quarta-feira, janeiro 14, 2015

OLGA GONÇALVES


 
 (Moledo. Uma hora depois. Quando fui sentar-me entre
as ervas finas da primeira duna. Onde há camarinhas e as
austrálias podem ver o mar.)

1. Uma gaivota num tremor de frio
fechou os olhos sob os meus cabelos
(a paz já me não dói?)

2. Há sangue na orla das vagas
há maravilhamento nos ecos da praia
- a paz deixou de doer

*
Como a palavra nua
que partiu sem regresso
a angústia voltou

*
Sentir o cobre da argola do portão
agarrar os passos que se deram
para trás num caminho de rostos

*
As alvoradas brancas nasceram
para o lado de lá do desespero
campo aberto

Olga Gonçalves, Movimento, Círculo de Poesia / Moraes Editores, Lisboa, pp. 35, 38, 45, 50.

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