segunda-feira, dezembro 31, 2018

LIVROS EM 2018


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1, Em meados da década de 1990, num livro intitulado Ser Digital, Nicolas Negroponte anunciava um mundo imaterial, composto por bytes. A verdade, mais de duas décadas depois, é que ainda, e felizmente, não atingimos esse mundo. Apesar das impressoras 3D, o digital ainda só serve para a transmissão de dados. É neste quadro que o livro como objecto material feito de papel, “cartolina”, cola, tinta, foi, juntamente com os jornais e revistas, ameaçado na sua materialidade pelos E-Books. Embora essa ameaça continue a pairar, o certo é que os livros electrónicos têm sido um flop. O mesmo não se pode dizer das livrarias, principalmente das que não estão ligadas aos grandes grupos que dominam o mercado editorial. Da Amazon à Wook, passando pela Fnac, a compra de livros on-line generalizou-se – mesmo a compra entre particulares através de sites como o Olx. O problema não está só na facilidade que a compra on-line oferece, mas também na incapacidade dos livreiros.
2, É neste último sentido que o ano de 2018 foi marcado pelo fecho de algumas livrarias de rua, em Lisboa e no Porto. Uma delas terá sido nos seus tempos áureos, década de 1980, 1990, uma, ou a, livraria mais importante em solo português. Era a Livraria Leitura, do Porto, enquanto teve à sua frente o livreiro Fernando Fernandes, também desaparecido este ano. No final da década de oitenta, quando pela primeira vez entrei na Leitura, que ficava então ao cimo da Rua de Ceuta, onde hoje está um moderno salão de cabeleireiro (ironicamente como se aquele espaço no trespasse trocasse o interior do cérebro pelo seu exterior capilar), encontrei o espaço mais repleto de livros que jamais tinha visto. Livros até ao tecto, onde só se chegava com um escadote, livros em estantes nas escadas que subiam para o primeiro andar, milhares de livros de todo o mundo num espaço exíguo. Nessa altura a Leitura era a mais bela livraria do mundo, se tomarmos em conta que o que faz a beleza de uma livraria são os livros, a potencialidade que eles oferecem, e não o espaço arquitectónico onde se situam, como acontece com a Livraria Lello – esta última colonizada actualmente pelos turistas deixou de ser uma livraria para se tornar num monumento. A Leitura fornecia livros para bibliotecas, fazia um catálogo, e todos os dias ia uma empregada aos correios que ficavam do outro lado da rua, com imensos livros para enviar para leitores – imagino que não só nacionais. Pela Leitura passavam frequentemente as cabeças mais iluminadas do Porto, e também quem de Lisboa vinha ao Porto. Creio que o sucesso da Leitura estava numa atenção única que Fernando Fernandes dedicava aos leitores. Numa época em que não existia internet, em que o conhecimento do que se publicava vinha de jornais como o El País ou o Magazine Literaire – mas também de outras revistas mais especializadas – Fernando Fernandes trazia até ao leitor o livro, quer este se encontrasse nos antípodas, quer estivesse ao lado na Livros do Brasil. Mas, a maior parte das vezes estava ali, na imensa secção de filosofia ou poesia, ou no original quer fosse um romance de Thomas Berhnard ou os diários de Sylvia Plath. Depois Fernando Fernandes reformou-se, vendeu a sua parte, durante alguns anos a Leitura, que passaria a chamar-se Leitura-Bulhosa, foi como um pulsar: ampliou o espaço, passando a ter entrada pela rua José Falcão, abriu livrarias no centro comercial do Bom Sucesso (Boavista) e em Serralves. Mas sem Fernando Fernandes já não era a mesma Leitura; e com a internet e a crise financeira viu-se restringida ao espaço da rua José Falcão. A colonização turística que faz do Porto (e Lisboa) uma cidade completamente descaracterizada, como se fosse uma Cinne Cità para turista, ajudou a dar a ultima machadada naquela que foi a maior livraria portuguesa.
3, Apresenta-se a seguir uma lista, por editoras (23), dos livros de poesia publicados em 2018. Será uma lista naturalmente incompleta e com erros. No entanto, foi a lista que com algumas horas de trabalho e a ajuda de sites de editoras, páginas do facebook, livrarias on-line, e jornais, consegui obter. Desta lista, comparada com a de outros anos, conclui-se, do ponto de vista editorial, não existirem grandes mudanças. A poesia continua a ser editada, a maior parte por micro-editoras (algumas só publicaram um livro), outra por editoras como a Assírio & Alvim, para quem a edição sendo um negócio, como o das salsichas não deixa de apresentar boa carne. Ou seja, livros importantes. Está neste caso o primeiro volume da obra completa de António Ramos Rosa, poeta de extensa obra que corria o risco de cair no esquecimento. Destaque-se ainda, na mesma editora a tradução de uma selecção de poemas de William Wordsworth por Daniel Jonas. Se houve autor que enervou, já desde 2010 os seus leitores, foi Joaquim Manuel Magalhães que este ano, depois de longo silêncio, voltou com novo livro de reescrita de poemas já reescritos e alguns inéditos – enfim uma confusão que pode ter a sua lógica.
4, Quanto ao ensaio, ficção e outros géneros de difícil catalogação, apresento uma pequena lista com a escolha de alguns livros. Noto por parte da imprensa que ainda se dedica a estes balanços, o esquecimento de um autor, que quer se goste ou não é fundamental na literatura e mesmo no pensamento que faz em Portugal: Gonçalo M. Tavares. Dele disse, com alguma razão José Saramago, que seria o próximo nobel português. O prémio já caiu em descrédito, mas as razões pelas quais a crítica teima em esquecer Tavares, ou outras pessoas o colocam nos mesmos termos de um José Luís Peixoto, são umas obscuras e as outras decorrentes de pura ignorância.

POESIA

ABYSMO
Luis Garcia Montero - As Lições da Intimidade (Trad. de Nuno Júdice)
Felipe Benítez Reyes - Privilégio de Penumbra (Pessoana) (Trad. de Vasco Gato)
Antero de Quental – Poesia III
AA VV - Lisbon Poetry Orchestra (Livro + 2 cd)

ALAMBIQUE
Ricardo Tiago Moura – Cruzes

AFRONTAMENTO
Fernando Echevarría - Via Analítica

ARTEFACTO
Miguel Filipe Mochila - Com a Língua nos Dentes

ASSÍRIO & ALVIM
António Ramos Rosa – Obra Poética (Vol. I)
António Botto – Poesia
Luís Quintais – Agon
Ron Padgtt – Poemas Escolhidos (int., sel. e trad. de Rosalina Marshall)
Luís Filipe Castro Mendes – Poemas Reunidos
Ana Luísa Amaral / Marinela de Freitas (Org.) - Do corpo: outras habitações
José Alberto Oliveira (versões) – Poemas da Antologia Grega
José Alberto Oliveira - De Passagem
Marta Chaves – Varanda de Inverno
Adília Lopes – Estar em Casa
Valter Hugo Mãe – Publicação da Mortalidade
Rosa Alice Branco - Traçar um Nome no Coração do Branco
Eugénio de Andrade – À Sombra da Memória (Reed. Pref. de Gonçalo M. Tavares)
Eugénio de Andrade - Ofício de Paciência (Reed. Pref. de Gastão Cruz)
Eugénio de Andrade – Rente ao Dizer (Reed. Pref. Federico Bertolazzi)
William Wordsworth – Poemas Escolhidos (Sel. e Trad. de Daniel Jonas)


AVERNO
Fábio Neves Marcelino - Canto Irregular
Tiago Araújo - Ano Zero
José Francisco Azevedo - Mistérios
Amalia Bautista - Coração Desabitado (sel. e trad. de Inês Dias)
António Barahona - Aos Pés do Mestre
Jorge Molder e Ricardo Álvaro - Morrer
José Carlos Soares - Camel Blue
Rui Pires Cabral - Manual do Condutor de Máquinas Sombrias
Carlos Nogueira/Inês Dias - Grafito
Manuel de Freitas - Shots

COMPANHIA DAS ILHAS
Ramiro S. Osório - Ao largo de Delos
Gisela Canãmero - Um Mosquito num Voo Baixo. Um Poeta na Revolução
Jorge Aguiar Oliveira - Pena de Morte
Fernando Machado Silva - Um Espelho para Reproduzir as Mutações da Vida
 Manuel Tomás - Falquejando os Dias  
Jaime Rocha (coordenação literária) - Poesia, Um Dia. Poetas em Ródão (2012-2017)
Cláudia Lucas Chéu - Beber pela Garrafa
José Viale Moutinho - A Pessoa Indicada
Rui Sousa - Ao Ouvido do Diabo
Paulo da Costa Domingos - A Vau
José Martins Garcia - Poesia Reunida

COTOVIA
Manuel Resende – Poesia Reunida
A M Pires Cabral - Trade Mark
Amália Rodrigues – Versos

DO LADO ESQUERDO
António Amaral Tavares - Retratos de Nova Iorque
André Tecedeiro - O Número de Strahler
Miguel-Manso – Mortel
Miguel Martins - Film Noir
Eunice de Souza – Coração de Abacate (Trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho)
AA VV – Mixtape II

DOUDA CORRERIA
Hugo Milhanas Machado - Um longo tempo nos pulos do mar
Adelaide Ivánova - O Martelo
Yiannis Stiggas - Exupéry Significa Perder-se
João Paulo Esteves da Silva – Dois Bois e uma Arma na Mão
António Cabrita - Oitenta flechas para atrair a cotovia/ Livro 1
Raquel Salas Rivera – Desdomínios (trad. do espanhol e pref. de Mariano Alejandro Ribeiro)
Théodore Fraenckel – Iluminuras
Maria Daniela – Cona Cósmica
Ramiro S. Osório e Sebastião Belfort Cerqueira - RSO&SBC
Manel Seatra – Dias de Folga
Sandra Andrade - Caim / Lilith (2ª ed.)
Leonor Sá – A Poesia Está Fechada
Cristina Bartleby – O primeiro poeta que despi
Rui de Almeida Paiva - Canções de Embalar Belos Planetas Cansados
Nuno Marques – Dia do Não
Cláudia R. Sampaio – Outro nome para a solidão
Miguel Loureiro - Confissões de um Exilado no Barreiro

EDIÇÕES 50 KG
Manuel de Freitas – Sob o Olhar de Neptuno

EDIÇÕES AVANTE
Manuel Gusmão – A Foz em Delta

EDIÇÕES DO SAGUÃO
Alberto Pimenta – Pensar Depois no Caminho


EDITORIAL MINERVA
Fernando Guilherme Azevedo - Barroco Permeável
Paulo Sena - Passam as Ruas por Mim
Cláudio Cordeiro - Luz na Face
Maria do Carmo Cachulo - Pó de Arroz
José Pascoal - Excertos Incertos
José Pascoal – Antídotos
José Pascoal - Sob este Título

José Pascoal – Ponto Infinito

FRENESI
Paulo da Costa Domingos – Jocasta

GLACIAR
Carlos Frias de Carvalho - De Silêncio é o Pólen

IMPRENSA NACIONAL – CASA DA MOEDA
Vitorino Nemésio – Poesia (1916-1940)
Pedro Tamen – Retábulo de Matérias (1953-2013)
Mário Avelar – Coreografando Melodias no Rumor das Imagens
Alice Sant' Anna – Aula de Natação
Antonio Carlos Secchin - Desdizer

LICORNE
Wang Wei – Habitar o Vazio
Maria Graciete Besse – Na Inclinação da Luz
Casimiro de Brito – Memória do Paraíso
António Ladeira – Somos Infelizes

LÍNGUA MORTA
Luis Alberto de Cuenca – A Vida em Chamas (uma antologia) (sel. trad. prólogo e notas de Miguel Filipe Mochila)
Henri Michaux – Moriturus e outros textos (Org. e Trad. Rui Caeiro)
Luís Pedroso – Importunar o Tempo à Fisga
Eduardo Guerra Carneiro – Mil e Outras Noites (sel. Miguel Filipe Mochila)
Vasco Gato – Um Passo Sobre a Terra
Roberto Juarroz – A Árvore Derrubada Pelos Frutos (sel. e trad. de Rui Caeiro, Duarte Pereira e Diogo Vaz Pinto)
Ángel González – Para Que Eu Me Chame Ángel González (sel., trad., prólogo e notas de Miguel Filipe Mochila)

(NÃO) EDIÇÕES
Laura Erber - Mesa de Inspecção do Açúcar e Tabaco
Isabel Nogueira – Marginal
Rui Dias Monteiro – Reunião de Pedras
Álvaro Seiça – Previsão para 365 Poemas

OPERA OMNIA
Carlos Poças Falcão – Sombra Silêncio

PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE
Maria Teresa Horta – Estranhezas
Nuno Júdice - A Pura Inscrição do Amor
Manuel Alegre - Todos os Poemas São de Amor

RELÓGIO D’ ÁGUA
Bernardo Pinto de Almeida – A Ciência das Sombras
Joaquim Manuel Magalhães – Para Comigo
João Miguel Fernandes Jorge – Fuck the Polis
Marianne Moore - O Pangolim e Outros Poemas (Trad. Margarida Vale de Gato)
Arthur Rimbaud – Obra Completa (Trad. João Moita e Miguel Serras Pereira)
Gonçalo M. Tavares – Livro da Dança (reed.)

TINTA DA CHINA
Alberto Lacerda – Poemas Escolhidos (Sel. e Pref. de Luís Amorim de Sousa)
Pedro Mexia – Poemas Escolhidos
Fernando Pessoa – Fausto
Fernando Pessoa – Poesia. Antologia Mínima
Fernando Luís Sampaio - Aprender a Cantar na Era do Karaoke
Tatiana Faia – Um Quarto em Atenas
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ENSAIO, FICÇÃO, POESIA & OUTROS – UMA SELECÇÃO
António Guerreiro – O Demónio das Imagens (Língua Morta)
José Gil – Caos e Ritmo (Relógio d’ Água)
Roberto Esposito – De Fora. Uma Filosofia para a Europa (Edições 70)
Yuval Noah Harari - 21 Lições para o Século XXI (Elsinore)
Karl Kraus – Aforismos (VS – Vasco Santos Editor)
Clarice Lispector – Correio para Mulheres (Relógio d’ Água)
Rui Nunes - Suíte e Fúria (Relógio d’ Água)
Dulce Maria Cardoso – Eliete (Tinta da China)
José Sesinando – Obra Perfeitamente Incompleta (Tinta da China)
José Riço Direitinho – O Escuro que Te ilumina (Quetzal)
Gonçalo M. Tavares - O Senhor Brecht e o Sucesso (posf. Alberto Manguel) (Relógio d’ Água)
Gonçalo M. Tavares - O Senhor Walser e a Floresta (posf. Alberto Manguel) (Relógio d’ Água)
 Gonçalo M. Tavares - Cinco Meninos, Cinco Ratos (Bertrand)
Gonçalo M. Tavares - Breves Notas sobre Literatura-Bloom (Relógio d’ Água)
Carlos Poças Falcão – Sombra Silêncio (Opera Omnia)
Herberto Helder - Em Minúsculas (Porto Editora)
Manuel Resende – Poesia Reunida (Cotovia)
António Ramos Rosa – Obra Poética (Vol. I) (Assírio & Alvim)
Roberto Juarroz – A Árvore Derrubada Pelos Frutos (Língua Morta)
William Wordsworth – Poemas Escolhidos (Sel. e Trad. de Daniel Jonas)



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