A ideia do PS, plasmada no OE para 2019, de
reutilização dos manuais escolares é uma ideia estúpida e sintomática de uma
concepção de escola como um processo burocrático, ou um depósito de crianças e
adolescentes. Diferente da ideia do PS era o projecto apresentado pelo PCP, que
previa a dádiva pelo Estado aos alunos dos manuais sem que estes tivessem de
ser entregues no final do ano lectivo. Mas isso seria um desperdício que Mário Centeno
não poderia permitir.
Sobre os manuais escolares, deve dizer-se que
foram sempre uma forma de aproveitamento económico por parte das editoras que
os publicam – como é o caso da Porto Editora, que sendo a maior editora,
durante anos, a editar manuais escolares, se tornou, agora, no maior grupo
editorial e livreiro do país. Esse aproveitamento consiste no uso de papéis
caros, no uso abundante da cor, o que encarece o manual, e faz com que os
livros escolares pesem mais que os outros livros, tendo as crianças e
adolescentes que transportar um peso significativo nas mochilas. Ou seja, os
manuais escolares apresentam-se como livros de arte, ou enciclopédias
ilustradas. Daqui resulta que as primeiras experiências, na generalidade, com o
livro, por parte das crianças, não são boas. Não só pela questão do peso, mas
sobretudo porque os livros apresentam um saber, incipiente, muitas vezes
marcado ideologicamente, que vai ser objecto de um exame, sob cuja performance
é atribuída uma nota ao aluno. É assim que toda a possibilidade de pulsão
epistemofílica, de interesse pelo saber, é castrada pela escola.
Ora, o deficiente saber, o saber deturpado,
mas ainda uma narrativa de um saber, uma possibilidade do reaparecimento da
pulsão epistemofílica – mesmo por outros membros da família – fica amputado
quando os manuais escolares são devolvidos para reutilização. Porque em muitas
casas portuguesas os únicos livros que existem são, por obrigação, os manuais
escolares. Se tivermos em conta os dados recentemente divulgados, que dizem que
os filhos das famílias mais pobres vão para os cursos com menos prestígio (os
dos politécnicos), temos a evidência prática da política dos manuais reutilizáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário