quarta-feira, junho 30, 2021

Francisco Rodrigues Lobo



 Da Écloga X

Cantiga

Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura.
Vai fermosa e não segura.

A talha leva pedrada,
pucarinho de feição,
saia de cor de limão,
beatilha soqueixada;
cantando de madrugada,
pisa as flores na verdura:
Vai fermosa e não segura

Leva na mão a rodilha, 
feita de sua toalha;
com ua sustenta a talha,
ergue com outra a fardilha;
mostra os pés por maravilha,
que a neve deixam escura:
Vai fermosa e não segura

As flores por onde passa,
se o pé lhe acerta de pôr,
ficam de inveja sem cor,
e de vergonha com graça;
qualquer pegada que faça
faz florescer a verdura:
Vai fermosa e não segura.

Não na ver o sol lhe val,
por não ter novo inimigo;
mas ela corre perigo,
se na fonte se vê tal;
descuidada deste mal,
se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa e não segura

(Éclogas, 1605)
in Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc.XIII ao Séc. XXI, sel, org. de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora, 2009, pp. 513-514




segunda-feira, maio 31, 2021

António Maria Lisboa

 


PROJECTO DE SUCESSÃO

                                                        Para o Mário Henrique

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitroglicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.

in De palavra em punho, Antologia poética da resistência, de Fernando Pessoa até o 25 de Abril, org. de José Fanha, Campo das Letras, Porto, 2004, p. 181.


sexta-feira, abril 30, 2021

Sobre a histeria anticorrupção



1. Nunca como agora se falou tanto no espaço mediático de corrupção. Esta fala é reactiva aos casos que têm sido, principalmente na última década, apresentados aos média pelo Ministério Público (MP), outras entidades judiciais e repercutidos nos média. A reacção, agora, é política e mediática, e decorre da leitura pelo juíz Ivo Rosa, em directo para as televisões, da súmula da instrução do processo chamado "Operação Marquês", em que estavam envolvidos o ex-banqueiro Ricardo Salgado, dois ex-administradores da Portugal Telecom, e sobretudo o ex-primeiro-ministro José Sócrates (e o seu alegado corruptor, o amigo e empresário Carlos Santos Silva), além de outras figuras secundárias. Há, nos comentários que se seguem a este evento, pelos comentadores da praça, a maioria políticos, alguns juristas e alguns jornalistas, um repúdio histérico pela decisão instrutória de Ivo Rosa, que decide levar José Sócrates a julgamento por "apenas" 6 dos 31 crimes que estava acusado. Além disso, na leitura da sua súmula, Ivo Rosa "arrasa" a acusação do MP. O incómodo, numa primeira reacção é generalizado; depois na complexidade do processo, os comentadores vão salientar das três horas de leitura do acórdão, quase só, o que incrimina José Sócrates.

2. Viajemos, virtualmente, a esse inferno que se tornou o Brasil de Bolsonaro. É aqui necessário lembrar o golpe de Estado judicial levado a cabo pelo juíz Sérgio Moro. Foi este super-juiz que ao mandar prender o ex-presidente do Brasil e candidato às últimas eleições, com base em alegados crimes de corrupção, acabou por dar a vitória nas presidenciais a Jair Bolsonaro. Não contente com isto, Sérgio Moro viria a integrar o executivo de Bolsonaro com a pasta da Justiça. Ou seja, em nome da luta contra a corrupção, o juiz torna-se corrupto, porque a sua acção (mandar prender Lula da Silva para dar a vitória a Bolsonaro) é premiada por Bolsonaro com um convite para o governo. Para além do paradoxo já evidenciado, o Brasil tornou-se num país com um chefe de Estado risível, mas que com o evoluir da pandemia se tornou trágico: enquanto morriam milhares de pessoas, Bolsonaro gozava, como um líder fascista ou nazi, sobre os efeitos da covid.

3. Regressemos a Portugal. Em Novembro de 2014, à chegada ao aeroporto da Portela, José Sócrates, regressado de Paris, era preso. Desde a sua vigência como primeiro-ministro, o ex-líder do PS era acusado por alguns média, nomeadamente o Correio da Manhã, cuja televisão - CMTV - esteve presente no acto da prisão, de vários casos de corrupção. Presente ao juiz Carlos Alexandre, e embora o MP não tivesse provas dos crimes por que acusava o ex-primeiro-ministro (que na altura tinha um programa de comentário ao Domingo na RTP-1), o super-juiz português decreta prisão preventiva para Sócrates. Durante quase um ano Sócrates vai ficar preso preventivamente. Cabe aqui referir, que se o Código Penal português tem molduras penais, comparativamente com outros países europeus mais brandas, existe uma cultura de abuso da prisão preventiva por parte dos juízes, o que leva a que pessoas depois declaradas inocentes em julgamento tenham estado presas. Esta atitude da justiça portuguesa é ofensiva dos direitos humanos e não se coaduna com um Estado de direito democrático. Mas é recorrente: primeiro prende-se, e depois investiga-se. Poucas pessoas se têm preocupado com este fenómeno, que implica muitos dos cidadãos alvo das acusações do Ministério Público, principalmente aqueles que tem menor poder de defesa, isto é, menor poder económico para pagar a bons advogados que os defendam. 

4. Embora José Sócrates acuse hoje os responsáveis pela sua prisão de o terem feito para evitar que ele concorresse às eleições presidenciais, o aspecto político desta prisão e posterior acusação vai para além disso. Em 2014, Portugal ainda está sob a vigência da troika, chamada ainda durante o governo presidido por Sócrates, após o PEC IV não ter passado na Assembleia da República, com os votos contra de toda a oposição, da direita à esquerda. Ora, numa altura em que o governo PSD-CDS, liderado por Passos Coelho, quis ir além das imposições austeritárias da troika, numa altura de profunda crise económica e social, duas narrativas (expressão usada por José Sócrates) ocupavam o espaço público: 1) a de que a culpa da crise e do pedido de "ajuda externo" era de Sócrates, e 2) a de que fora Passos Coelho ao não ajudar o governo socialista que quis a troika e quis ir além da troika. António Costa, ex-ministro de Sócrates, proferiu uma frase que ainda hoje mantém: "à justiça o que é da justiça, à política o que é da política". No entanto, esta frase que tentava desvincular o "corrupto" Sócrates, do actual PS, como se fosse possível apagar o passado com uma borracha, não representa a verdade das relações entre política e justiça. O que tem acontecido sempre nos Estados de direito modernos é que a justiça, ou o direito, emana da política. É assim porque é o poder político (legislativo) que faz as leis. Aos tribunais compete administrar a justiça com base nessas leis. Portanto, existe uma subserviência de juízes e Ministério Público em relação ao poder político. Mas, se repararmos no caso brasileiro do juiz Sérgio Moro, é já a justiça a interferir na vida política, como outrora o faziam as forças armardas pela força de um golpe de Estado. No caso de José Sócrates, na altura a viver em Paris num luxuoso apartamento, parece ter existido por parte do MP a tomada de posição por uma destas narrativas. 

5. É evidente que em Portugal grassa a corrupção a nível do poder político. Ela será sobretudo uma pequena corrupção, a nível autárquico. Embora esta afirmação seja uma presunção, não baseada em factos, como seria uma presunção afirmar que existe corrupção a nível das chefias, ou mesmo dos funcionários, de determinada função pública. No entanto, a reactividade perante uma simples decisão de um juiz de instrução, faz lembrar a metáfora das virgens ofendidas - virgens que podem não ser tão virgens como querem a todo custo fazer parecer. Essas virgens ofendidas vagueiam pelo governo e pelo aparelho PS, depois de há alguns anos atrás terem pertencido ao governo Sócrates. E ofendidas, tornam-se histéricas, quer como comentadoras, quer como governantes. No último caso, note-se que 20 dias depois da decisão instrutória de Ivo Rosa, o governo prepara-se para atacar a corrupção através de vários mecanismos: do pedagógico ao de uma delação premiada encapotada que será o novo estatuto do denunciante (v. Público, 29-04-21, pp. 10 e 11, art. "Governo quer alargar regime de perdão de penas a quem confessar corrupção").

6. A histeria anticorrupção à portuguesa, que equacionou uma inversão do ónus da prova, torna-se num problema para as actuais democracias representativas. É certo que a corrupção pode ser uma fácil arma de arremesso por parte da crescente extrema-direita populista, mas o facto de se considerar alguém com funções governativas como um possível corrupto, atitude que tem sido tomada pelo Ministério Público, não só fomenta esse populismo de extrema-direita, como impede que os melhores sirvam o país. Aberta a caça ao político corrupto está legitimado o discurso populista de extrema-direita, e só por masoquismo alguém aceitará um cargo político: o escrutínio não é só mediático e político, mas passou a ser, também, penal    

 

domingo, fevereiro 28, 2021

Yosa Buson



 Lua com auréola
o perfume das ameixoeiras
subiu tão alto?

*
Trabalhando a terra
vislumbro a casa
ao anoitecer

*
Nortada
o som da chuva
afiado pelas rochas

*
Canta o cuco
sem pais
nem filhos

De "Primeiro Amor e outros poemas", selecção e versões de Manuel Silva-Terra, Editora Licorne, 2013.


domingo, janeiro 31, 2021

AMEAÇAS À DEMOCRACIA

 


1, No estado em que vivemos, a realização de eleições presidenciais torna-se problemática. O presidente reeleito e a Assembleia da República tiveram muito tempo para legislar sobre o adiantamento de eleições - não o quiseram fazer. O próprio Marcelo manteve um tabu artificial sobre a sua recandidatura. Mas deu-se ao luxo de fazer uma campanha solitária, num estilo de populismo light que cultivou durante todo o mandato. Seria esse populismo, pensava-se, uma forma de travar o populismo de direita de características neofascistas que da França à Alemanha, passando pela vizinha Espanha, grassa pela Europa e pelo mundo. Mas não. Portugal não escapou a esse populismo fascista, por meio de uma figura, que vinda do PSD de Passos Coelho (foi candidato à CM de Loures), com alguma visibilidade mediática por ser comentador de futebol numa estação de televisão, se pôs a destilar ódio contra a etnia cigana, contra os mais frágeis da população portuguesa, que vivem do RSI, a quem chama de subsídio-dependentes. Se nas legislativas de 2019 o partido que fundou conseguiu elegê-lo como deputado à AR, a partir daí o crescimento do seu partido de extrema-direita foi galopante nas sondagens. A confirmação desses números das sondagens, deu-se agora nestas eleições presidenciais, onde o líder da extrema-direita obteve cerca de 12% dos votos, cerca de meio milhão de eleitores. Apenas Ana Gomes, numa candidatura corajosa, conseguiu, eleitoralmente, fazer frente ao candidato da extrema-direita, e ficar em segundo lugar. A questão que se coloca é  como foi possível chegarmos aqui, termos um líder da extrema-direita, apoiado por Marine Le Pen ou Salvini, que conseguiu o terceiro lugar numa eleição presidencial. A resposta parece estar nos média: numa lógica de que "tudo o que é bom aparece, tudo o que aparece é bom", os vários meios de comunicação social, falaram fartamente do líder da extrema-direita portuguesa. Mesmo quando falavam mal dele, falavam, e como deviam saber, mesmo a má publicidade é publicidade, e acaba por gerar simpatias. O velho discurso xenófobo e racista, contra os mais desprotegidos da sociedade, o discurso de que "o que fazia falta era um Salazar", regressou, agora corporizado num partido que ameaça tornar-se na terceira força política portuguesa e reconfigurar a direita, fazendo desaparecer o CDS-PP. Aos média que não querem o crescimento deste tipo de força política cabe pensar como abordá-la, como estancar a sua presença, quase diária, nas notícias, e tomar partido, editorialmente, contra. Aos partidos da direita clássica e também da nova direita liberal (PSD, CDS e IL) cabe criar um cordão sanitário que impeça uma futura aliança de direita onde o partido radical entre. No entanto, a sede pelo poder é grande, o que não augura nada de bom. A extrema-direita tem um tecto sociológico, é isso que impediu que a França se tornasse num país onde o (ou a) presidente da República fosse um(a) Le Pen. Mas no caso português é diferente, como se viu nos Açores, onde se criou uma geringonça à direita com o apoio da extrema-direita. De certa forma, e perante esta situação é a democracia que fica refém de um partido, ainda que minoritário, que fala de uma IV República, de "uma ditadura das pessoas de bem".

2, As ameaças à democracia, podem não passar por partidos, podem simplesmente estar nos nossos bolsos, sob a forma de um smarphone. Ameaças à nossa liberdade e à nossa privacidade, que vincam a razão que Orwell tinha, há mais de 70 anos, ao escrever o romance 1984 (recentemente reeditado em nova tradução pelo poeta José Miguel Silva e com prefácio de Gonçalo M. Tavares, pela Relógio d' Água). Uma notícia do Público -  [

Saber o que ouvimos não chega: o Spotify quer saber como falamos, onde estamos e com quem

A empresa sueca registou a patente de uma tecnologia que permite o acesso e a análise da voz dos utilizadores e do som ambiente que os rodeia. O objectivo, diz, é afinar o mais possível o seu algoritmo de sugestões.] dá conta de que a aplicação músical Spotify se prepara para nos escutar, saber onde e com quem falamos, para, assim, nos dar música mais condizente com os nossos gostos. Confesso que nos últimos meses utilizei esta aplicação para ouvir música e podcast's. Fiz algumas descobertas musicais e de podcasts. Mas a aplicação, para quem não era "premium", ou seja não pagava, tornava-se deliberadamente irritante na sua auto-publicidade. O problema dos algoritmos nas novas tecnologias, que nos escutam, nos "olham", sabem onde estamos, têm acesso a tudo o que temos nos telemóveis, é um problema grave de ameaça à nossa liberdade, logo um problema sobre o qual os Estados devem legislar com urgência. Não se pode permitir que grandes empresas, muitas vezes em regime de monopólio, como acontece com a google, nos estejam a espiar constantemente. Chegamos, tecnologicamente, à sociedade retratada em 1984. Mas ainda não vivemos em ditaduras. Por isso, se os governos nada fazem, é altura dos cidadãos se manifestarem e exigir limites legais ao processamento de informação por parte destas empresas, exigir a nossa privacidade - quer perante o Estado, quer perante empresas privadas - como um valor democrático.


quinta-feira, dezembro 31, 2020

LIVROS EM 2020

 


 Aqui fica a  lista, que estará bastante  longe de ser exaustiva,

 dos livros de poesia publicados em 2020, e de uma selecção

 de livros do ano. Saliento o II volume da Obra Poética

 de Ramos Rosa, e a reedição da obra completa de

 um poeta que está entre os melhores das últimas décadas: 

Carlos Poças Falcão. 



ASSÍRIO & ALVIM

António Ramos Rosa – Obra Poética II

Mário Cesariny – Poemas Dramáticos e Pictopoemas

Adília Lopes – Dias e Dias

Pedro Eiras – Inferno        

Rosa Maria Martelo (org.) – Antologia Dialogante de Poesia Portuguesa

Jorge de Sousa Braga – A Matéria Escura

Yosa Buson – Os Quatro Rostos do Mundo 


AVERNO 

Manuel de Freitas - 769118

Inês Dias – Cerveja & Neve


BESTIÁRIO

Rui Baião - Scaramuccia


COMPANHIA DAS ILHAS

Frederico Pedreira – A lição do sonâmbulo

Cláudia Lucas Chéu – Confissão

Manuel Fernando Gonçalves - Alarido 

AA VV – Afagando a face de Lorca

Álamo Oliveira – Poemas vadios

Nuno Dempster – Variações da Perda

Nuno Felix da Costa – Epopeia mínima


COTOVIA

Virgílio – Eneida (trad. Carlos Ascenso André)


DEBOUT SUR L’ OEUF

Manuel Fernando Gonçalves – Sol fora

Pedro Magalhães – Esturrado

Luís Cacho – O brocado do cio

José Emílio-Nelson – Sonetos Glaucos

Nuno F. Silva – Epilepsy dance


DO LADO ESQUERDO

António Amaral Tavares – A faca que nos une

José Carlos Barros – A educação das crianças

Billy Collins – Contra sinos de vento (trad. Francisco José Craveiro de Carvalho)


DOUDA CORRERIA

Rui S. Magalhães – Queda de neve nas terras altas

Paulo Ramalho – Manual de sobrevivência para náufragos

Maria Daniela – V de vagem

João Paulo Esteves da Silva – Missangas 

Maria Lúcia Alvim – Antologia poética

Natália Agra – A noite de São João

Thomaz de Figueiredo – Sonetos da casa amarela

Nick Virgilio – Um capacete crivado de balas (trad. Francisco José Craveiro de Carvalho)

Marta Caldas – E aquáticos

Débora Miltrano – Curso técnico para a iluminação

António Ferra – Clara em castelo

Guilherme Vilhena Martins – Háptica

Bernard O’ Donoghue – Fora do sítio (trad. João Paulo Esteves da Silva)

Sean Bonney – A nossa morte (trad. Miguel Cardoso)

João Silveira – Pomba-Peste

Rafaela jacinto – Regime

Alexandre Costa – Na dúvida dedicaremos o fim

Regina Guimarães e Ricardo Castro – Traumatório

Manuel Seatra – Raiz densa no pátio da garganta

Gonçalo Perestelo – Tomo banhos imperadores

 


EXCLAMAÇÃO

Regina Guimarães – Antes de mais e depois de tudo


EDIÇÕES SAGUÃO

Emily Dickinson – Poemas envelope (trad. Mariana Pinto dos Santos e Rui Pires Cabral)


FRESCA

Samsara – Painéis Solares

João Coles – Merda para as Musas

Narciso Pinto – Unhas-de-Fome

Tatiana Faia – Leopardo e Abstracção


IMPRENSA NACIONAL/CASA DA MOEDA

Vitorino Nemésio – Poesia (1950-1959)


LICORNE

João Pedro Mésseder – Espanta-espíritos

Tu Fu – Entre céu e terra (“transgressões” de Manuel Silva-Terra)

Rainer Maria Rilke – Notas sobre a melodia das coisas


LÍNGUA MORTA

Roger Wolfe – Fazer o trabalho sujo (antologia org. por Luís Pedroso)

Andreia C. Faria – Clavicórdio

Luís Carlos Patraquim – Morada nómada

Luís Filipe Parrado – O universo está pintado à mão 

Pablo Javier Pérez López – Dicionário de garças e de melros & outros textos (trad. João Moita)

??? – O meu livro de cabeceira é um revólver (trad. Jorge Melícias)

Mariano Alejandro Ribeiro – Bartlebyana

Carlos Poças Falcão – Arte nenhuma (co-edição com a Livraria Snob)

Ivone Mendes da Silva – Os contos esquivos

Amâncio Reis – Pterodáctilo

Nuno dos Santos Sousa – Ao ouvido de um moribundo – uma antologia desesperada da poesia portuguesa

Joan Margarit – Misteriosamente feliz (sel, trad. Miguel Filipe Mochila)

Raul de Carvalho – Lâmpadas acesas para aumentar o dia (sel. Diogo Martins)



(NÃO EDIÇÕES)

José António Almeida – Pouca tinta (poesia reunida)

Susana Araújo – Discurso aos pacientes cirúrgicos

Rui Pires Cabral – Drawing Rooms

Inês Francisco Jacob – Sair de cena

Edwin Morgan – 100 poemas (sel. Trad. Ricardo Marques) 


MALDOROR 

Diogo Vaz Pinto – Aurora para os cegos da noite



PORTO EDITORA

Artur do Cruzeiro Seixas – Obra poética I (org. Isabel Meyrelles)

Artur do Cruzeiro Seixas – obra poética II


PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE

Manuel Alegre – Quando 

Nuno Júdice – Regresso a um cenário campestre


QUETZAL

Frederico Lourenço (trad. e org.) – Poesia Grega de Hesíodo a Teócrito

João Luís Barreto Guimarães – Movimento 


RELÓGIO D’ ÁGUA

Louise Gluck – A Íris selvagem (trad. Ana Luísa Amaral)

Louise Gluck – Averno (trad. Inês Dias)

Miguel-Manso – Estojo 

Hélia Correia – Acidentes 


TINTA DA CHINA

Alejandra Pizarnik – Antologia poética (trad. Fernando Pinto do Amaral)


VOLTA D’ MAR

José Ricardo Nunes – Si dispensa daí fiori

Sandra Costa – Boletim Meteorológico 


Uma selecção de livros (ficção, ensaio, poesia)

AA VV – O Cânone (Tinta da China, Fund. Cupertino de Miranda)

Paul Celan/Ingeborg Bachmann – Tempo do Coração (Antígona) 

Alejandra Pizarnik – Antologia Poética (Tinta da China)

António Ramos Rosa – Obra Poética II (Assírio & Alvim)

Adília Lopes – Dias e Dias (Assírio & Alvim

Ana Teresa Pereira – Os Perseguidores (Relógio d’ Água)

Shoshana Zuboff – A Era do Capitalismo de Vigilância (Relógio d’ Água)

António Damásio – Sentir & Saber (Temas e Debates)

AA VV – História Global de Portugal (Temas e Debates)

Robert Arlt – Águas Fortes Portenhas (Exclamação)

Mónica Bello – A Vida Extraordinária do Português que Conquistou a Patagónia (Temas e Debates)

Alberto Velho Nogueira – Ensaios 3 (Bestiário)

Gabriel Garcia Marquez – O escândalo do século (D. Quixote)

José Mattoso – A História Contemplativa (Temas e Debates)

Carlos Poças Falcão – Arte Nenhuma (Língua Morta / Livraria Snob)

Andrea Mazzola – Transhumano mon amour (Jornal Mapa)



segunda-feira, novembro 30, 2020

Graça Videira Lopes

 


INCITAÇÃO AO CANTO, COM BORBOLETAS

Amigos, deixemos ir no ar as borboletas
que voam breves. Deixemos-las voar.
A terra abriu as asas nesta manhã de primavera
em cada uma delas. Deixemos o azul voar.
A beleza das coisas, amigos, é o limite 
do canto. Deixemo-nos cantar. 
E mesmo se é dezembro e a cidade oscila
num sono incerto e vário, deixemo-la tecer
os fios luminosos da manhã.

*

NEBLINA

A melancolia é um barco encalhado
no meio do Tejo, numa manhã de nevoeiro.
Chora o Cais das Colunas, num filme 
a preto e branco, a memória dos que partiram
para o deserto sem regresso do império:
gaivotas acenando em terra, voando
em círculo sobre os mastros, onde flutuam,
imóveis, os estandartes do tempo.
Um rei que não regressa é um rei morto,
mesmo que os seus olhos nos fitem na distância,
no espanto de um tesouro por encontrar.
Há dias em que, na espuma do Tejo, o que regressa
são os navios dos que o seguiram rumo ao sul.

(de Paisagens e outros lugares a discutir, ed. Arte Comum, Lisboa 2005)

Graça Videira Lopes nasceu em Mangualde. Tem uma basta bibliografia na sua área de estudo: a poesia Galego-Portuguesa. Como poeta publicou Horácio e as Bonecas (Fenda, 1983) e Paisagens e outros lugares a discutir (2005). Está representada na antologia poética Sião (Frenesi, 1987). 

sábado, outubro 31, 2020

Raimbaut de Viqueiras

 


ALTAS ONDAS QUE VINDES SOBRE O MAR

Altas ondas que vindes sobre o mar,
que o vento faz cá e lá balançar,
do meu amigo sabedes novas contar,
que foi para lá? Não o vejo voltar!
E ai, Deus, o amor!
Ora me dá prazer ora me dá dor!

Ai, doce brisa, que vens de lá
onde meu amigo dorme e está e anda,
traz-me de seu alento um sopro!
A boca abro, do grande desejo que trago.
E ai, Deus, o amor!
Ora me dá grande prazer ora me dá dor!

Faz mal amar vassalo de estranho país,
tornam-se em choro seus jogos e risos,
Nunca pensei que o meu amigo me traísse
pois lhe tudo o que de amor me quis.
E ai, Deus, o amor!
Ora me dá prazer ora me dá dor!

(in Os Trovadores Provençais, selecção e tradução de Irene Freire Nunes e Fernando Cabral Martins, ed. Documenta, 2014, p. 194)

Raimbaut de Viqueiras (1180 – 1207) foi um trovador provençal, do qual se conhecem 26 poesias