O que seria
de esperar de um governo do PS apoiado pela esquerda – BE e PCP? Seria de
esperar a reversão da maioria das medidas tomadas pelo governo de destruição
nacional PSD/CDS. Senão todas agora pelo menos até ao fim provável da
legislatura, daqui a quatro anos. Mas não. Este governo de António Costa é
maquiavélico, no sentido em que apenas pretende o poder pelo poder, o governar
por governar, porque é para isso – acham – que serve um partido como o PS.
Engano. As pessoas, os portugueses, os alegados eleitores estão, com razão, fartos
de uma classe política que da direita à esquerda apenas quer o poder, mesmo que
para isso se tenha que desfigurar na sua identidade ideológica. Já tínhamos o
exemplo grego de Alexis Tsipras, que em pouco tempo se transformou de um
radical que ameaçava a ordem podre e anti-democrática da UE num amestrado
político às ordens de frau Merkel e dos interesses financeiros. Agora tivemos
António Costa a liderar um governo PS, apoiado pela primeira vez na história da
democracia constitucional portuguesa pós 25 de Abril por todos os partidos à
sua esquerda (BE, PCP, PEV, PAN), a ir ao beija-mão a frau Merkel. O mesmo
Costa que dá despudoradamente conselhos aos portugueses para andarem mais a pé
ou não fumarem é o simile na administração da vida do que Passos Coelho foi na
destruição de vidas.
Um governo
socialista, um governo apoiado por uma maioria de esquerda, sim. Mas não era
nada disto que estávamos à espera. Não estávamos à espera de OE que continuasse
a austeridade, não estávamos à espera que um governo socialista pagasse mais de
2 mil milhões de euros para “vender” um banco falido – isso já tínhamos visto
no governo de Passos Coelho.
Passaram pouco
mais de dois meses sob a tomada de posse deste governo de António Costa que
nunca chegou a conhecer o estado de graça, embora fosse tão promissor para quem
não tinha acompanhado o percurso dos últimos meses do ex-presidente da CM de
Lisboa – das primárias do PS às eleições legislativas, Costa revelou que não é
o mesmo comentar as políticas dos outros que estar no terreno, a fazer
política. Se seguro era inseguro, também Costa veio revelar-se titubeante sendo
incapaz de impor os interesses dos portugueses em Bruxelas. Era isso o mínimo que
podíamos pedir a António Costa – que representasse os interesses dos
portugueses (que não são bem os interesses de Portugal) em Bruxelas de forma
combativa e não de cócoras ou ajoelhado.
Mas talvez
isso fosse pedir muito. Talvez isso, nestes tempos que vivemos de políticos que
se acobardam perante os deuses dos mercados e a sua sacerdotisa Angela, fosse
pedir um messias que afrontasse essas entidades que governam o nosso destino. Mas
isso é tão só o mínimo que podemos (sim, Podemos) pedir a quem nos governa. Porque
isso é política, “a promessa da política” que poderemos ter uma vida melhor. Mas
o que a chamada classe política tem feito é governar contra as pessoas, a favor
de uma elite em que ela mesma se inclui. Espantam-se os políticos com o nível
de abstenção? Mas porque devem as pessoas ir votar? Para financiar os partidos
ou os candidatos?
Mas isso não
significa que as pessoas se devam arredar da política. Em primeiro lugar porque
a política faz-se em todo o lado e não só na altura de depositar o voto na urna
– a política habita o espaço público, das manifestações aos pequenos protestos nos
livros de reclamações. Em segundo lugar cabe aos cidadãos numa democracia
parlamentar vigiar e denunciar não só o que acham que é corrupção, mas também,
e sobretudo, o que pode pôr em risco a democracia como espaço de liberdade de
expressão e acção (dentro das regras de um estado de direito). Esta é a “promessa
da política” a que António Costa parece estar a faltar. Esperemos pelo caso
espanhol e o que pode o Podemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário