Os irlandeses, em referendo, na passada sexta-feira, votaram contra o Tratado de Lisboa. O referendo ao Tratado de Lisboa apenas se realizou na Irlanda porque a constituição irlandesa assim o obriga: nos restantes 26 países da União Europeia o Tratado tem sido – e deverá continuar a ser – rectificado pelos parlamentos de cada país. A questão que este não dos irlandeses coloca perante a “construção europeia” relaciona-se com a democraticidade dessa mesma construção. Senão vejamos: toda a construção do que é hoje a União Europeia tem sido feita à revelia dos cidadãos (o caso português é um bom exemplo: desde a adesão à então CEE, até este Tratado, aprovado pelo parlamento português, passando pela entrada no euro, nunca os portugueses foram ouvidos em referendo). Os políticos europeus e os eurocratas de Bruxelas desprezam e/ou temem o povo da Europa. No fundo desprezam a democracia, acham-se uma oligarquia de iluminados. Mas, paradoxo, a Europa não é um resultado da democracia e do fim da segunda guerra mundial? Não é, embora imperfeita, a democracia o melhor dos regimes? Para os políticos europeus, eleitos democraticamente, e perante as reacções ao resultado do referendo irlandês – como perante as atitudes anteriores do processo de construção europeia –, parece que eles desdenham da democracia. E, continuação do paradoxo, não foram eles eleitos democraticamente? Talvez por isso se achem no poder de um mandato que os faz ignorar a vontade popular – e de facto faz, durante os quatro anos de duração desse mandato.
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