A obra de Ana teresa Pereira é singular na
literatura portuguesa. E na literatura de língua portuguesa. Talvez por isso o
júri do prémio Oceanos (que se destina a obras de literatura portuguesa e
brasileira, com um júri maioritariamente brasileiro) foi este ano para Ana
Teresa Pereira pelo seu livro Karen. O prémio é justo mas pode causar admiração
se tivermos em conta que Ana Teresa Pereira ainda não está publicada no Brasil.
Depois de já ter vencido o grande prémio de romance e novela da APE, este é
mais um prémio de consagração numa obra, ou “obra-mundo” como lhe chamou o
ensaísta Fernando Guerreiro, de uma extraordinária idiossincrasia.
Começando em 1989, na então colecção de bolso
da Caminho, com o já aparente policial Matar a imagem, Ana Teresa Pereira vem
seguindo um percurso em que os seus romances e novelas são marcados por uma
escrita obsessiva, como se estivesse sempre a escrever o mesmo livro (a exemplo
de uma Duras), marcado por uma profícua relação com outras artes: pintura,
cinema, teatro e obviamente uma forte intertextualidade com autores clássicos
do policial, mas também outros como Rilke ou Iris Murdoch. Ao já referido não é
alheia uma relação com a filosofia e principalmente com a psicanálise (vejam-se
os livros Num Lugar Solitário e Rosas Mortas). Há um tema central em Ana Teresa
Pereira, como bem viu num ensaio sobre a sua obra Rui Magalhães: o medo. O
Labirinto do Medo. É disso que se tece certa literatura, mas em Ana Teresa Pereira
ganha outras dimensões ontológicas. Escrita em português, a obra da autora de
Karen, quase nenhuma (ou mesmo nenhuma) relação mantém com a literatura
portuguesa. O Mundo de Ana Teresa Pereira é predominantemente anglo-saxónico,
com títulos, nomes de personagens e locais de acção referindo-se à Inglaterra.
Mas nada disto impede que a escrita da autora madeirense seja das mais
criativas da actual literatura portuguesa.
Agora os brasileiros vão poder descobrir Ana
Teresa Pereira, e um dia esta obra – já longa – poderá chegar ao mundo de
língua inglesa.
O terceiro prémio atribuído pelo júri (que
integrava o crítico literário português António Guerreiro) foi atribuído ao
livro Golpe de Teatro do poeta Helder Moura Pereira e o quarto lugar à
escritora e poetisa Maria Teresa Horta pelo livro Anunciações.
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