Por motivo da saída do seu último livro, Vida Extenuada (& etc), Fátima Maldonado foi entrevistada pelo jornalista da Lusa Raul M. Marques. A entrevista foi publicada na edição de ontem d' O Primeiro de Janeiro. Pela sua acutilância e lucidez reproduzo aqui algumas das afirmações da autora de Cadeias de Transmissão. O texto da entrevista, na integra, pode ser consultado aqui.
Por que não há-de a poesia infiltrar-se na barbárie e conseguir submetê-la à regra imposta pelo poeta?
Mas acompanhar o nosso tempo não significa beber até às fezes o cálice da televisão, deixar-se embalar pelo Estado ou vestir-se de arlequim. Contrariando a tendência a que alguns, ainda incrédulos, assistem, o escritor deve incomodar não só a língua mas os poderes. Nem ao arrepio do tempo deve temer a alcunha de moralista porque o acto criador que não se confunde com o acto económico protege o sentido da vida, o equilíbrio da terra, o pouco que ainda resta de beleza.
É preciso recusar os compromissos e sermos Heréticos.
[Sobre António Nobre:]Fascina-me a paixão masoquista que concebeu por este paisinho. Nela se banha a toda a hora como se de líquido amniótico se tratasse ou de leite de burra que as nobres romanas adoravam porque lhes amaciava a pele.
Poetas, hoje, como chapéus no filme conhecido, há muitos.
Cada época tem a poesia que merece e a nossa tem bonzos que se farta e inspiração de alto coturno.
A crítica literária é, tanto quanto me apercebo, um produto em extinção.
O Joaquim Magalhães praticou-a a sério, como numa faena o diestro, com tudo o que isso implica de risco, de falhanço e desastre. Agora ainda subsiste a contra-corrente pela mão de António Guerreiro, de Manuel de Freitas, de uma ou outra pessoa da geração mais nova.
[Q]uem manda nas redacções não tolera que se diga a verdade sobre uma obra má vinda de um bonzo poderoso. Daí a confusão gerada sobre boa e má literatura, daí os equívocos, os temores e a degradação a que temos de assistir”.
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