sábado, junho 18, 2011

ASSALTO AO PODER





Quando Pedro Passos Coelho sucedeu, no início de 2010, a Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD, e Portugal estava ainda longe de pedir ajuda externa mas já na mira das agências de rating e dos seus interesses ocultos, o actual primeiro-ministro indigitado colocou-se à disposição de colaborar com o governo de Sócrates. Durou pouco tempo o par de tango. Passos abandonou a postura de estado que a situação exigia e iniciou a ascensão para ocupar o cargo dos seus sonhos, ser primeiro-ministro. Em Novembro, aquando da aprovação do Orçamento de Estado, o país ficou pendente da decisão do líder do PSD. Passos mostrava a sua força, encurralando Sócrates e dando sinais para o exterior de uma previsível crise política. Os juros da divida pública subiam à medida que as agências de rating iam desvalorizando Portugal. Já este ano, em Fevereiro, o BE apresentou uma moção de censura que o PSD não votou. Mas Passos não perdeu por esperar: aproveitando a aprovação do PEC IV retirou legitimidade política a Sócrates, levando-o à demissão. Enquanto na imprensa estrangeira escrevia que o PEC IV era insuficiente, internamente criticava as duras medidas do Plano de Estabilidade. A inviabilização do PEC IV levou a uma subida insustentável dos juros da divida externa e ao consequente pedido de ajuda externa pelo governo de gestão.
Para ser primeiro-ministro Passos Coelho apenas tinha que se manter na liderança do PSD e criar uma situação que levasse a eleições antecipadas. Ao projecto pessoal de Passos juntaram-se uma série de interesses económicos e financeiros que a participam de Belmiro de Azevedo num dos últimos comícios do PSD resume. Passos Coelho chegou ao poder e para isso atirou com o país ao tapete. É num jogo bastante perigoso que a direita ultraliberal e os grandes interesses económicos estão a lançar Portugal: o da bancarrota. Mas é também perante a perspectiva da bancarrota, perante esta ameaça, que a direita se prepara para transformar Portugal, fazendo regredir as políticas sociais ao nível do Estado Novo. Este governo, cujos ministros foram agora anunciados, é o exterminador do estado social. Veja-se o caso do ministro da saúde: Paulo Macedo é um eficaz quadro do BCP (tão eficaz que era um dos nomes apontado para a pasta principal do governo, as finanças) onde administrava a principal seguradora médica portuguesa, a Médis. Ora esta nomeação de um administrador de uma seguradora no ramo da saúde para ministro da saúde deveria levantar logo um problema ético. Mais: deveria existir legislação para impedir esta promiscuidade entre pessoas que representam interesses privados e depois passam, como governantes, a ter capacidades de decisão política na área de interesse que representavam. Mas a missão de Paulo Macedo é acabar com SNS, assim como a de Pedro Mota Soares (ministro da solidariedade e segurança social, CDS) é acabar com o rendimento social de inserção, e a missão de Álvaro Santos Pereira (economia e emprego) é facilitar ao máximo os despedimentos (algo aliás exigido pela troika).
Pedro Passos Coelho conseguiu realizar o seu sonho de criança. Ao Financial Times não hesitou em dizer que os próximos anos serão terríveis. Em breve os portugueses que votaram PSD vão arrepender-se de o terem feito e vão sussurrar de novo a ladainha dos políticos “que o que querem é tacho”. Sussurrar ou gritar, faz toda a diferença. Porque a partir de agora a política vai estar na rua, nos espaços públicos. Contra a ditadura da troika, contra um governo que pretende ir além das medidas dessa ditadura.

(A imagem foi retirada de
http://antonio-mp.blogspot.com/2010_05_01_archive.html)

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