exterior do pavilhão, ligavamos a betoneira
a olhar em sobressalto os movimentos oscilatórios

do balde. Penso que era assim. Às vezes
pergunto o que fica dos livros, o que pertence
e não pertence à literatura, o que acrescentaram
à nossa vida as páginas dos romances.

José Carlos Barros, Resumo: a poesia em 2009, Assírio & Alvim, 2010, p. 70.


José Carlos Barros não é, ao contrário do que um leitor menos atento possa supor, um jovem poeta estreante. Nasceu em 1963 em Boticas. O primeiro livro de JCB, Pequenas Depressões, em colaboração com Otília Monteiro Fernandes, foi publicado em 1984. Seguiram-se mais cinco livros de poesia, em edições o suficientemente discretas para passarem despercebidas. Publicou os livros em prosa O Dia em que o Mar Desapareceu (2003) e O Prazer e o Tédio (2009). Nos anos oitenta foi um dos principais colaboradores do suplemento juvenil do Diário de Notícias, o DN-Jovem. Recentemente venceu o prémio de poesia Sebastião da Gama, com o livro, ainda inédito, Os Sete Epígonos de Tebas. O poema aqui apresentado foi publicado originalmente no nº 3 da revista Criatura, revista mantida por alguns jovens poetas como António Ramos Pereira, David Teles Pereira, Diogo Vaz Pinto ou Ana Salomé. É autor do blogue Casa de Cacela