Wagner,
Richard Wagner, o compositor alemão nasceu há 200 anos. Portanto, e como é
natural nestas coisas comemoram-se os 200 anos de Wagner. E para comemorar os
200 anos do nascimento de Wagner a Deutsche Oper levou à cena Tannhäuser, em Düsseldorf. Até aqui tudo
muito bem e normal. O problema surgiu no dia da estreia – o público não gostou
da encenação da ópera. Não só não gostou como ficou em choque e pavor, tendo
alguns espectadores recebido assistência médica (algo inédito num evento
cultural). E porquê esta reacção tão reactiva a uma obra de arte? Porque o
encenador resolveu colocar em cena figuras nazis, com execuções e tudo, tal
como durante o Holocausto. De tal forma foram os protestos que a ópera continua
apenas com a parte sinfónica.
Tudo isto é
revelador do que é a actual Alemanha e da sua relação com o passado nazi. Esse
passado, não tão distante, foi recalcado pelos alemães, de tal forma que quando
é evocado numa versão de uma ópera de um compositor anti-semita, provoca
reacções psicossomáticas. Os alemães para viverem no seu conforto e na sua
eficiência trabalhadora, têm que enterrar o passado que vai sendo enterrado
como memória viva à medida que os mais velhos, os que levaram Hitler ao poder e
ajudaram a construir o Holocausto, vão morrendo. Ao mesmo tempo a Alemanha
regressa a uma posição de hegemonia na Europa. É quando se enterra o passado,
quando se perde a noção de culpa e vergonha, que algo parecido com esse passado
pode regressar. É claro que a Alemanha de Merkel não é a Alemanha de Hitler,
são incomensuráveis as distâncias. Mas, setenta anos depois, a Alemanha de
Merkel é a que mais próxima está da Alemanha de Hitler. Agora não são os
judeus, mas os povos do sul, os PIIGS, os porcos. Também não se trata do extermínio
em câmaras de gás, mas do asfixiar de economias como a portuguesa ou a grega
com a ajuda de governos colaboracionistas como o de Passos Coelho. Esta
Alemanha quando se vê ao espelho, sem maquilhagem, vê o horror e desmaia.
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