sexta-feira, maio 10, 2013

A ALEMANHA AO ESPELHO



Wagner, Richard Wagner, o compositor alemão nasceu há 200 anos. Portanto, e como é natural nestas coisas comemoram-se os 200 anos de Wagner. E para comemorar os 200 anos do nascimento de Wagner a Deutsche Oper levou à cena Tannhäuser, em Düsseldorf. Até aqui tudo muito bem e normal. O problema surgiu no dia da estreia – o público não gostou da encenação da ópera. Não só não gostou como ficou em choque e pavor, tendo alguns espectadores recebido assistência médica (algo inédito num evento cultural). E porquê esta reacção tão reactiva a uma obra de arte? Porque o encenador resolveu colocar em cena figuras nazis, com execuções e tudo, tal como durante o Holocausto. De tal forma foram os protestos que a ópera continua apenas com a parte sinfónica.
Tudo isto é revelador do que é a actual Alemanha e da sua relação com o passado nazi. Esse passado, não tão distante, foi recalcado pelos alemães, de tal forma que quando é evocado numa versão de uma ópera de um compositor anti-semita, provoca reacções psicossomáticas. Os alemães para viverem no seu conforto e na sua eficiência trabalhadora, têm que enterrar o passado que vai sendo enterrado como memória viva à medida que os mais velhos, os que levaram Hitler ao poder e ajudaram a construir o Holocausto, vão morrendo. Ao mesmo tempo a Alemanha regressa a uma posição de hegemonia na Europa. É quando se enterra o passado, quando se perde a noção de culpa e vergonha, que algo parecido com esse passado pode regressar. É claro que a Alemanha de Merkel não é a Alemanha de Hitler, são incomensuráveis as distâncias. Mas, setenta anos depois, a Alemanha de Merkel é a que mais próxima está da Alemanha de Hitler. Agora não são os judeus, mas os povos do sul, os PIIGS, os porcos. Também não se trata do extermínio em câmaras de gás, mas do asfixiar de economias como a portuguesa ou a grega com a ajuda de governos colaboracionistas como o de Passos Coelho. Esta Alemanha quando se vê ao espelho, sem maquilhagem, vê o horror e desmaia.

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