Vesti-me sempre com as roupas de um primo
da irmã mais velha
ou do último amor
Assim sou-lhes leal:
os dedos através dos bolsos
aflorando o sexo, a nuca
beijada de borboto, o hálito
suspenso nas golas da camisa
Com eles tropeço
na estreiteza das coxas, como cavalos
dormimos juntos no mesmo disfarce
Nada em mim cresce de que não sejam a forma
Nada obsceno
que as suas roupas usadas não cubram
*
Rachado o tronco - ardida a lenha
desabrido o lugar de onde vinha
a melodia se assim
puder chamar os nomes
redondos que em lembrança
a boca esgota
pergunto
(a textura omissa do pomar)
a que fruto dar, agora, atenção desmedida
*
BREAKING THE WAVES
Deus existe
Quer estar sozinho, suprimiu
os sinos e os ladrilhos mais sonoros
e às mulheres, para não parecer
quem é, sacode antes de entrar
os cascos sujos
Andreia C. Faria, Flúor, Textura, 2013, pp. 8, 38 e 55.
Andreia C. Faria estreou-se com o livro de poesia De haver relento (Cosmorama, 2008). Flúor é o seu segundo livro. Venceu em 2013 o Prémio Jovens Criadores. A sua poesia, desalinhada de estéticas grupais, em Flúor atinge uma grande qualidade. Uma poeta a ter em atenção para o século XXI.
1 comentário:
Gostei muito!
Quem me dera escrever assim,nesta poesia onde as palavras parecem despojadas de sentimentos.
Enviar um comentário