segunda-feira, maio 30, 2022

Adolfo Casais Monteiro

 A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Deram-me silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-mo o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce  -
A palavra que nunca se profere.

Em A Rosa do Mundo, Ed. Assírio e Alvim,2001, p. 1489

sábado, abril 30, 2022

Dionísio, o sofista (Antologia Palatina)

 A Rapariga das Rosas

Tu, que trazes as rosas, é rosas o encanto que trazes.
O que é que vendes? a ti? às rosas, ou às rosas e a ti.

( Tradução de Fernando Pessoa, em A Rosa do Mundo, Assírio e Alvim, 2001, p. 449.)

quinta-feira, março 31, 2022

A GUERRA É A GUERRA

 



1. A guerra é estúpida. Os governantes, eleitos pelo povo ou não, que ordenam as guerras são estúpidos, os generais são estúpidos, os mancebos que fazem a guerra, que dão a vida por uma ideia de nação ou pátria, são estúpidos - e não heróis como muitas vezes são proclamados - na sua obediência cega aos ditadores e generais. Tudo isto parece bastante ingénuo, mas creio que é uma verdade simples. É também uma perspectiva anarquista e antimilitarista. Não há uma evolução na humanidade: a obediência aos que ordenam a guerra, o sadismo da destruição do outro, é algo que permanece ou se intensifica há séculos, há milénios, sempre repetido. Parte da História faz-se de guerras, de mesquinhos sentimentos nacionalistas, ainda hoje alimentados entre os povos como há séculos. Não há lição que os povos tenham aprendido para terminarem com a guerra. É certo que depois do uso de armas nucleares na II Guerra Mundial, depois da guerra fria, parecia que não podíamos ter de novo guerras. Mas enquanto durou a guerra fria, EUA e URSS promoveram a guerra em muitos países ...

2. A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro passado. A Rússia já tinha invadido a Crimeia, há uns anos, sem grande alarido. A Ucrânia é, como se sabe, uma ex-república da União Soviética - antes estivera sob o domínio da Rússia dos Czares. A partir do início da década de 1990, com o fim do comunismo e da URSS, a Ucrânia tornou-se um estado independente. Era o tempo em que foi declarado "o fim da História", porque o capitalismo ocidental perdia o seu antagonista nas ditaduras comunistas da Europa de Leste. Se não era o fim da História - e evidentemente que não foi - era pelo menos o fim da guerra fria, o fim da cortina de ferro, o fim do muro de Berlim - e também o fim do império soviético, que se desmembrava. A Europa mudou, o mundo mudou, nessa década finissecular. A União Europeia foi-se expandindo para leste, e já um pouco secretamente, a NATO também. No fim do milénio,  um alcoolizado Boris Iéltsin dá lugar a um ex-espião do KGB como timoneiro desse ainda imenso país que é a Rússia. Vladimir Vladimirovich Putin é, em 1999, eleito presidente da Rússia. Não largará mais o poder, entre o cargo de presidente e de primeiro-ministro, é ele que manda nesse imenso país de escravos. Ele é o ditador que a novilíngua chama, agora, de autocrata. Tem um tique perverso e sofisticado para eliminar os seus adversários: o uso de venenos radioactivos e químicos. Certo é que, do outro lado, a NATO se foi aproximando do urso gigante, não ligando, assobiando para o lado, ou fazendo-se esquecida de quem tinha pela frente. Putin, que tem seis mil ogivas nucleares, quer deixar a sua marca na História. Para isso volta-se para o expansionismo: pretende voltar a fazer da Rússia o que ela foi no tempo da "sua" União Soviética.

3. Na manhã de 24 de fevereiro o mundo, que é o mundo dos ecrãs (smartphones, televisões, computadores), acordou histérico. A Rússia tinha invadido a Ucrânia, algo que já se esperava depois de Putin ter anexado as duas Repúblicas separatistas russas que lutavam pela independência dentro da Ucrânia. A Ucrânia não era um país simples nem pacifico - na sua história, na sua composição onde cerca de um terço da população é de origem russa. É também um país que tem tido como presidentes alguns fantoches de Putin. Mas Vladimir Vladimirovich não optou, agora, por essa solução. Por isso, as cidades Ucranianas são agora campos de devastação, a Europa enfrenta a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. O actual presidente da Ucrânia, Zelensky, era um actor de comédia que fez um programa de tv onde interpretava a figura de um presidente da Ucrânia; o sucesso do programa levou Volodymir Zelensky a passar o que era do domínio da ficção para a realidade e a candidatar-se às eleições presidenciais ucranianas. Onde já se viu isto? O sucesso mediático transposto para o sucesso político (veja-se o movimento 5 Estrelas na Itália, o palhaço Trump nos EUA, ou mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que teve mais de 10 anos de presença televisiva como comentador-mor para se tornar em presidente da República). Um sintoma da política actual: faz-se através da tv e das redes sociais.

4. A partir de 24 de fevereiro, e quase até agora, os canais televisivos de informação voltaram ao modo monotemático como tinham feito no início da pandemia, há 2 anos. A guerra na Europa. Rapidamente todo o Ocidente tomou o partido da Ucrânia contra o agressor Putin e a Rússia. Canais de televisão russos, como a RT e agências noticiosas russas foram censuradas pelo ocidente. Putin, entretanto, fez aprovar um decreto onde proibia a utilização da palavra "guerra". A invasão da Rússia à Ucrânia era uma "operação militar especial". Os correspondentes de órgãos de comunicação social em Moscovo, na generalidade, abandonaram a Rússia. Ficaram só as imagens de refugiados, de abrigos, de repórteres medrosos, da devastação da guerra esventrando edifícios. Os refugiados que por esta altura são cerca de 4 milhões, mulheres e crianças, porque o presidente Zelensky proibiu os homens entre os 20 e 60 anos de deixarem a Ucrânia, para combater pela pátria, espalham-se pela Europa. E, principalmente, as sanções económicas decretadas pelo ocidente à Rússia e aos oligarcas russos, a Putin e aos membros do seu governo. As sanções e a guerra que fazem ricochete nas economias ocidentais: a inflação sobe para níveis de há 20 ou 40 anos (o caso da Alemanha, enquanto em Espanha se atingiu 10 por cento de inflação). A gasolina sobe, sobe, ás vezes desce, e volta a subir ao compasso do petróleo ou da pura especulação.  

5. A guerra, esta guerra que não é nossa, mas que os governos ocidentais, a NATO e principalmente os mass-media, tornaram nossa, tem um forte aliado: o medo. O medo, aqui no extremo ocidental da Europa, a 4000 km de Kiev, ainda funciona. É uma simples expressão: III Guerra Mundial. É claro que é assustadora, porque uma III Guerra Mundial não pode existir; se se utilizar armas nucleares, como dizia alguém, nem é bom pensar. Por isso a NATO nunca deveria ter-se aproximado da Rússia (aliás, a NATO já não deveria existir, como não existe o Pacto de Varsóvia). O medo instala-se melhor na poltrona quando se fala de armas nucleares, quando Joe Biden espicaça o urso Putin. Como escreveu o poeta Alexandre O' Neill, "o medo vai ter tudo". E, nunca como nestes tempos, pelo menos desde o fim da II Guerra Mundial, o medo esteve tão bem instalado, ouvindo as trombetas mediáticas que faz tocar.    



segunda-feira, janeiro 31, 2022

LEGISLATIVAS 2022: DA MAIORIA ABSOLUTA AOS NOVOS FASCISTAS

 


1, O Partido Socialista venceu, ontem, inesperadamente, por maioria absoluta as eleições legislativas. Inesperadamente porque as sondagens, que se perfilam como uma verdade absoluta, quase se substituindo às eleições, davam um "empate técnico" entre PS e PSD. A maioria absoluta do PS não é nada de bom, a não ser para o PS e para António Costa. Uma maioria absoluta significa que o próximo governo PS poderá governar sem dialogar com outras forças políticas. Mas quem criou as condições para esta maioria absoluta do PS foram dois partidos responsáveis por estas eleições ao chumbar o OE para 2022: o Bloco de Esquerda e o PCP  - e por essa atitude irresponsável foram fortemente penalizados. É algo que não é novo, já em 2011, a chamada esquerda radical, abriu as portas a Passos Coelho e à troika ao chumbar o PEC 4. Portanto, o mau resultado do BE e PCP deve ser visto como uma penalização do eleitorado por criarem eleições antecipadas e porem fim à geringonça (é certo que Marcelo também teve culpa em marcar estas eleições). Com isto ganhou o PS, que terá ainda ido buscar votos ao centro direita, onde um Rui Rio andou errante.

2, A entrada do partido de extrema-direita, com um grupo parlamentar de 12 deputados, tornando-se a terceira força política no parlamento, não é uma surpresa. Foi algo muitas vezes anunciado pelo seu líder, pelas sondagens e pelo resultado que o seu líder populista obteve nas eleições presidenciais do ano passado. Como foi possível isto - um partido populista de tendência fascista tornar-se no terceiro partido português? Como é possível que um partido que defende a prisão perpétua, a castração química para os pedófilos, o fim do Estado providência, do RSI, que tem uma matriz racista e xenófoba tenha agora 12 deputados na Assembleia da República? Creio que a culpa é dos média que criaram o fenómeno A. V. Não existia uma inevitabilidade em Portugal ter um partido "populista" como a Espanha tem o Vox ou a França tem a FN da família Le Pen. É certo que o discurso populista, apelando ao fantasma de Salazar, já há muito que era ouvido em certas camadas da população, e a relação com o fantasma de Salazar e do Estado Novo nunca foi resolvida.

3, Mas houve outras novidades nestas eleições. O desaparecimento do CDS, partido chamado de fundador da democracia portuguesa, que apesar de uma boa campanha de Francisco Rodrigues dos Santos, não conseguiu eleger nenhum deputado. O partido perdeu excelentes deputados, como o PCP que perdeu João Oliveira e António Filipe. A Iniciativa Liberal foi outro partido que tendo apenas um deputado surge agora com um grupo de oito. É um partido que perfilha algumas causas da esquerda, na matéria de valores, mas que está bastante à direita, naturalmente pelo fim do Estado providência. O PAN, que queria ser um parceiro de um governo de esquerda ou direita apenas conseguiu eleger a sua líder, Inês Sousa Real. Já no Livre o historiador Rui Tavares conseguiu, finalmente, eleger-se, depois de na anterior legislatura se ver forçado a abdicar de Joacine Katar Moreira.

4, Todos estes resultados apontam para uma certa decepção. Há falta de partidos interessantes. Por exemplo não existe um verdadeiro partido verde em Portugal (o PEV que estava coligado com o PCP, embora fosse pouco verde, também desaparece da AR) que coloque como tarefa primeira o combate às alterações climáticas. Os partidos de esquerda - e também de direita - esquecem aqueles que por várias razões não trabalham, como se essas pessoas acossadas por um desemprego crónico que as atira muitas vezes para a miséria fossem lixo social - e na verdade assim são tratadas. António Costa pode prosseguir, agora, uma agenda que não existe. O primeiro-ministro está mais interessado no poder pelo poder do que em solucionar de forma eficaz os problemas dos portugueses. Por isso, continuará, certamente, a obedecer aos ditames de Bruxelas, ás exigências da Banca (repare-se que enquanto a comunicação social se interessa por um banqueiro já condenado e na prisão, um outro, António Ramalho do Novo Banco, assalta despudoradamente os cofres do Estado), a uma burocracia tecnológica que se pode aproximar de cenários orwellianos. É esta a democracia que temos, se por democracia entendermos apenas a sua representação institucional, em que ao votar, mal informados, os portugueses passam um cheque em branco aos seus alegados representantes. Mas, para além de uma necessária mudança na lei eleitoral, que a torne mais representativa, a democracia vive-se no dia-a-dia  

 


sexta-feira, dezembro 31, 2021

LIVROS EM 2021



 
1, Num ano em que a pandemia continuou a assolar o mundo, continuaram a editar-se e a vender livros - apesar do confinamento no início de 2021 em Portugal, que fechou também as livrarias. O tempo que vivemos é em parte orwelliano (veja-se como transportamos algo como um Big Brother nos nossos bolsos, e dele estamos cada vez mais dependentes), mas nos últimos quase dois anos teve a adicionante de uma pandemia. Como os direitos de autor de George Orwell passavam para o domínio público este ano, várias editoras prepararam edições de 1984 e Animal Farm. De 1984, um livro que é uma bíblia para os nossos tempos, pelo menos seis editoras publicaram o romance - a Porto Editora, D. Quixote, Livros do Brasil, Clube do Autor, Clássica Editora e Relógio d' Água (esta com um prefácio de Gonçalo M. Tavares). São muitas editoras a publicarem traduções do mesmo livro, mas isso só ajuda à leitura de 1984, como também aconteceu com Animal Farm, (conhecido por O Triunfo dos Porcos) que teve várias e diferentes traduções. Destaque-se ainda, em volta de George Orwell, a publicação de 3 novelas gráficas de 1984.

2, Um género talvez menor no panorama editorial português é o ensaio, e em particular o ensaio com a assinatura de autores portugueses. Este ano tivemos a reunião das crónicas escolhidas, por António Guerreiro, que há anos publica semanalmente no Público. Para o autor de Zonas de Baixa Pressão, que escolhe cerca de 200 crónicas, são micro-ensaios, agrupados por temas como a política, o jornalismo, a escola ou a literatura, entre outros. Vale a pena recordar que António Guerreiro escreve há décadas nos jornais, o que faz dele uma figura não só de crítico literário, mas na ausência de um Eduardo Prado Coelho, talvez dos últimos intelectuais a escreverem na imprensa, o seu substituto. Diga-se que a bibliografia de António Guerreiro é escassa, e que muitos textos de crítica literária que foi publicando ao longo dos anos - principalmente no Expresso - mereciam ser reunidos em livro, porque abrem horizontes de leitura da obra de alguns autores, principalmente poetas. Outros ensaios a referir, entre a filosofia e os estudos literários são os dois livros publicados por Maria Filomena Molder, 3 Conferências (sobre o Qohélet / Ecclesiastes)(esta editada pela Saguão é a primeira), e o pequeno livro A Arqutectura é um Gesto - Variações sobre um motivo wittgensteiniano (edição da pequena editora Sr. Teste). Também Silvina Rodrigues Lopes reuniu um conjunto de ensaios publicados pelas edições Saguão, O nascer do mundo nas suas passagens. Um novo pessoano, Humberto Brito, apareceu com A interrupção dos sonhos - ensaios sobre Fernando Pessoa (Relógio d' Água). Por fim, o destaque para duas figuras do pensamento libertário: Guy Debord com os seus Comentários sobre a Sociedade do Espectáculo (Antígona) e Piotr Kropotkine  de quem, no seu centenário a Antígona editou O Apoio Mútuo (trad. Miguel Serras Pereira) - um livro a ser lido e pensado, contra o darwinismo social que atravessamos e ao qual o autor se opunha.

3, No que respeita à ficção, saliente-se a ausência de alguns autores consagrados, como A. Lobo Antunes. Queria, no entanto, referir-me a uma autora que já tendo começado a publicar em 1980, mantém uma discrição notável no meio literário português: Teresa Veiga. Este ano publicou na Tinta da China mais uma excelente novela - ou romance -, O Senhor d´Além. De Teresa Veiga, que já ganhou o prémio de conto Camilo Castelo Branco por 3 vezes e o prémio de ficção do Pen Clube português, pouco se sabe para além de uma "nota biográfica" que aparece no final do seu último livro. A autora não dá entrevista, não se lhe conhecem fotografias, e evidentemente não participa em festivais literários. Não será propriamente uma Elena Ferrante, mas a postura ética das duas autoras em relação à mediatização do escritor aproximam-se.

4, Chegamos à poesia, de que se apresenta mais abaixo uma longa lista de livros publicados. De salientar que esta lista tem várias lacunas, não pretendendo ser exaustiva. Talvez o livro mais estranho publicado em Portugal em 2021 tenha sido Vaca Preta de Marcos Foz (edição Snob). Trata-se de um hibrido entre poesia e prosa. O autor publicou, em edição de autor, em 2019, o seu primeiro livro de poesia, logo, estaremos na presença de um poeta? Mas Vaca Preta inicia-se por um poema que ocupa as primeiras 25 páginas do livro; mas o mais estranho neste poema, é a inserção abundante de imagens a cores e também a preto e branco sem que sejam propriamente ilustrações. Na página 27 começa a segunda parte do livro, que tem cerca de 130 páginas, com texto em prosa. Talvez se lhe possa chamar-lhe prosa poética. Para além disso o livro tem um encarte de 16 páginas. Este será um dos objectos literários mais estranhos da literatura portuguesa. Talvez se possa enquadrar numa nova vaga de poesia experimental, de que os últimos livros de Rui Pires Cabral seriam um exemplo. Mas o ano contou também com a "reabilitação" de um poeta que estava esquecido por não publicar: António Franco Alexandre que publicou na Assírio & Alvim Poemas, a reunião da sua obra poética, acrescida de um novo conjunto de poemas. Destaque-se ainda a publicação de um livro de inéditos de Joaquim Manuel Magalhães, Canoagem, que prossegue a segunda vida poética do autor de Um Toldo Vermelho. Obras reunidas a salientar: Fatima Maldonado, com Sem Rasto (Averno), Albano Martins com Por ti eu daria (ed. Glaciar), António Aragão com Obra (Re)Encontrada e Adília Lopes que voltou a reunir a sua obra, uma vez mais sob o título Dobra, um volume que já ultrapassa as mil páginas. A Assírio & Alvim, de cujo catálogo de 2021 já referimos alguns títulos, ainda editou Todos os Poemas de F. Holderlin numa nova tradução de João Barrento (já existia a de Paulo Quintela, mas cada época tem o seu germanista de serviço), a poesia completa de Sá de Miranda, a prosa completa de Sophia, a ainda poesia completa de Garcilaso de la Vega numa tradução de José Bento... ou seja, são demasiados calhamaços, demasiadas obras completas, excesso de peso poético.


ABYSMO
Miguel Martins - Do lado de fora
Fernando Pessoa - Odi maritimu / Ode maritíma (cabo verde - português)
Luís Miguel Gaspar - As portas de Santo Antão
Ana Freitas Reis - Cordão

AFRONTAMENTO
Amadeu Baptista / Jorge Velhote - Um dia na eternidade

ALAMBIQUE
Inês Francisco Jacob - Maremoto

ARTEFACTO
André Tomé - Tabernáculo

AVERNO
Amalia Bautista - Trevo
Vítor Nogueira - Rés do Chão
José Alberto Oliveira - Sumário
Paulo da Costa Domingos - Cadeiras Vazias
Fátima Maldonado - Sem rastro
António Barahona - Bocca de pedra
Emanuel Jorge Botelho - Manual dos dias cavos

ASSÍRIO & ALVIM
António Franco Alexandre - Poemas
Friedrich Holderlin - Todos os Poemas (trad. João Barrento)
Sophia de Mello Breyner Andresen - Prosa
Kamo no Chomei - Hojoki - reflexões da minha cabana (trad. Jorge de Sousa Braga)
AA VV - Resistir do Tempo (antologia de poesia catalã)
Francisco Sá de Miranda - Obra completa
Daniel Faria - Sétimo Dia
Daniel Jonas - Cães de chuva
Marta Chaves - Avalanche
Ana Luísa Amaral - Mundo
Pedro Eiras - Purgatório
Luís Quintais - Ângulo Morto
Masaoka Shiki - Aves dormindo enquanto flutuam (trad. Joaquim M. Palma)
Adília Lopes - Dobra (Poesia reunida)
José Tolentino Mendonça - A noite abre meus olhos (Poesia reunida)
José Tolentino Mendonça - Introdução à pintura rupestre
Luís Filipe de Castro Mendes - Voltar
Jorge de Sena - Coroa da terra
Jorge de Sena - Perseguição
Garcilaso de la Vega - Poesia Completa (trad. José Bento)
Safo - Poemas e fragmentos (trad. Eugénio de Andrade)

BARCO BÊBADO
Gregory Corso - Gasolina (trad de Hugo Pinto Santos)
Michel Mc Aloram - No indistinto esquecido(s) (trad. de Jorge Pereirinha Pires)
Pier Paolo Pasolini - Who is me - Poeta das Cinzas (trad. Ana Isabel Soares; pref. Rosa Maria Martelo)
Paulo da Costa Domingos - Neve sobre a roseira
Maria Jesus Echevarria - Poemas da cidade (trad. Paulo da Costa Domingos)
Paul Éluard - A cama a mesa
Rui Baião - STRANGVLATORIVM

CONTRACAPA
AA VV - O destino da árvore é transformar-se em papel (antologia de poesia sueca, trad. Amadeu Baptista)
AA VV - O mundo adormecido espera impaciente (antologia da poesia finlandesa)
AA VV - Sonhador adormecido e perpétua insónia (trad. e sel. Seguenail e Regina Guimães)
Zetho Gonçalves - Transversões [poemas reescritos em Português]
AA VV - Um pouco do meu sangue (antologia da poesia italiana) (sel. e trad. João Coles)

COMPANHIA DAS ILHAS
Cláudia Lucas Chéu- Beber pela garrafa
Alámo de Oliveira - Versos todas as luas (Poesia reunida)
Mário T. Cabral - O livro dos anjos
Catarina Costa - O vale da estranheza

DO LADO ESQUERDO
Gemma Gorga - O anjo da chuva (trad. de Miguel Filipe Mochila)
Jane Hirshfield - Uma cadeira à neve (trad. Francisco José Craveiro Carvalho)

DOUDA CORRERIA
Helena Costa Carvalho - Núbil
Tiago Lança - Entre campos
Rafaela Jacinto - Fiz uma coisa má
Margalit Matitiahu - As portas da união (trad. Susana Mateus / Miguel Jesus
Mauro Filipe da Silva Pinto - Poeta professor de educação física
Nuno Moura - Cordas veias
Miguel Loureiro - O longo peido da sequóia (pref. Pedro Mexia)
Ana Joaquim - Whatsapp p/ bitches
Inácio Luís - Qualquer coisa com algo da mesma espécie
Luís Fazendeiro - Manifesto cibernético-naturalista
Regina Guimarães / Alexandra Ramirez - Os rapazes também pintam o cabelo
Rafaela Jacinto - Regime (2º ed)
Linda Pastan - Estes anos a desaparecerem (trad. Francisco Carvalho)
Ana Martins Marques - Linha de rebentação
Angélica Freitas - Um útero é do tamanho de um punho
Wilson Alves Bezerra - Necromancia tropical (pref. Luís Maffei)
Dinis Lapa - Barbabélico
Beatriz Regina Guimarães Barbosa - Querides Monstres
Mordechai Gelman - Teoria do um e outros poemas (trad. João Paulo Esteves da Silva)

EDIÇÕES DO SAGUÃO
Rui Pires Cabral - Tense Drills
Cesare Pavese - Virá a morte e terá os teus olhos (trad. Rui Caeiro e Rui Miguel Ribeiro)
António Aragão - Obra (Re)Encontrada [Poesia reunida]
Alberto Pimenta - Ilhíada

EXCLAMAÇÃO
Isabel de Sá - A Alegria da Dúvida (antologia org. por Graça Martins)

FLAN DE TAL
Jorge Aguiar de Oliveira - Criptório
Beatriz de Almeida Rodrigues - Manganês
Regina Guimarães - Elo
Ana Pessoa - Fósforo
AA VV - Já não dá para ser moderno: seis poetas de agora

FRESCA
Miguel Royo - Na pedra a luz afia o gume
Gabriela Gomes - Língua-mãe
Maria Brás Ferreira - Rasura

GLACIAR
Albano Martins - Por ti eu daria [Poesia completa]

IMPRENSA NACIONAL - CASA DA MOEDA
Dante Alighieri - Divina Comédia (Trad. de Jorge Vaz de Carvalho
Paulo Henriques Britto - Por ora Poesia 
Guiseppe Ungaretti - Vida de um Homem - Toda a Poesia (trad. Vasco Gato)

LÍNGUA MORTA
AA VV - Os ossos do meu duplo (trad. Diogo Vaz Pinto, Sel. Luís Filipe Parrado)
Rui Ângelo Araújo - Villa Juliana
Tomás Sottomayor - Auberge Ravoux
Ricardo Rizzo - Estudo para um herói vazio
Armando Silva Carvalho - O país das minhas vísceras (Ap. e Sel. José Manuel Vasconcelos)
Miguel d´Ors - O fiasco perfeito (trad. e ap. Luís Pedroso)
Luís Filipe Parrado - Roma não perdoa a traidores
Luís Cernuda - Ocnos (trad. e ap. Miguel Filipe Mochila)
Manuel Resende (trad) - A Grécia de que falas - antologia de poetas gregos modernos
Vasco Gato (trad. e versões) - Lacrau
Ivone Mendes da Silva - O fulgor instável das magnólias

(NÃO) EDIÇÕES
Ghérasim Luca - Mandado de libertação (trad. Helder Moura Pereira)
Ederval Fernandes - Novas ofertas de emprego para Ederval Fernandes
José Pedro Moreira - Por favor não dê de comer aos unicórnios
Duarte Drummund Braga - Os sininhos do inferno
Anne Carson - Vidro, Ironia e Deus (trad. Tatiana Faia)
Rosa Oliveira - Desvio-me da bala que chega todos os dias

 OFFICIUM LECTIONIS
Jorge Melícias - Uma entoação sobre o fogo
Fernando Castro Branco - De coração aberto
Frei Agostinho da Cruz - N´ Alma Escrito
José Rui Teixeira - Como um ofício
Fernando Castro Branco - Poesia (2011.2016)
Eduardo Quina - Consanguineo
Guilherme de Faria - Saudade Minha (poesias reunidas)
António Hartwich Nunes - O livro de Ohio (2ª ed.)
Carlos Alberto Braga - A voz de todas as coisas
Rui Nunes - No íntimo de uma gramática morta
Valter Hugo Mãe - Díptico de prédica
Miriam Reyes - Bela Adormecida (trad. Pedro Sena-Lino)
Sandra Costa - Manual da vida breve (Poesia reunida 2003-2021)
José António Ramos Sucre - Insónia (org. José Rui Teixeira, trad. J. Melícias)
Genaro da Silva - O pintor cego
Rui Nunes - A margem de um livro (2ª ed)
Maria Eulália de Macedo - O meu chão é de vertigem

OUTRO MODO EDITORA
AA VV - Outros tons de azul. Poesia política alemã do século XX (org. e trad. João Barrento) 

PORTO EDITORA
António Cabrita - Tristia (um díptico e meio)
Artur Cruzeiro Seixas - Obra Poética III (org. Isabel Meyrelles)

PUBLICAÇÕES D. QUIXOTE
Maria Teresa Horta - Paixão

RELÓGIO D´ ÁGUA
Joaquim Manuel Magalhães - Canoagem
José Gardeazabal - Viver feliz lá fora
Louise Gluck - Ararate (trad. Margarida Vale de Gato)
Louise Gluck - Vita Nova (trad. Ana Luísa Amaral)
Louise Gluck - Uma vida na aldeia (trad. Frederico Pedreira)

SNOB
Marcos Foz - Vaca Preta

TINTA DA CHINA
Jorge Gomes Miranda - Nova Identidade
Margarida Vale de Gato - Atirar para o torto
A. M. Pires Cabral - Caderneta de Lembranças
João Pedro Gravato Dias - Odes Didácticas
AA VV - Poetas de Dante (org. Alberto Manguel)

VOLTA D´ MAR
João Alexandre Lopes - Porta do fogos
Maria F. Roldão - Pequeno sangue
AA VV - Falar dele no céu de uma paisagem - poemas para Mário Botas
Amadeu Baptista - Luz possível

UMA SELECÇÃO (ENSAIO, FICÇÃO, POESIA & OUTROS)
Guy Debord - Comentários sobre a sociedade do espectáculo (Antígona, trad. Júlio Henriques)
Piotr Kropotkine - O Apoio Mútuo (Antígona, trad. Miguel Serras Pereira)
Humberto Brito - A interrupção dos sonhos - ensaios sobre Fernando Pessoa
António Guerreiro - Zonas de baixa pressão (Ed. 70)
Silvina Rodrigues Lopes - O nascer do mundo nas suas passagens (Ed. Saguão)
Maria Filomena Molder - 3 Conferências (Ed. Saguão)
Maria Filomena Molder - A arquitectura é um gesto (Sr. Teste)
Alexandra Carita - Dizer o mundo - conversas com Rui Nunes e Paulo Nozolino (Relógio d' Água)
Edward W. Said - Orientalismo - representações ocidentais do oriente (Ed. 70)
Seb Falk - A Idade Média - A verdadeira idade das luzes (Bertrand)

George Orwell - 1984 (várias editoras)
Sara Mesa - Um amor (Relógio d´Água, trad. Miguel Serras Pereira)
Teolinda Gersão - Regresso de Julia Mann a Paraty (Porto Editora)
Ana Teresa Pereira - Como se o mundo não existisse (Relógio d´Água)
Cesare Pavese - O Belo Verão (Livros do Brasil)
António Ferro - Ficção (E-Primatur)
Teresa Veiga - O senhor d´ além (Tinta da China)

Marcos Foz - Vaca Fria (Snob)
Joaquim Manuel Magalhães - Canoagem (Relógio d' Água)
José Gardeazabal - Viver feliz lá fora (Relógio d' Água)
Albano Martins - Por ti eu daria (Glaciar, Poesia completa)
António Aragão - Obra (Re)Encontrada
Isabel de Sá - A  Alegria da Dúvida (org. Graça Martins; Exclamação)
Adília Lopes - Dobra (poesia reunida) (Assírio & Alvim)
Kamo no Chomei - Hojoni - reflexões da minha cabana (Assírio & Alvim)
António Franco Alexandre - Poemas (Assírio & Alvim)
Fátima Maldonado - Sem Rasto (Averno; Poesia reunida) 

Sylvia Plath - Diários 1950-1962 (Relógio d' Água)
Gonçalo M. Tavares - Diário da Peste (Relógio d' Água)
Witold Gombrowicz - Diário (1953-1958) (Antígona, trad de Teresa Fernandes Swiatkiewicz)


terça-feira, novembro 30, 2021

António Guerreiro - Zonas de baixa pressão

 


Sabemos muito bem como o jornal, que foi em tempos «a oração matinal do homem moderno» (Hegel), tem dificuldade em sobreviver nesta nova economia, com outras solicitações «atencionais». E a indústria do livro só sobrevive à custa de espécies editoriais que não solicitam, em grau elevado, a energia mental da atenção. Em 2004, Patrick Le Lay, director de um canal de televisão francês, a TF1, fez afirmações numa entrevista que chocaram pela sua crueza, mas definem bem o que é a economia da atenção: «Numa perspectiva business, sejamos realistas: no fundamental, a profissão da TF1 consiste em ajudar a Coca-Cola, por exemplo, a vender o seu produto. Ora, para que uma mensagem seja recebida é necessário que o cérebro do espectador esteja disponível. As nossas emissões têm por vocação torná-lo disponível, isto é, diverti-lo e relaxá-lo para o preparar entre duas mensagens. O que vendemos à Coca-Cola é tempo de cérebro disponível.» Estas palavras escandalizaram não por dizerem algo de novo (a não ser aos ingénuos), mas porque literalizam demasiado aquilo que nos tem sido transmitido por eufemismos ou por mediações teóricas com um certo grau de elaboração.

António Guerreiro, Zonas de Baixa Pressão - Crónicas Escolhidas, Edições 70, 2021, p. 32

domingo, outubro 31, 2021

QUADRAS POPULARES (de O Surrealismo na Poesia Portuguesa)

 


Tenho dentro do meu peito
duas escadas de flores:
por uma descem saudades,
por outra sobem amores.

Quando eu morrer, meu amor
(há quem à noite resista?)
mesmo debaixo da terra
quero estar à tua vista.

Se o meu amor fora António
mandava-o engarrafar
em garrafinhas de vidro
para o sol o não queimar

Com um fio de retrós verde
quero, amor, que me cosais
o meu coração ao vosso,
que se não desate mais.

Meu amor, meu amorzinho,
quem te atira mil tiros
com uma pistola de prata
carregada de suspiros!

Os olhos da minha amada
são biquinhos de alfinetes;
fechados são dois botões,
abertos dois ramalhetes.

O meu coração é sala
onde passeia a açucena;
amei-te com tanto gosto,
deixei-te com tanta pena.

No meio daquele mar
está uma cadeira de vidro
onde o meu amor se assenta
quando vem falar comigo.

Eu tenho dentro do peito
um canivete dourado
para cortar o pão da lua
no dia do meu noivado.

(De O Surrealismo na Poesia Portuguesa, organização, prefácio e notas de Natália Correia, ed. Frenesi, 2002, pp.103-105)

quinta-feira, setembro 30, 2021

Rosa Alice Branco



 Tiro lume das gavetas. É o primeiro dia
de outono. E os anos que estão no fundo.
Antes não era eu. Era a casa em construção.
Eu antes de mim. Agora desmantelo o verão,
os vestidos que voam, os pés nus ao lado do vestido.
O tempo perde-se na mudança das estações
e nesta perda alguém existe em mim.
Uma voz ri-se no fundo do armário.
O sol tão baixo, na última gaveta.

(de Desfocados pelo vento - A poesia dos anos 80 e agora, org. e selecção de valter hugo mãe, quasi, Famalicão, 2004, p. 284)