Tiro lume das gavetas. É o primeiro dia
de outono. E os anos que estão no fundo.
Antes não era eu. Era a casa em construção.
Eu antes de mim. Agora desmantelo o verão,
os vestidos que voam, os pés nus ao lado do vestido.
O tempo perde-se na mudança das estações
e nesta perda alguém existe em mim.
Uma voz ri-se no fundo do armário.
O sol tão baixo, na última gaveta.
(de Desfocados pelo vento - A poesia dos anos 80 e agora, org. e selecção de valter hugo mãe, quasi, Famalicão, 2004, p. 284)
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