Quando eu
andava no que hoje é o actual 5º ano, existia na minha turma um rapaz que
queria ser Presidente da República. Esta resposta, dada na sala aula era, claro,
motivo de chacota. Mas creio que um professor, mais alerta para os reveses da
vida, não terá descartado de todo a possibilidade, embora se tratasse do pior
aluno da turma. Não sei por onde anda esse meu antigo colega, mas deverá ter
ficado pela agricultura. Mais ou menos por essa mesma altura, um jovem já
envolvido na política partidária, ao ver o grupo As Doces decidiu que haveria
de casar com uma delas – e consegui. Passou à realidade o que deveria ser uma
fantasia de muitos homens na época. Creio que esse jovem, já nessa altura,
sonhava ser primeiro-ministro e talvez também Presidente da República. Esse
jovem, agora perto dos cinquenta, é desde há dois anos primeiro-ministro de
Portugal. E conseguiu ser mais que primeiro-ministro. Pedro Passos Coelho
ficará na História de Portugal como o pior primeiro-ministro de sempre (abre-se
uma excepção para Salazar, naturalmente), como aquele que executou um programa
de destruição do país, ordenado por interesses mais ou menos obscuros,
representados pela troika e pela Alemanha. Mas na ganância do poder quis “ir
além da troika”, empobrecer Portugal, estrangular a economia. E, com a preciosa
ajuda de Vítor Gaspar, como exterminador implacável da economia portuguesa, e o
silencioso apoio do “palhaço” Cavaco, conseguiu o seu objectivo.
Nos últimos
dois dias tudo se desmoronou com a demissão de Gaspar e depois de Paulo Portas.
Ontem, nas televisões, Coelho fazia lembrar um general de Saddan Hussein que
quando as tropas americanas já estavam em Bagdade insistia em dizer que tudo
permanecia na mesma. O “não me demito” de Coelho faz parte já de um
negacionismo da realidade que raia o psicótico ou a tragicomédia de um filme
muito muito mau. A apoiar tudo isto está a múmia presidencial. Perante esta
situação, de nada vale invocar os mercados – esses “deuses”, para quem Coelho,
Gaspar e Cavaco sacrificaram a vida dos portugueses durante dois anos, não são
tão estúpidos como parecem, e muito menos misericordiosos. Implacáveis estão a
vender tudo que é produto financeiro português. A manutenção deste governo (?)
de nada serve; a batata quente está nas mãos do presidente.
É necessário
dizer, redizer, que, desde o 25 de Abril, nunca um governo faz tão mal aos portugueses.
E mesmo agora, na hora que está prestes a sair de cena insiste em complicar as
coisas, em fazer mais mal. Nunca um governo teve um primeiro-ministro tão
estúpido, tão incapaz; nunca um primeiro-ministro mentiu tanto, tão
colossalmente, entre aquilo que prometeu em campanha eleitoral e o que fez
depois.
É agora
altura de regressar à política e mostrar que os mercados são deuses com pés de
barro. Mas essa é a mais difícil das tarefas, para a qual não servem pessoas
inseguras.
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