domingo, maio 24, 2009
VICTOR BRAUNER E LUIZA NETO JORGE
UM QUADRO DE BRAUNER
Brauner põe-se a pintar
a procura o fundo apego
do homem à pele do medo
Desfaz as linhas do corpo
como se linhas da mão
dá ao sexo o lugar
que dá à flor
Brauner pinta com a língua
ou outro orgão do amor
o que o braço não podia
tanto é a cor mais dura
com o peso da sabedoria
Mostar um pássaro na mão
é o que Brauner consegue
mas tão somente essa mão
pica no pássaro que a fere
Mostar o orifício oco
da orelha colocada
no lado onde a sentimos
ouvir e morrer calada
sobre o veneno do bico
tentando beijá-lo abri-lo
tentando ouvi-lo escutá-lo
O ser que pode ser
aquilo que Brauner não quer ser
move-se na tela com o medo
de quem perdeu a sombra
num deserto ao meio-dia
uma claustrofobia
do espírito dentro da luz
Luiza Neto Jorge, Poesia, Assírio & Alvim, 1993, pp. 82-83
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário