O semanário
Expresso da passada sexta-feira, 24, trazia como manchete uma sondagem que
indicava que 69 por cento dos portugueses não eram capazes de nomear nenhum
candidato às eleições Europeias do passado Domingo. Ora, foi sensivelmente este
o número da abstenção destas eleições, um número que se tomarmos por correcto
constitui o recorde da abstenção em eleições desde o 25 de Abril (Luís
Aguiar-Conraria, no Público de dia 29, serve-se de um outro argumento, os
portugueses que residem no estrangeiro, e cuja taxa de abstenção “perfeitamente
normal” foi de 99 por cento, para fazer umas estranhas contas que colocariam a
abstenção na ordem dos 60 por cento).
Da citada manchete do Expresso infere-se um provável nexo de
causalidade: os portugueses que não sabiam quem eram os candidatos não foram
votar. É justo. Porque, embora o voto seja universal para todos os cidadãos
maiores de 18 anos, não faz sentido que alguém que não tem nenhuma noção dos
programas dos partidos, ou sequer não sabe o que é o Parlamento Europeu, ou que
as eleições Europeias foram para o Parlamento Europeu, vá exercer o seu “direito”/”dever
de voto”. E aqui estamos perante um assunto que é urgente ser discutido: literacia política. Levantar a questão
de uma literacia política é levantar a questão de como as instituições se
apresentam no espaço público (e aqui, a UE tem defendido a sua opacidade e
complexidade burocratizante, enquanto os parlamentos nacionais se tornam mais
transparentes com os seus canais televisivos – veja-se a título de exemplo a
audição a Joe Berardo); é, também, questionar como os partidos fazem campanha e
se apresentam aos seus potenciais eleitores; ou ainda – e este item reveste-se
de particular importância – como os meios de comunicação social abordam nos
seus espaços informativos as questões políticas e institucionais; e, não menos
importante, como a escola explica o funcionamento das instituições.
Após o 25 de Abril, e depois com a estabilização democrática, a
democracia representativa tornou-se universal. Na primeira República apenas os
homens alfabetizados e os chefes de família podiam votar (curiosamente uma
mulher, Carolina Beatriz Ângelo, médica e viúva, invocando a sua condição de
chefe de família, conseguiu votar, tornando-se num caso absolutamente
excepcional até às eleições de 25 de Abril de 1975 para a Assembleia
Constituinte, onde as mulheres puderam votar pela primeira vez). Hoje, nas
democracias representativas ocidentais a taxa de abstenção ronda os 50 por
cento – foi também esta a taxa de abstenção média destas eleições tendo em
conta o conjunto dos (ainda) 28 estados membros da UE.
Mas, em Portugal, a abstenção para as eleições Europeias, desde a
década de 90 do século passado, apresenta números superiores aos 60 por cento,
sendo as eleições com maior taxa de abstenção. Porque razão isto ocorre? Uma
das possíveis explicações, alinhadas com outros países chamados eurocépticos,
como é o caso da Grã-Bretanha que tenta sair da União Europeia, é a que os não
votantes nas eleições Europeias em Portugal o fazem pelas mesmas razões que os
ingleses quiseram, em referendo, o Brexit. Não me parece que seja essa a razão.
A razão para o não voto dos portugueses, em particular nestas últimas
Europeias, creio que se prende com a opacidade institucional da UE. Esta falta
de transparência da UE só pode ser mudada por dentro, e o bom resultado que os
partidos de tendência ecologista obtiveram, embora ainda insuficiente, pode
servir para diminuir o peso que os partidos do centro, burocratizantes, têm no
Parlamento Europeu. Mas há razões específicas para a existência desta maioria
silenciosa: 1, a desconfiança em relação à UE terá aumentado depois da
intervenção da troika em Portugal, que era constituída pelo BCE e pela Comissão
Europeia; 2, um divórcio em relação à política portuguesa que foi caracterizada
nos últimos tempos por uma austeridade encapotada, com cortes promovidos pelo
ministro das finanças, Mário Centeno, que é ao mesmo tempo o presidente do
Eurogrupo. Esse divórcio acentuou-se com o descaramento da banca e dos grandes
devedores de que a audição a Joe Berardo no Parlamento foi paradigmática: como
se pode compreender que o Estado tenha emprestado milhares de milhões de euros
(cerca de 20 milhares de milhão) á banca para esta emprestar a estes
multimilionários sem nenhumas garantias, em operações obscuras. E como se pode
perceber que a mesma banca seja tão implacável para com aqueles que em
dificuldades, vítimas da crise, desempregados, perderam a casa sob a qual
tinham contraído empréstimo bancário? Daqui resulta, como estamos a assistir,
um braço de ferro entre a banca (cujo Banco de Portugal supremamente
representa) e o parlamento. Porque os políticos portugueses sabem que esta
situação se tornou intolerável, e terá repercussões nas legislativas de Outubro
próximo. Se, como escrevia o poeta e jornalista Eduardo Guerra Carneiro, “isto
anda tudo ligado”, não podemos descartar a influência da audição parlamentar a
Joe Berardo nos resultados das eleições Europeias.
1 comentário:
PS, PSD, PCP, CDS, BE é tudo pessoal da quadrilha cheque-em-branco.
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(manifesto em divulgação)
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URGE DIZER NÃO À QUADRILHA DE POLÍTICOS CHEQUE-EM-BRANCO.
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Leia-se, DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA (o Direito ao veto de quem Paga):
- isto é, votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
-» Explicando melhor, o contribuinte deve reivindicar que os políticos apresentem as suas mais variadas ideias de governação caso a caso, situação a situação, (e respectivas consequências)... de forma a que... o contribuinte/consumidor esteja dotado de um elevado poder negocial!!!
-» Dito de outra maneira: são necessários mais e melhores canais de transparência!
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Exemplo:
- Todos os gastos do Estado [despesas públicas superiores, por exemplo a 1 milhão (nota: para que o contribuinte não seja atafulhado com casos-bagatela)], e que não sejam considerados de «Prioridade Absoluta» [nota: a definir...], devem estar disponíveis para ser vetados durante 96 horas pelos contribuintes na internet num "Portal dos Referendos"... aonde qualquer cidadão maior de idade poderá entrar e participar.
-» Para vetar [ou reactivar] um gasto do Estado deverão ser necessários 100 mil votos [ou múltiplos: 200 mil, 300 mil, etc] de contribuintes.
{ver blog « http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/ »}
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Uma nota: a Democracia Directa não tem interesse - serve é para atafulhar o contribuinte com casos-bagatela.
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Prédio Coutinho: 35 milhões para demolir um edifício (pois, uma negociata para pessoal amigo da construção civil)... etc, etc, etc... e depois não há dinheiro para salvar milhares de vidas comprando modernas máquinas para usar em medicina.
-» Urge dizer não à quadrilha de políticos cheque-em-branco.
-» Existem pessoas para trabalhar na actividade política sem que os contribuintes lhes passe um cheque-em-branco!...
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