1, A Itália tomou esta semana conta da presidência
rotativa da União Europeia. Essa Itália que também tem sido vítima da
austeridade e do endeusamento dos bancos, tem há já algum tempo um novo primeiro-ministro,
Matteo Renzi. Renzi, eleito pelo PD, Partido Democrático – a actual esquerda
democrática italiana –, fez esta semana um assertivo discurso no parlamento
europeu. O Bundesbank, embora não tenha sido referido directamente no discurso
de Renzi, achou-se atingido e respondeu. Muitos outros se sentiram atingidos na
sua impunidade de gangsters – Mr. Barroso entre outros. Renzi, que até há pouco
tempo era autarca de Florença, pegou em palavras como estabilidade e
crescimento e devolveu-lhes o sentido que os vendilhões do templo adulteraram. É,
ao contrário de Hollande, uma promessa para esta europa que perdeu os seus
referentes éticos.
2, É precisamente das palavras que se fazia o
mundo de Sophia de Mello Breyner Andresen. A autora de O Nome das Coisas morreu há 10 anos e o seu corpo foi trasladado
para o panteão nacional. Para além da intervenção política de Sophia, como
deputada pelo PS à Assembleia Constituinte, fica a sua poesia que é uma
presença iluminante. Sophia foi demasiado inteira para um mundo tão mesquinho.
O que diria dos tempos sombrios que vivemos? Será que a cerimónia da sua
entrada no panteão nacional, onde discursaram os mais altos representantes da
nação, não foi um ultraje? Porque as palavras de Cavaco e Passos (ou dos
assessores que lhes escreveram os discursos de circunstância) são as palavras
do “demagogo” como a própria Sophia escreveu no poema “Com fúria e raiva”: “Com
fúria e raiva acuso o demagogo / E o seu capitalismo das palavras // Pois é
preciso saber que a palavra é sagrada”. A poesia é o lugar do despoder, para utilizar o neologismo de
Roland Barthes, por isso talvez a trasladação do corpo de Sophia de Mello Breyner
Andresen para o panteão nacional não terá sido uma boa ideia.
3, O demagogo, no sentido que Sophia lhe dá,
tem sido nas últimas décadas, no cenário da política nacional, o actual
Presidente da República – embora nos últimos três anos, especialmente, tenham
proliferado de forma inusitada demagogos. É com bastante dificuldade que Cavaco
Silva tenta terminar o seu mandato. Na semana passada humilhou os portugueses
que diz representar ao afirmar perante o presidente da Alemanha que “apendemos
a lição dos últimos anos”. Esta semana convocou o Conselho de Estado. Cavaco,
co-responsável pela destruição do país, não aprende. O seu lugar na história
será o do pior Presidente da República depois do 25 de Abril.
4, Numa sociedade onde a economia tomou o
lugar da teologia, um banco é uma Igreja. Isto aplica-se com precisão
terminológica ao BES. O Banco Espírito Santo, propriedade há muitas décadas da
família Espírito Santo passou por uma série de turbulências. Primeiro pelo
controlo do banco entre facções da família e depois por uma abrupta queda na
bolsa. Como resultado a família Espírito Santo ficou sem o controlo do banco.
Solução: o novo presidente ou CEO do BES é alguém da confiança de Cavaco e
Passos – Vítor Bento. Bento é também conselheiro de Estado e acha que “vivemos
acima das nossas possibilidades” e defende o pagamento da dívida portuguesa na
íntegra. Mas será que também defende que a família Espírito Santo pague a sua
dívida de quase mil milhões de euros na íntegra? A S&P, uma das agências de
rating que levou o governo de
Sócrates a pedir “ajuda financeira”, tem dúvidas que os Espírito Santo paguem.
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