No programa Prós &
Contras de ontem, o último antes do Mundial e das férias, não se discutiu a
disputa no PS pelo lugar de secretário-geral, nem o chumbo do OE pelo Tribunal
Constitucional, nem as Eleições Europeias (onde apareceu a ameaça da
extrema-direita, entre outros sintomas). Não, nada disso, isso são questões de
somenos perante o tema que estava em discussão e que faz salivar os jornalistas
como o cão de Pavlov: o celibato dos padres, ou melhor, a sexualidade dos
padres, ou, para ser mais exacto com as palavras da apresentadora e
coordenadora do programa, Fátima Campos Ferreira, “a genitalidade dos padres”
da Igreja Católica. O assunto, é certo, foi levantado pelo papa Chico. Mas o
tema é recorrente por parte dos meios de comunicação social. Como um cão (pode
ser o de Pavlov) que não larga um osso, assim os jornalistas não largam a
Igreja católica em relação a assuntos de sexualidade. A isto chama-se agenda
setting: um assunto é de tal forma agendado pelos média que estes acabam por
ter influência nesse mesmo assunto. Um exemplo disso foi a invasão de
Timor-Leste pela Indonésia – a partir das imagens do massacre de timorenses num
cemitério os média internacionais acordaram para a situação de opressão que se
vivia em Timor. A independência de Timor-Leste ficou a dever-se em grande parte
à coragem de alguns jornalistas. Por vezes, raras, o jornalismo ainda vale a
pena, pode ajudar a criar um mundo com menos injustiça. Mas no caso da
genitalidade dos padres, que têm os jornalistas a ver com o caso? Porque razão
querem os jornalistas imiscuir-se na sexualidade dos padres? Não é isso um
problema da Igreja? Pela atitude tomada por jornalistas como Fátima Campos
Ferreira não é. Uma das grandes preocupações dos jornalistas é libertar os
padres do espartilho do celibato. A isto não é alheio um ambiente que desde os
anos 60 do século passado se vive – o de uma alegada libertação sexual, em que
o sexo se torna rei. Que essa libertação, e os agentes dessa libertação
(jornalistas, sexólogos, etc), não saibam distinguir entre sagrado e profano,
mostra o carácter acéfalo dessa mesma alegada libertação.
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