Vítor Silva Tavares era um dos
últimos editores portugueses. Talvez aquele que representasse, ainda, o que era
um editor – uma espécie em sérias vias de extinção, perante a lógica mercantil
que preside à edição como qualquer produto de super-mercado. VST editou, ao
longo de mais de quarenta, anos autores como Herberto Herder, Gastão Cruz,
Fiama, Alberto Pimenta ou os mais recentes Adília Lopes, Manuel de Freitas,
José Miguel Silva, mas também autores quase desconhecidos. Numa entrevista
assume ter editado um autor para evitar um suicídio, colocando muito
naturalmente a vida à frente da arte. Ficou ligado, indissoluvelmente, à &
etc, a editora onde os livros tinham um tratamento gráfico especial. Vítor
Silva Tavares (e a & etc) era mais que um editor marginal ou maldito. É
certo a sua preferência pela edição de autores ligados a uma estética
surrealista ou provocadora – e tudo isso fazia parte do seu programa de vida e
edição. Mas a riqueza do catálogo da & etc é enorme. Preferiu a poesia ou a
prosa dos poetas, por vezes também o ensaio, a tradução – tudo num esmero único,
onde não faltava a colaboração de alguns dos principais artistas gráficos. Nos
últimos tempos foi-lhe dado algum reconhecimento: documentários que circulam
pela net, um livro sobre a & etc. Ele próprio, depois de publicar tantos
poetas, publicou os seus versos numa pequena e artesanal editora do Porto, a 50
kg, "Púsias". Deixa um exemplo que se foi renovando noutras pequenas editoras.
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