1, Enquanto uma moda viral (embora por uma
boa causa) faz deste apagado verão uma estação ainda mais silly – a moda das
figuras públicas despejarem um balde de água gelada pela cabeça abaixo, o
terror espalha-se na zona do médio oriente. O chamado IS (Islamic State), que
controla uma já vasta zona do Iraque e da Síria, espalha o terror com mais
eficácia que o fez a Al-Qaeda: um vídeo onde é degolado o jornalista inglês James
Foley demonstra até onde tem crescido o fundamentalismo islâmico. Este
fundamentalismo do IS recruta cidadãos europeus – estima-se que no IS estejam
500 ingleses e 700 franceses. Talvez seja um niilismo mascarado pela sociedade
do espectáculo, onde alguns programas televisivos parecem campos de treino para
estes fundamentalistas (veja-se por exemplo O Poder do Amor, SIC, Domingos à
noite), uma das prováveis géneses deste niilismo. A Europa niilista, entre uma
imbecil e caquéctica sociedade do espectáculo e a especulação dos mercados
financeiros, acaba por ser um viveiro para a angariação de terroristas.
2, Enquanto isto, aqui, em Portugal, na
periferia da Europa, mas pertencendo nós ao, ainda, risível califado do Estado
Islâmico, o nosso califa Passos Coelho vai semeando a miséria e a mentira. É
certo que Coelho não é Abu Bakr al-Baghdadi, o califa, mas numa versão lusa de
brandos costumes, sem cabeças cortadas, tem feito tudo o que lhe permite (e
mesmo o que não permite) o Estado de direito para destruir Portugal e dar cabo
da vida dos portugueses. Pois, enquanto Coelho mentia pela enésima vez que não
ia aumentar os impostos, sabendo-se (por Marques Mendes) do muito possível
aumento do IVA para 24%, o Jornal de Notícias lembrava, na sua edição de ontem,
Domingo, que em Portugal existem 400 mil pessoas desempregadas sem auferir
qualquer subsídio. Como vivem estas pessoas? Porque se calam?
3, James Foley, assassinado barbaramente por
um membro do IS, era um jornalista free-lancer. A ele e a outros corajosos
jornalistas devemos o testemunho do que se passa no mundo. Sem repórteres nas
zonas de guerra as guerras seriam ainda mais selvagens e dessa selvajaria não teríamos
testemunhos. O mundo precisa destes jornalistas, mas também precisa de
jornalistas que procurem a verdade que está ao fim da rua (como no spot da TSF:
“ir ao fim da rua, ir ao fim do mundo”). Ora a imprensa portuguesa – e não só a
portuguesa – passa por uma profunda crise: perda de leitores, despedimentos dos
melhores jornalistas, etc. Veja-se o caso do grupo Controlinveste (detentor do
DN, JN, O Jogo e TSF) de onde foram recentemente despedidos 160 trabalhadores.
O grupo outrora detido maioritariamente por Joaquim Oliveira tem novos
accionistas, entre os quais Luís Montez, genro de Cavaco Silva, e um tal
Mosquito, um empresário angolano. Se numa zona de conflito armado um jornalista
tem imensas dificuldades para desempenhar o seu trabalho, num país como
Portugal a liberdade de imprensa volta a estar em causa por contingências
económicas e leis laborais.
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