sexta-feira, março 25, 2011
terça-feira, março 15, 2011
A POLÍTICA SAIU À RUA
terça-feira, março 08, 2011
A CANÇÃO COMO ARMA HILARIANTE
Os Homens da Luta ganharam o Festival RTP da Canção. Algo escandaloso, que provocou o abandono da sala por parte de muitos espectadores. Mas, como salientaram Gel e Falâncio, foi o povo que votou - e o voto do povo veio desestabilizar a previsibilidade de um festival entre o nacional cançonetista e a música pimba. Os Homens da Luta não são cantores de intervenção como na sua altura foram José Afonso ou José Mário Branco. Os tempos são outros (mas muito parecidos com os de há 30 anos atrás), mas a canção de certa forma continua a ser uma arma – veja-se o caso dos Deolinda. Ao contrário de outros tempos a canção é uma arma hilariante: é pela ironia e pelo humor que hoje se pode intervir politicamente; é criando situações inesperadas (como os Homens da Luta já fizeram na últimas legislativas) que se conseguem efeitos políticos. Agora os Homens da Luta vão à Alemanha, mandar “a Merkel à merkel”.
quinta-feira, fevereiro 24, 2011
MILAN KUNDERA
Uma dezena de anos mais tarde, recentemente emigrado, conversava em França com um jovem que de repente me perguntou:«Gostas de Barthes?» Nesse tempo, já não era ingénuo. Sabia que estava a submeter-me a um exame. E também sabia que Roland Barthes já nessa altura figurava à cabeça de todas as listas de ouro. Respondi:«Com certeza que gosto. E gosto! Está com certeza a referir-se a Karl Barth, não é verdade? O criador da teologia negativa! Um génio! A obra de Kafka é inconcebível sem ele!» O meu examinador nunca ouvira o nome de Karl Barth mas, atendendo a que eu o relacionara com Kafka, o intocável dos intocáveis, nada mais tinha a dizer. A discussão derivou para outros temas. E eu fiquei contente com a minha resposta.
Milan Kundera, Um Encontro, D. Quixote, 2011, p. 56
Milan Kundera, Um Encontro, D. Quixote, 2011, p. 56
sábado, fevereiro 12, 2011
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
PRAÇA THARIR
Nos últimos dias a Praça Tharir (Praça da Libertação) tem sido o ponto para onde convergem todos os manifestantes contra o regime de Mubarak. (Ontem apareceram os manifestantes pró-Mubarak, o que resultou em inevitáveis confrontos, com pelo menos 5 mortos e 800 feridos). A Praça Tharir, no Cairo, é o Egipto; é como se um país imenso se transformasse apenas numa praça, ai joga-se tudo politicamente. Dos edifícios junto à Praça da Libertação a comunicação social de todo o mundo observa a multidão, os confrontos. Como num teatro. Os militares assistem sem intervir.
Nestes dias a Praça Tharir tornou-se num misto de Agora grega e teatro. Aqueles que acedem à Praça transformam-se nos cidadãos, mas não os cidadãos como na antiga democracia grega que discutiam os assuntos da cidade. É através da sua presença física contra um regime fraudulento e ditatorial que os manifestantes se tornam cidadãos, homens e mulheres dispostos a tudo, inclusive a sacrificar as suas vidas. Fazer política num regime ditatorial implica arriscar o corpo (à tortura, às balas, ao cansaço, etc), é a vida de cada um que se joga. Foi assim em Tianamen há vinte anos, é agora – para já de forma diferente – na Praça Tharir.
Nestes dias a Praça Tharir tornou-se num misto de Agora grega e teatro. Aqueles que acedem à Praça transformam-se nos cidadãos, mas não os cidadãos como na antiga democracia grega que discutiam os assuntos da cidade. É através da sua presença física contra um regime fraudulento e ditatorial que os manifestantes se tornam cidadãos, homens e mulheres dispostos a tudo, inclusive a sacrificar as suas vidas. Fazer política num regime ditatorial implica arriscar o corpo (à tortura, às balas, ao cansaço, etc), é a vida de cada um que se joga. Foi assim em Tianamen há vinte anos, é agora – para já de forma diferente – na Praça Tharir.
segunda-feira, janeiro 31, 2011
Catarina Nunes de Almeida
Três moças cantavam d'amor
os braços debulhados dispostos no lençol.
A casa era um corpo
invertebrado.
Um bicho sem concha
à sombra das coxas mas moças
que d'amor cantavam
e sobrevoavam o linho
de pernas para o mar
uma de dentro da outra para dentro da outra
e trocavam de sapatos
e teciam véus e vulvas
como quem ensaia a perfeição de um delito.
***
Vamos, irmã, vamos folgar
nas margens do lago u eu vi andar
a las aves meu amigo.
Vamos carregadas de braços
lavrar as aves tardar nas aves
do meu amigo.
Vamos, irmã, vamos folgar
pingar com as aves
nós duas estreitas
para o amigo.
Vamos carregadas de noites
acender as aves pousar as aves
boca a boca
no amigo.
Catarina Nunes de Almeida, Bailias, Deriva, Porto, 2010, pp. 14 e 15.
Catarina Nunes de Almeida nasceu em Lisboa em 1982. Licenciada em Língua e Cultura Portuguesa pela FLUL, foi docente na Universidade de Pisa (Itália).Como poeta estreou-se com o livro Perfloração (Quasi, 2006) que obteve o Prémio de Poesia Daniel Faria e o Prémio do PEN Clube Português para a Primeira Obra. Em 2008 publicou A metarmofose das Plantas dos Pés (Deriva) e, no ano passado, Bailias (Deriva) que faz uma revisitação dos Cancioneiros medievais.
os braços debulhados dispostos no lençol.
A casa era um corpo
invertebrado.
Um bicho sem concha
à sombra das coxas mas moças
que d'amor cantavam
e sobrevoavam o linho
de pernas para o mar
uma de dentro da outra para dentro da outra
e trocavam de sapatos
e teciam véus e vulvas
como quem ensaia a perfeição de um delito.
***
Vamos, irmã, vamos folgar
nas margens do lago u eu vi andar
a las aves meu amigo.
Vamos carregadas de braços
lavrar as aves tardar nas aves
do meu amigo.
Vamos, irmã, vamos folgar
pingar com as aves
nós duas estreitas
para o amigo.
Vamos carregadas de noites
acender as aves pousar as aves
boca a boca
no amigo.
Catarina Nunes de Almeida, Bailias, Deriva, Porto, 2010, pp. 14 e 15.
Catarina Nunes de Almeida nasceu em Lisboa em 1982. Licenciada em Língua e Cultura Portuguesa pela FLUL, foi docente na Universidade de Pisa (Itália).Como poeta estreou-se com o livro Perfloração (Quasi, 2006) que obteve o Prémio de Poesia Daniel Faria e o Prémio do PEN Clube Português para a Primeira Obra. Em 2008 publicou A metarmofose das Plantas dos Pés (Deriva) e, no ano passado, Bailias (Deriva) que faz uma revisitação dos Cancioneiros medievais.
terça-feira, janeiro 18, 2011
BASTA
Aníbal Silva, mais conhecido como Cavaco, esteve no poder durante mais de 16 anos. Primeiro como ministro das finanças num governo da AD; depois dez anos, entre 1985 e 1995, como primeiro-ministro, e, finalmente, nos últimos cinco anos como presidente da república. Agora prepara-se para continuar mais cinco anos no poder, se como indicam as sondagens, for reeleito. É altura de dizer Basta. Nunca um político depois do 25 de Abril esteve tanto tempo no poder. Mário Soares que foi por duas vezes primeiro-ministro e outras duas presidente, não deve contabilizar 15 anos. E, no entanto, Soares – como Manuel Alegre – foi sempre um político. E isto faz toda a diferença – ser político, entender o que é a política, algo que herdamos dos gregos antigos. Aníbal Silva tem sido um pára-quedista, um oportunista que aparece apenas para ocupar o poder. Foi assim em 1985 quando aproveitou o desgaste do PS e a entrada de Portugal na então CEE. Qualquer governo que detivesse o poder nesses anos tinha condições para ter sucesso; afinal Portugal voltava a ter dinheiro com as avultadas ajudas de Bruxelas. Mas seria de exigir muito mais que gastar dinheiro na construção de auto-estradas, e Aníbal só soube gastar o dinheiro que caia do céu. Vinte e cinco anos depois (15 depois do fim do governo Cavaco) Portugal continua a ser um dos países mais pobres da União Europeia, que hoje conta com 27 países membros. Ou seja, estamos hoje ao nível de países que saíram de ditaduras comunistas.
Os cinco anos da presidência de Aníbal Cavaco Silva, que têm andado esquecidos do debate desta campanha, foram desastrosos. Comunicações ao país sobre assuntos menores, discursos incongruentes, vetos hesitantes. Mas o mais grave é que um professor catedrático de economia, ao mesmo tempo que é presidente da república, tenha deixado que Portugal seja alvo da ganância dos ditos mercados financeiros. Acresce um pormenor que não é de somenos: Aníbal Cavaco Silva é autor de uma brochura de 25 páginas, entre outros livros de economia, intitulada Os Efeitos Macroeconómicos dos Défices Orçamentais Financiados por Dívida Pública (1986) e outra com o significativo título em inglês de Economic Effects of Public Debt . Ele, deve ser a pessoa melhor preparada em Portugal para evitar a situação em que o país se encontra. Se, nas suas várias passagens pelo poder não fez nada é porque não quis. Porque, no fundo, Cavaco pertence a uma elite que tem um imenso desprezo pelo país onde nasceu e pelas suas pessoas. Essa elite que estudou em Inglaterra ou nos EUA as melhores formas de controlar as populações. Essa elite, com Cavaco à cabeça, o que mais deseja por estes dias é rever os seus colegas do FMI.
Os cinco anos da presidência de Aníbal Cavaco Silva, que têm andado esquecidos do debate desta campanha, foram desastrosos. Comunicações ao país sobre assuntos menores, discursos incongruentes, vetos hesitantes. Mas o mais grave é que um professor catedrático de economia, ao mesmo tempo que é presidente da república, tenha deixado que Portugal seja alvo da ganância dos ditos mercados financeiros. Acresce um pormenor que não é de somenos: Aníbal Cavaco Silva é autor de uma brochura de 25 páginas, entre outros livros de economia, intitulada Os Efeitos Macroeconómicos dos Défices Orçamentais Financiados por Dívida Pública (1986) e outra com o significativo título em inglês de Economic Effects of Public Debt . Ele, deve ser a pessoa melhor preparada em Portugal para evitar a situação em que o país se encontra. Se, nas suas várias passagens pelo poder não fez nada é porque não quis. Porque, no fundo, Cavaco pertence a uma elite que tem um imenso desprezo pelo país onde nasceu e pelas suas pessoas. Essa elite que estudou em Inglaterra ou nos EUA as melhores formas de controlar as populações. Essa elite, com Cavaco à cabeça, o que mais deseja por estes dias é rever os seus colegas do FMI.
(A imagem foi retirada do blogue de João Branco, Entre o nada e o Infinito)
domingo, janeiro 16, 2011
Liberato
À CABEÇADA À TELEVISÃO O CALÃO
(Ás vezes também o desempregado precisa de esquecer o desemprego e que trabalha...)
Há intelectuais e muitas cabeças à cabeçada à televisão.
A mim faz mais impressão, ver, o Televisor na televisão.
Esta pequena indiscrição, deve-se ao facto de um dia ser convidado,
a casa de um casal, pensava eu de amigos,
que tinha o televisor no guarda-vestidos.
Diziam eles que nao gostavam de televisao.
É mentira pensava eu, com as mãos nos bolsos,
que antes vi-os, com os olhos na televisão, no café.
Para mim gostavam de televisão,
o que não gostavam era do Televisor;
senão, porque o tinham fechado no guarda-vestidos?!...
É por estas e por outras que sou pessoa de poucos amigos!
FOGO DE ARTIFÍCIO
Com esta sede, tenho apagado tanto fogo
dentro de mim,
e ainda tenho tanto verde por queimar.
Estas coisas podiam não ser assím;
Podiam-me põr pelo menos no Verão, subsidiado,
qual, guardador de rebanhos a guardar,
do que resta; aqui um pássaro, ali uma árvore,
desta floresta, que o criminoso com a ajuda do tempo
e do empresário, continua a queimar.
Podia ser que com outra política,
nós desempregados, desse-mos conta do recado,
ao fogo posto que o fogo de vista, desta política,
parece continuar a não querer dar.
Que para quem desempregado,
já nem vai nem na festa popular,
só lhe resta roer, assim, os ossos do ofício,
e olhar para o balão que leva no ar o S. João,
a arder nesta noite com Fogo de Artifício.
Liberato, Manual do Desempregado, Edições Mortas, (2007) pp. 8 e 13.
Com esta sede, tenho apagado tanto fogo
dentro de mim,
e ainda tenho tanto verde por queimar.
Estas coisas podiam não ser assím;
Podiam-me põr pelo menos no Verão, subsidiado,
qual, guardador de rebanhos a guardar,
do que resta; aqui um pássaro, ali uma árvore,
desta floresta, que o criminoso com a ajuda do tempo
e do empresário, continua a queimar.
Podia ser que com outra política,
nós desempregados, desse-mos conta do recado,
ao fogo posto que o fogo de vista, desta política,
parece continuar a não querer dar.
Que para quem desempregado,
já nem vai nem na festa popular,
só lhe resta roer, assim, os ossos do ofício,
e olhar para o balão que leva no ar o S. João,
a arder nesta noite com Fogo de Artifício.
Liberato, Manual do Desempregado, Edições Mortas, (2007) pp. 8 e 13.
segunda-feira, janeiro 03, 2011
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