Ontem quase dois milhões de pessoas foram
votar na coligação PSD/CDS-PP. Votaram e deram a vitória, ainda que sem maioria
absoluta, a quem governou Portugal nos últimos quatro anos. Ou seja, a quem fez
um “aumento colossal de impostos”, a quem quis retirar o 13º mês e subsídio de
férias, a quem cortou nas pensões, a quem aumentou o desemprego para níveis
nunca atingidos em Portugal, a quem cortou nas prestações sociais, a quem foi o
responsável pela saída do país de quase meio milhão de pessoas, a quem
privatizou tudo o que havia a privatizar. Ontem dois milhões de pessoas
legitimaram um governo que destruiu Portugal, que empobreceu como nunca se
tinha visto nas últimas décadas os portugueses. A questão que se coloca é como
é possível que tanta gente tenha entregue o seu poder de acção política nas urnas
de voto a quem lhes fez tão mal. Como foi isto possível? É certo que não tinham
grandes opções: António Costa pelo PS prometia pouco, mas ainda assim tinha um
programa de governo que procurava repor algumas das coisas que antes da entrada
em cena do governo Passos-Portas eram dados adquiridos na democracia
portuguesa. E depois havia toda uma série de opções políticas, como o Bloco de
Esquerda que beneficiou da má campanha do PS, ou o Livre que acabou por não
eleger nenhum deputado. Então a questão persiste: porquê, porquê tanta gente a
votar em quem lhes fez tão mal, a eles ou aos familiares ou amigos. Porquê
votar em quem mentiu tanto e agora se escondeu de cartazes, entrevistas ou
debates, continuando a mentir. Será que foi por medo? Será que engoliram a
estória de que votar à esquerda seria desperdiçar os sacrifícios feitos durante
quatro anos? Ocorre-me, como explicação, uma canção de Sérgio Godinho, de 1971,
do álbum “Sobreviventes” e que seria retomada nos tempos pós revolucionários: “Que
força é essa, amigo/que te põe de bem com outros/e de mal contigo”. O que se
encontra aqui é a base antropológica, sociológica e psicológica do masoquismo. Nesse
sentido esta canção não está nada datada, continua a ser tão actual como há 44
anos atrás. É a única explicação plausível que encontro para que dois milhões
de portugueses tenham votado em quem lhes fez tão mal: masoquismo.
PS: O dito presidente da República, Cavaco, faltou às comemorações do 5 de Outubro. Mais uma canalhice para quem é presidente da República. A acompanhá-lo na ausência esteve Passos Coelho. Será que querem uma monarquia?
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