NINGUÉM MEU AMOR
Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nos conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos
Sebastião Alba, in Rosa do Mundo – 2001
poemas para o futuro, Assírio & Alvim, 2001, pp.1793-94
Sebastião Alba (1940-2000), pseudónimo de
Dinis Albano Carneiro Gonçalves, nasceu em Braga, indo viver para Moçambique
onde iniciou a sua actividade literária. Em 1983 regressa a Portugal. Foi jornalista, guerrilheiro, esteve internado em hospitais psiquiátricos e viveu na rua. Em A
Noite Dividida (Assírio & Alvim, 1996) reúne três livros: dois já
publicados e um inédito. Em 2023, na Imprensa Nacional é publicado Todo o Alba,
volume que colige a obra edita e inédita do poeta.