O que há para dizer sobre a edição de livros no ano que está a terminar não é nada de substancialmente novo em relação ao que tem vindo a acontecer de há uns anos para cá. As tendências de uma literatura light de que o nome de Margarida Rebelo Pinto é apenas uma metonímia; uma outra literatura, que se está a tornar num género, também de caracteristicas light que anda em volta do sucesso de O Código d' Vinci a par com livros sobre sexo e romances de vedetas de televisão (por exemplo Fátima Lopes apresentadora do programa da manhã da SIC) enchem os escaparates das FNAC's e Bertrand's, num processo de democratização da leitura e da escrita com todas as consequências que isso implica, sendo a mais importante delas o relegar para as prateleiras dos livros realmente importantes, aqueles que foram escritos por autores (Duras, Beckett, Bernhard, Llansol, Rui Nunes, Tolentino de Mendonça, etc, exemplos ao acaso do que são autores).
Se por um lado a abertura de lojas como a FNAC tem vindo a democratizar a leitura, permitindo que um público mais vasto tenha acesso ao livro (daí a existência de editoras como a Oficina do Livro - este ano comprada por uma sociedade de investimentos financeiros de alto risco - que se baseam na publicação de livros de figuras públicas) por outro esta democratização torna o livro em mais um produto da indústria de conteúdos, da indústria cultural, onde é dessacralizado, ficando entregue à mesma lógica das telenovelas. Ou seja, assim como as televisões generalistas já não têm espaço para passar cinema de autor, também os grandes espaços de venda de livros, os mais frequentados, e algumas editoras começam a não ter espaço para os verdadeiros autores. Que os escaparates das Bertrand's e Fnac's são ocupados por lixo não era novidade, mas talvez o seja o facto de Armando Silva Carvaho e Maria Velho da Costa, autores que normalmente eram publicados pela Dom Quixote terem publicado o seu Livro do Meio na Caminho, enquanto a editora dirigida agora por Teresa Coelho publicava a denúncia, em estílo de vingança kitsh, do mundo mafioso do futebol por Carolina Salgado. Convenhamos que Eu, Carolina é um livro que em nada prestigia os pergaminhos de uma das principais editoras portuguesas (agora em mãos espanholas), embora para quem estivesse atento aos escaparates das livrarias nos últimos tempos não constitua uma surpresa.
Ficam, no entanto, os resistentes desta lógica mercantil do livro (que nem sequer é nova na história): editoras como a Assírio & Alvim, a Relógio d' Água, Cotovia, Quasi ou as mais "marginais" Frenesi, & etc, Fenda, Vendaval, Black Sun. E também as livrarias de que se destaca a reabertura da Ler Devagar em Lisboa ou, no Porto, para além da Leitura (em decadência) e Latina, a Utopia, a Pulga e a Poetria. Quanto ao livros publicados em 2006, serão objecto de um outro post.
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