Durante oito anos, quatro dos quais como primeiro-ministro Passos
Coelho foi o presidente do PSD. Estes oito anos – principalmente os quatro de
governo PSD/CDS – foram os piores da democracia portuguesa. O que Passos Coelho
fez aos portugueses – desejar e fazer tudo para que a troika entrasse em
Portugal; ir além da troika; implementar uma política de austeridade que visava
o empobrecimento dos portugueses, o célebre “temos de empobrecer”; enfim,
aplicar uma política económica ultraliberal que destruiu a vida de centenas de
milhares de pessoas – não tem expressão por agora porque os comentadores de
meios de comunicação próximos do PSD não querem perder o emprego (note-se que
os média em Portugal pertencem a empresas e têm linhas editorias de direita ou
centro-direita). Por isso Passos Coelho mesmo quando se viu forçado a abandonar
o PSD continuou a ter boa imprensa, uma imprensa que faz a lavagem dos anos em
que foi primeiro-ministro. Por isso não é de espantar as reacções – dos média –
ao congresso do PSD que não quis consagrar Rui Rio como novo presidente do PSD.
Embora seja discutível se o PSD numa democracia normal e saudável tinha algum
futuro ou o destino que teve o PASOK grego, o Partido Socialista em França ou
mesmo o bipartidarismo em Espanha, o certo é que Rio tomou a medida que se
impunha perante a herança que lhe coube: virar à esquerda, renunciar ainda que
implicitamente ao PSD de Passos Coelho. Tudo isto abriu uma guerra, natural, no
PSD. Natural porque os deputados que estão na Assembleia da República foram
escolhidos por Passos Coelho, alguns fizeram parte desse governo que fez tão
mal a Portugal. A tarefa mais difícil para Rui Rio é limpar o PSD desta gente e
colocá-lo como um partido com sentido de Estado – que foi o que Passos Coelho
não teve quando votou contra o PEC IV. Mas esta é uma tarefa hercúlea, ainda
para mais porque Rio tem contra si os média coniventes com o ultraliberalismo
passista. A tudo isto há a acrescentar o facto de Rui Rio ser do Porto, e para
os lisboetas aqueles que vêm da cidade invicta, seja de que sector for, seja de
que quadrante político for, são alvos a abater. O pior que pode acontecer é que
passado pouco ou algum tempo depois deste congresso, alguém das hostes
passistas queira destronar Rio para continuar o legado do mal, o de Passos
Coelho. Mas será que esse legado tem algum valor junto do eleitorado? Será que
apesar do masoquismo, da mediocridade apelando para o fantasma de Salazar
(Passos Coelho), um PSD passista não ficaria quase apagado da política
portuguesa?
Mas resta ainda uma outra questão, mais premente, e da qual depende o cenário político depois das próximas eleições legistlativas: de que forma a aproximação do PSD de Rio vai afectar este governo de esquerda? Como vai reagir António Costa perante a aproximação de Rio? E como vão reagir os partidos que sustentam a geringonça?
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